6- Bons amigos

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Pierre Gasly

Milão, Itália

Saí da reunião na AlphaTauri com a cabeça na mesma pessoa, eu nem sabia ao certo se tinha prestado atenção à reunião. Não conseguia evitar, eu pensava nela mesmo se não quisesse. Acho que vê - la assim tão frágil me aproximou mais dela, o facto de ela querer desabafar comigo e confiar partes das suas fraquezas comigo, fez-me perceber que eu a quero conhecer. Eu quero poder protegê-la de tudo o que correr mal na vida dela, eu quero estar presente e dar-lhe a mão sempre que ela precisar porque a Elyna que eu vi ontem não é a mesma mulher que me provoca porque não pode sair a perder, não é a Elyna que enfrenta tudo e todos. Aquela Elyna é a mais fraca, a que tem mágoas e pedaços do seu coração partidos, e eu sinto uma necessidade enorme de cuidar dela que me está a tirar o sono e a atenção dos meus compromissos.

-Terra chama Pierre.- vejo a mão de Yuki Tsunoda a passar à frente dos meus olhos, sacudi a cabeça para me focar em caminhar até à sala do simulador.- Estás bem?- questionou o meu companheiro de equipa preocupado.

-Sim, só estou com a cabeça noutro sítio.- respondi enquanto confirmava pela vigésima vez naquela manhã se ela me havia enviado uma mensagem, eu só queria um sinal dela para ficar mais descansado.

-Quem é a Elyna?- perguntou curioso depois de espreitar para o ecrã do meu telemóvel.

-Yuki!- repreendi-o, ele quando queria conseguia ser mesmo curioso.

-Nós somos amigos Pierre, podes falar comigo.- disse calmamente, eu sabia que ele só queria ajudar e talvez eu precisasse de falar.

-Conheci a Elyna há uns dias atrás em Paris, nós ficamos amigos e temos saído algumas vezes.- comecei por explicar o início da nossa história.- Mas ontem, ela mostrou-se uma Elyna completamente diferente, ela precisava de desabafar e eu nem precisei de fingir estar interessado porque eu estava realmente importado com aquilo que ela dizia. Era como se a quisesse proteger de todo o mal deste mundo, eu sentia que tinha de a animar e de lhe colocar um sorriso no rosto. Isto é tão estranho Yuki, a última vez que me interessei assim por alguém foi quando...- fiz uma pausa no meu raciocínio quando cheguei à conclusão do mesmo.

-Foi quando o quê?- questionou ainda mais curioso.

-Quando conheci a Kate.- disse em voz alta aquilo que tinha ficado só na minha mente.

-Tu ainda gostas da Kate, é isso?- o meu colega de equipa estava a ficar ainda mais confuso que eu, o que me provocou uma pequena gargalhada.

-Não Yuki, eu não gosto da Kate. Mas tu não consegues perceber?- perguntei e ele encarou-me pensativo, fez-se silêncio durante uns segundos até ele sacudir a sua cabeça em sinal de negação.- Pensa comigo, a última vez que me interessei assim por alguém foi quando conheci a Kate certo?- esperei que o japonês me desse indicação para continuar em sinal de que estava a seguir o meu raciocínio.- Eu depois disso comecei a apaixonar-me por ela, até que a pedi em namoro e começamos a nossa relação. Agora pensa comigo, eu estou a ficar muito interessado numa mulher que conheci há dias, o que não é normal, então eu posso estar em risco de me apaixonar outra vez.- concluí o meu pensamento.

-Correr o risco? Quem te ouvir até pensa que é uma coisa má.- comentou Tsunoda.

-Eu não quero sair magoado, ela tem uma ideia errada de mim e eu não sei se ela algum dia se vai interessar por mim dessa maneira.- desabafei sincero, a Elyna tinha deixado bem claro aquilo que pensava sobre mim.- Então é melhor manter apenas uma amizade e esquecer a vontade que tenho de a beijar sempre que estou com ela.- dizer isto em voz alta foi muito vergonhoso, acabei mesmo por causar uma gargalhada ao meu querido amigo.

-Tu estás tão apanhadinho Pierre.- disse entre risos.

[...]

