14: Olho que Tudo Vê

178 3 0
                                    

Estávamos saindo do local, papai carregando a ânfora com as cinzas de mamãe – ele não deixara mais ninguém se aproximar – quando o grupo apareceu. Eu não gostei deles. Definitivamente. Eu nunca conheci gente que eu odiasse mais do que odeio a Thaíze. E isso é um prodígio, realmente.

Nós os reconhecemos porque tínhamos descoberto o que mamãe era. Caso contrário, jamais saberíamos o que eram. Devon disse que Vampiros estão entre as raças mais difíceis de se reconhecer. Apenas papai sabia quem ela era, de fato, e nunca contara a vovó. E eu, bem, eu só desconfiava... E sinceramente, a impressão que tive é que papai queria sair correndo quando os viu aparecerem.

Eram cinco, todos de olhos azul-elétrico e cabelos negros e lisos como os de mamãe. Vestiam-se de forma elegante com roupas de grife – um tipo do qual eu não gosto, prefiro ir fazer compras no Lojão do Brás. O do meio parecia ser o mais velho e o líder. Parecia ter uns quarenta anos, mas com certeza é mais velho. Mamãe tinha cem anos, mas parecia ter no máximo trinta. E papai... Nem sei quantos anos ele tem de fato!

Vovó avançou alguns passos, irritada, Devon me abraçou pelos ombros de um jeito preocupado e papai abraçou a ânfora com mais força, recuando um pouco. Parecia ter medo de que a tirassem dele. E eu sutilmente fui para o lado, puxando Devon comigo para ficar na frente de papai. Eu não deixaria ele perder o que sobrara de mamãe. Jamais. Se não pude impedir a morte dela, não vou deixar isso acontecer.

− O que vocês querem? – vovó perguntou, um tom ferino e selvagem em sua voz que eu nunca ouvira. E então, eu percebi que Devon e ela estavam com seus pingentes pendurados no pescoço, como se eles esperassem por aquilo.

− Ora, Eurídice... Vim apenas dar meus pêsames pela sua perda. Afinal, Diane era do nosso clã... – ele CONHECIA vovó? De onde? Ah, tanto faz... Afinal, vovó é BEM velha...

Mas, peraí... Então, foram VOCÊS que expulsaram minha mãe, seus crápulas?! Aaaah, vou encher vocês de bala de prata! – sim, segundo mamãe, prata funciona com Vampiros.

− Se vocês a expulsaram, então, ela não era do clã de vocês. – Aaaaah, o que eu tenho na cabeça?! Por que raios não fiquei quieta?! Só sei que falei séria, com a voz sombria. Devon apertou meu ombro como que com medo por mim. Ai! Você tá me machucando!

O mais velho deixou de olhar para vovó, deslizando seus olhos para mim. Eu vi desdém nos olhos dele. Grrrrr, deixa eu espancar esse desgraçado, Devon! Ele veio só pra zombar de nós!

− Ah... Então, foi por sua causa que ela se deixou morrer? – ele disse num tom debochado, ao que os outros Vampiros riram disfarçadamente. Como se me achassem menos que nada. Difícil, eu sei, mas a sensação foi essa.

Semicerrei os olhos, balancei os ombros para que Devon me soltasse e deixei de ficar na minha costumeira pose relaxada.

− Não. Foi à mim que ela deu a própria vida ao não se alimentar de mim depois que meus poderes despertaram. E no que me consta, vocês nunca ergueram um dedo para ajudá-la só porque ela não queria que eu fosse como vocês. Então, vocês não são bem-vindos. Por favor, saiam antes que aconteça algo que vocês não vão gostar.

Eu tentei soar imponente e dar o tom mais ameaçador possível. Se tive sucesso, não sei. Só sei que ele me olhou mais sério, enquanto eu sentia minha Aëke escorrendo por mim mais rapidamente. Eu estava perdendo o controle, seriamente. Meus lábios já deviam estar escuros.

Um dos Vampiros aparentemente mais novos olhava para mim de um jeito que eu realmente não gostei. E desviei minha atenção do mais velho para ele, querendo mais do que nunca que eu já tivesse ganhado meu primeiro pingente para jogar um feitiço que fizesse o chão onde eles pisavam virar areia movediça! Rá! Seria tããããão bom fazer isso!

Teorias de Conspiração - O Sangue dos Antigos IOnde histórias criam vida. Descubra agora