5- Milão

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Milão, Itália

Estava deitada na minha cama do hotel no centro de Milão, quando ouvi o meu telemóvel tocar. Peguei no aparelho e estranhei o nome da minha mãe na tela, rapidamente o medo se apoderou de mim, pensei logo no meu pai, já que não era normal a minha progenitora me procurar quando não estou em casa. Atendi a chamada preocupada, mas fui recebida com um tom rude.

-Porque é que o teu pai me anda a tentar fazer a cabeça a dizer que nós as duas nos devíamos entender? Andas a fazer queixas ao papá é? Queres que ele se divorcie de mim porque eu sou a má da fita? Porque eu sou a mãe horrível que tu me pintas? - fui atacada com perguntas e eu já conseguia sentir o meu sangue começar a correr as minhas veias de maneira mais rápida.

-Ele também já me veio com essa conversa! - gritei para que ela parasse de falar. - Não fui eu quem lhe meteu essa ideia na cabeça. - continuei já num tom mais baixo.

-Olha minha menina, se tu pensas que me vais afastar do teu pai por causa dos teus caprichos estás muito enganada. Tu já és uma adulta! Vive a tua vida e deixa-nos em paz! - agora foi a vez dela gritar, ela parecia extremamente irritada e eu não tinha culpa nenhuma.

-Eu tinha todo o gosto do mundo em sair da tua vida, mas isso implicava sair da vida do meu pai e isso não vai acontecer.- a este ponto eu já estava às voltas no meu quarto de hotel com o telemóvel encostado ao meu ouvido.

-Era um favor que nos fazias. - comentou como se não tivesse dito algo que me magoasse. Eu não queria demonstrar, mas as suas palavras magoaram-me, nós podíamos ter as nossas divergências, mas ela dizer que queria que eu saísse da vida dela era demais.

-Não te vou dar esse gosto. E se o pai discutiu contigo por seres a merda de mãe que és, o problema não é meu!- respondi nervosa, eu estava magoada e também a queria magoar na mesma proporção. - Adeus, tenho mais do que fazer. - disse pondo fim à nossa conversa, desliguei a chamada e controlei as lágrimas que queriam começar a cair pelo meu rosto.

Eu não sei se estava a chorar por raiva ou mágoa, ou até pelos dois, mas eu sentia-me uma entrave na vida dos meus pais. Eu sabia o amor que o meu pai tinha por mim, mas ouvir a minha própria mãe a pedir para eu sair da vida deles, era doloroso demais. Podíamos não ser próximas, e eu tenho noção que estávamos sempre a discutir, mas isto para mim foi demais. Reconheço que também a ataquei de maneira fria e que, provavelmente, também a magoei, mas foi o meu mecanismo de defesa, foi um descontrolo.
Limpei as lágrimas já à frente do espelho na casa de banho e decidi que me ia arranjar, queria estar estupidamente linda e ia sair para um bar ou uma discoteca. Eu estava sozinha, mas isso não me impedia de me divertir, era a minha maneira de espairecer a cabeça. Se ficasse no hotel, era para ficar a noite toda com raiva e a chorar, podia até cair no erro de querer retornar a chamada à minha mãe para a encher de verdades, então era mais benéfico ir dançar e beber álcool para esquecer. É! Era o plano perfeito!

[...]

Saí do Uber com cuidado para não estragar os meus saltos finos que estavam nos meus pés, tinham sido demasiado caros. Agradeci ao motorista com um sorriso e entrei na discoteca mais conceituada de Milão, pelo menos era o que a Internet dizia. Eu estava decidida a ter uma noite incrível e nada nem ninguém me ia estragar o tempo que ia ter sozinha.

Pensava eu que ia estar sozinha...

Assim que entro no estabelecimento, os seus olhos azuis caem em mim, assim como os meus caem sobre ele. Pierre Gasly, como é que eu não me lembrei da possibilidade de o encontrar num local como este.

Late Night Talking || Pierre GaslyOnde histórias criam vida. Descubra agora