31: Tecendo o Destino

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Acordei sentindo meus braços esticados e amarrados num nível acima da minha cabeça, o resto de meu corpo pendurado, sustentado pelos braços. Não sentia o chão abaixo de meus pés. E, sobrepondo-se à essas sensações, estava uma única: essências sábias e velhas – embora nada como Aine – que penetravam minha pele. Conforme os outros sentidos despertavam, comecei a ouvir um conjunto de vozes cantando na língua da Teia; pelo que percebi, era um encanto de cura e estava direcionado, principalmente, para minhas asas. O ferimento em meu abdome estava dolorido e gelado, embora eu tivesse certeza de que não sangrava mais.

Abri meus olhos com certa dificuldade. O longo tempo fechados fez com que minhas pálpebras se grudassem.

O lugar era... Morto, na falta de uma palavra melhor. Todo branco e vazio, alguns fungos se espalhando pelas paredes.

Tentei virar o rosto, atrás dos donos das vozes que cantavam, mas eu ainda me sentia muito mole e minha cabeça não obedeceu ao comando do meu cérebro.

Mas, de algum jeito, alguém percebeu que eu acordara, e um rosto de pele pálida e um tanto azulada, com olhos profundos e totalmente negros, mas com uma trama branca se estendendo sobre o globo tal qual a teia de uma aranha, traços esguios e, de alguma forma, aracnídeos, com um cabelo comprido e cor de lua que parecia seda apareceu à minha frente. E somente os cabelos a cobriam até a cintura, onde deixava de ser mulher e se transformava numa aranha azul.

UAU!

As Aranhas Lunares Azuis me salvaram!

Mas... Peraí! Não era só UMA Aranha Lunar Azul, que morreu muuuuuito tempo atrás?!

Pensei em falar algo, mas ela foi mais rápida. Sorriu e inclinou uma espécie de cantil feito de couro contra minha boca. Senti algo de sabor... Cristalino, seria a palavra ideal, escorrer pela minha garganta. E então, ao mesmo tempo em que me sentia bem, sentia sonolência.

E adormeci.

− Acorde, Fada. – alguém falou num tom de voz suave. Sentia-me confortável onde estava, e não, não queria levantar. Estava tããããoooo quentinho... Como o abraço do Rashne. – Fada... Você precisa acordar. – o tom foi mais enérgico, talvez preocupado.

Abri um olho preguiçosamente. Era a mesma Aranha Lunar que me dera o que quer que fora. Ela sorria.

− Quem é você? – foi a primeira coisa que murmurei, piscando e abrindo o outro olho. Ela continuava sorrindo.

− Meu nome é Galagöa. – na Língua da Teia, Galagöa significa “Sabedoria”. De algum jeito, eu sabia que combinava com ela. – Como deve ter percebido, sou uma Aranha Lunar Azul. E você está onde nós, Aranhas Lunares, vivemos: em Kolshö. – ela sorriu enquanto eu me sentava na cama. Assim que joguei as pernas para fora do colchão, senti apenas vazio. Pelo jeito, a cama fica bem acima do nível do chão. – E o seu é... – ela disse, enquanto me segurava pelos braços e me colocava no chão, mais de dois metros abaixo da cama.

Falando sério...

Eu achava Aine alta.

Mas parece que Aranhas Lunares conseguem alcançar a altura de um Trol, ou mais. Bem mais.

Fala sério.

− Stacy. – sorri de volta, olhando para cima. – E agradeceria muito se dissesse como ainda estou viva... – falei com tom brincalhão. Afinal, eu sabia sobre os gases tóxicos de Kolshö.

Galagöa guiou-me pelo cômodo simples com o teto alto até uma larga abertura na parede que levava a um lugar que poderia ser chamado de “banheiro”. Uma espécie de chuveiro numa extremidade, e na outra, um enoooooorme espelho. Ela levou-me ao espelho, e vi que eu usava um vestido leve e frente única, feito de algo que parecia seda cinza – não, eu ainda não tinha olhado para mim mesma, estava muito zonza pra isso. Minhas asas estavam quase do mesmo tamanho de antes de Adriane cortá-las, e pareciam melhores ainda. No meu pescoço, pendia o colar que Rashne me dera e Anoen.

Teorias de Conspiração - O Sangue dos Antigos IOnde histórias criam vida. Descubra agora