Fiquei até tarde a trabalhar no simulador para me preparar para a próxima corrida, era o início da segunda parte do campeonato e eu queria fazer um bom trabalho, já que a época não estava a ser excelente para o meu lado. Saí tarde da AlphaTauri e ainda não tinha recebido nenhuma mensagem ou chamada da modelo francesa, o que me estava a causar uma certa ansiedade, era como se eu precisasse de falar com ela e de estar com ela. Provavelmente ela estava ocupada com o seu trabalho, por aquilo que ela me contou na noite anterior, hoje era um dia importante e atarefado para ela aqui em Milão, então eu entendia que ela ainda não tivesse tempo para mim. Quer dizer, eu também podia tomar a iniciativa, só não queria que ela pensasse que eu era um chato. Limpei a minha cabeça e segui aquilo que o meu coração me dizia, eu precisava de ouvir a voz dela e, portanto, decidi marcar o seu número no meu telemóvel e esperei impaciente enquanto ouvia os toques constantes até ela, finalmente, atender a chamada.

-Pierre Gasly. - disse assim que atendeu a chamada, um sorriso apareceu no meu rosto só de ouvir a sua voz.

-Como estás Elyna? - perguntei ainda preocupado com ela.

-Cansada. - ouço um suspiro da sua parte. - O dia foi muito preenchido e eu só quero cair na minha cama e dormir até amanhã de manhã. - confessou.

-Somos dois, só estou agora a sair do trabalho e preciso mesmo de descansar. - disse enquanto entrava para o meu carro. - A minha cabeça está noutro lugar, hoje tive uma reunião e nem sei do que se tratou. - confessei com uma gargalhada, consegui ouvir um riso do outro lado do aparelho.

-Onde é que andas com a cabeça Gasly? - questionou. A minha vontade era responder "Em ti, a minha cabeça só pensa em ti desde aquela noite. E isto assusta-me porque não me quero magoar, nem te quero magoar a ti, tenho medo de me estar a apaixonar em tão pouco tempo." Mas depois de respirar fundo e pensar numa boa desculpa arranjei a mais esfarrapada de sempre.

-Coisas de piloto sabes? Os meus resultados não têm sido excelentes e eu estou sempre a pensar em como melhorar. - tentei ser o mais credível possível e penso que tinha conseguido.

-Tens de ter calma Pierre, vive um dia de cada vez e uma corrida de cada vez. Eu posso não perceber muito de formula 1, mas sei que ainda tens algumas corridas pela frente para conseguires melhores resultados. - respondeu simpática, só o facto de ela estar a tentar melhorar a minha situação mesmo sem saber muito sobre o desporto, deixava-me feliz.

-E tu, já resolveste tudo com a tua mãe? - perguntei receoso, não queria meter-me na vida dela mas estava preocupado.

-Ainda não. - suspirou mais uma vez. - Mas já falei com o meu pai hoje, portanto estou mais animada. - comentou, já tinha percebido que ela tinha uma ótima relação com o pai, mas com a mãe nem tanto.

-Quando voltares a Rouen vocês entendem-se, até lá tenta não pensar no que aconteceu. Foca-te no teu trabalho e se precisares de alguém para conversar, tens o meu número.

-Eu já volto para Rouen daqui a dois dias, até lá tenho mesmo que me distrair.- contou. - Obrigada Pierre. - agradeceu e eu podia jurar que ela sorriu no final da sua frase.

-Eu vou para Rouen amanhã, aproveitar o tempo em família porque na próxima semana tenho de ir para a Bélgica por causa do Grande Prémio. - expliquei revendo mentalmente a minha agenda.

-Então depois combinamos alguma coisa em Rouen, se quiseres claro. - propôs.

-Podes contar comigo, é só dizeres o dia e a hora. - respondi sorridente, eu estava sentado no carro há minutos a falar com ela e parecia que o cansaço tinha desaparecido e que eu podia ficar ali por horas.

-És um bom amigo Pierre, fazia-me falta alguém assim na minha vida. - não posso mentir, as suas palavras deixaram-me feliz, mas ao mesmo tempo era como se ela estivesse a colocar uma barreira e a restringir aquilo que somos a uma amizade. A verdade era que nós não éramos nada além de amigos, eu é que via as coisas de uma maneira diferente, mas a amizade dela era tudo o que eu ia ter e eu podia viver com isso.

-Fico feliz Elyna, olha que não tenho intenções de sair da tua vida tão cedo. - fui o mais sincero possível, eu não queria deixá-la sair da minha vida, se só a podia ter como uma boa amiga, então eu ia aproveitar o facto de poder ser amigo dela.
A Elyna tinha entrado há tão pouco tempo na minha vida, mas eu sentia que nos conhecíamos há anos.

Continua...


Late Night Talking || Pierre GaslyOnde histórias criam vida. Descubra agora