30: Esperança

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Milagrosamente, mesmo tendo acordado durante a noite, consegui acordar cedo o suficiente para poder falar com vovó e ainda ter espaço para eu me preparar para o Rito de Passagem. O oficial. Não apenas demonstrar nossos talentos que honram Aine. Agora, deixaremos de ser crianças Fadas para sermos Fadas de verdade, capazes de prosseguir com a raça.

O Rito é bem simples. Ganhamos a tatuagem de um sol envolto por flores – para que nos lembremos de nunca nos afastarmos da luz e de nosso habitat natural, as florestas – e Aine abençoa a tatuagem com sua essência. Ou seja, somos abençoados por Aine duas vezes: uma, quando passamos pela prova. A segunda, quando ganhamos a tatuagem um dia antes da Esperança, onde iremos nos disfarçar sob a Teia e viajar pelas cidades, guiadas por Aine, para dar sopro de vida, esperança e felicidade a aqueles que precisam, para que não esqueçamos que somos Fadas e, acima de tudo, que temos a bondade em nosso sangue e que quando Aine surgiu, Deus deu a ela a missão de consolar quem necessita, e que essa missão se estendeu até nós quando ela nos criou.

Enquanto andava até a casa onde ficava o quarto de vovó, ia pensando no que falar e onde falaria para a tatuagem ser. Papai disse que a dele fica na base da coluna, e Devon disse que vai fazer no lado esquerdo do peito, bem onde o coração bate. Mas não sei onde pedir a minha.

Ontem eu pedi a opinião de Rashne, mas ele deu um sorriso safado enquanto falava “Quer mesmo que eu diga onde eu gostaria de ver essa tatuagem?” o que me fez estapear seu braço e murmurar um “Fravartin pervertido” enquanto desviava o rosto quente. Que namorado safado o que eu fui arranjar... E o pior é o que eu gosto desse jeito de ser, apesar de ser um defeito. Eu não disse que gostava de seus defeitos e qualidades?

É como dizem: nós, mulheres, sabemos que não devemos nos aproximar de homens que façam cara de cafajeste. Mas não resistimos.

Fiz minha mente se acalmar quando entrei na casa. Uma Fada da Floresta estava sentada no chão da sala comunitária, lendo seu livro de feitiços. Seus traços indicavam alguém muito velha, e as asas esverdeadas que saíam lindas, poderosas e altivas de suas costas indicavam que, se não tinha sangue-puro, um dos pais deviam ser. O cabelo estava preso numa trança até a cintura, os olhos brilhantes e vívidos de alguém cheia de sabedoria.

Me aproximei devagar, e não nego que me assustei quando ela ergueu o rosto para me olhar. Ficou séria por um instante, e então sorriu.

− Olá, minha jovem Fada. Stacy, não? – apenas balancei a cabeça afirmativamente, aproximando-me quando ela fez sinal para que eu sentasse ao seu lado, ligeiramente surpresa por ela se lembrar de meu nome. – Elza, muito prazer. – ela olhou um instante para minhas asas. – Sinto pelo que a luta com a Gnoma provocou em suas asas. Como estão? – ela perguntou docemente, e quase como reflexo mexi minhas asas de leve.

Doíam um pouco ainda, mas Cairu e Caeté fizeram um excelente trabalho, e, apesar de alguns hematomas, não estavam quebradas.

− Bem. Os Botos fizeram um bom trabalho. – sorri, e ela também sorriu.

Elza parecia com minha vó, antes de eu descobrir que sou uma Fada. Ela ficou bem mais séria depois disso.

− Eles costumam ser bons curadores... – ela fechou o livro e segurou uma de minhas mãos. Tenho a sensação de que ela os conhecia há muito tempo... – Imagino que tenha vindo falar com sua vó. – afirmei e ela suspirou. – Eurídice tem muito orgulho de você. De você e do seu irmão. Não seja apressada em seu julgamento. Ela sofreu muito antes de conhecer seu avô.

Sorri para ela de forma tranquilizadora.

− Não serei apressada. – Me levantei quando ela não deu mostras de que ia falar mais alguma coisa. – Obrigada pela preocupação e pelo conselho, Elza. – fiz uma reverência. – Por favor, pode me dizer onde fica o quarto de vovó? – ela sorriu enquanto me explicava qual corredor devia pegar para chegar ao quarto.

Teorias de Conspiração - O Sangue dos Antigos IOnde histórias criam vida. Descubra agora