Deitei no chão, pouco ligando para a terra e os galhos. Fechei os olhos e me concentrei no barulho da água que corria no riacho próximo. Apenas isso.
Tínhamos voltado para Manaus, para onde tinham ocorrido as festas. Eu conseguira despistar todos e me embrenhar na floresta. Precisava de um tempo...
Estávamos preparando o “funeral” de vovó e das demais Fadas que tinham morrido durante o ataque um dia antes de Esperança – por terem de ficar mudando de lugar, não foi possível enterrá-las antes. Seria ali que vovó seria enterrada. Onde daríamos nosso último adeus. Para todos os efeitos, ela seria cremada. Estaria isso no registro de óbito. Mas, nas tradições das Fadas, somos enterradas em Florestas, plantando uma árvore pra marcar o local. Árvore essa que seria a floresta que diria qual seria. Nós não tínhamos o direito de escolhê-la.
Mas eu não estava preparada. Eu não queria me despedir ainda. E eu sabia que vovó seria enterrada somente comigo presente.
Estendi os braços, como que tentando abraçar a terra. Ouvindo a terra. Sentindo os animais e as plantas se movimentando e crescendo debaixo e ao meu redor.
Eu não estava preparada.
Eu não queria me despedir ainda. Não pra sempre.
Senti tocarem numa de minhas mãos, e abri os olhos. Ainda estava na floresta, em meio às árvores, mas havia uma jovem do meu lado, na mesma posição, sorrindo. Como uma amiga muito querida. E ela em si era a jovem da visão que se transformou num majestoso Dragão. A jovem do sonho antes de despertar meus poderes e que eu fazia o parto.
Então ela começou a desfazer-se em pingos de água como uma cachoeira que começa a descongelar com o fim do inverno, até que não havia mais nada, sequer o chão molhado provando que alguém tinha estado ali.
Mesmo depois que ela se desfez, eu continuei sorrindo para onde ela devia estar. Fora uma visão, eu tinha certeza, mas diferente de todas que eu já tivera.
Porque fora como se ela estivesse ali, do meu lado, naquele mesmo lugar. Estranho, não?
Ergui-me e então sentei em posição de lótus, e comecei a meditar.
Eu “fugira” porque precisava ficar sozinha. Refletir em tudo que me ocorrera naqueles 6 meses.
Puxa.
Fora só 6 meses mesmo?
Eu perdera mamãe e vovó; Thaíze virar minha melhor amiga e namorada do meu melhor amigo – aliás, eu FIZERA amigos; Samuel casara – e olha que fui Juradora da agora mulher dele, que se transformou numa amiga muito querida; viajei para Kolshö; matei dois seres; conquistei a fidelidade de uma Daeva – que, detalhe, é a irmã milênios-mais-velha do meu namorado Fravartin – tive mais visões do que sou capaz de contar, conheci Aine de Knockaine, consegui três pingentes... Puxa. Quanta Coisa...
E eu sei que tem mais por vir. Não sei quando nem o que...
Mas tem mais.
Senti duas mãos pousarem sobre as minhas estendidas, e ao abrir os olhos, via a jovem que se transformara na majestosa loba, meditando serenamente. E então ela começou a desfazer-se como se fosse uma estátua de areia assoprada por uma brisa. Até que não restou nada. De novo.
Por que visões desse tipo estavam me atormentando?
Eram tão estranhas...
Tão...
Reais...
Ergui-me após um tempo, batendo a terra e as folhas das roupas. Fechei os olhos e inspirei profundamente, e ouvi duas vozes suaves e belas que cantavam no mesmo ritmo, a mesma canção tão bela e doce.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Teorias de Conspiração - O Sangue dos Antigos I
FantasiMinha vida era comum, na medida do possível em que se é comum sendo a garota mais estranha que você puder imaginar, e ainda assim você não chegará à mim. As coisas começaram a entornar quando Sammuel, um cara com pinta de Taylor Lautner, apareceu na...