7- O regresso a Rouen

325 17 2
                                    

Elyna Laurent

Rouen, França

Regressar a casa, era o que eu mais queria, mas também sabia que assim que entrasse pela porta tinha de encarar a minha mãe. Respirei fundo, com a minha mala na mão, antes de rodar a chave e abrir a porta. Silêncio, era o que pairava naquela casa, talvez só estivesse a Lydia cá em casa, a esta hora era normal se a minha mãe estivesse na empresa.
Ouvi a voz de Lydia ao longe, ela cantarolava alguma melodia que eu não estava a reconhecer, ela gostava de cantar enquanto fazia as tarefas de casa. Sorri com a sua felicidade e leveza, ela levava a vida sempre com um sorriso na cara e era por isso que ela era uma pessoa tão querida.

-Menina, finalmente regressou a casa. - fui recebida num abraço pela mais velha, assim que a mesma notou a minha presença. Este tipo de receção era uma coisa impossível por parte da minha mãe, por isso é que a Lydia fez tão bem o papel dela durante toda a minha vida.

-É sempre bom voltar a casa, então se for recebida assim. - comentei ainda nos braços de Lydia.

-Por mim, a menina ficava sempre em casa comigo, e olhe que a casa nem é minha. - disse depois de os nossos corpos se separarem. - Quer que lhe arrume as malinhas? - perguntou prontamente, ela estava sempre preocupada com tudo.

-Não precisas, eu arrumo. - respondi, isto era algo que eu podia fazer, não queria dar ainda mais trabalho. - Mas eu aceitava comer qualquer coisa, sabes se os meus pais vêm almoçar? - perguntei.

-A sua mãe deu indicação para fazer puré de batata. - torci o nariz, toda a gente naquela casa sabia que eu odiava puré e que não conseguia sequer comer uma garfada. - Mas eu sei que a menina não gosta e estava a pensar fazer uma pizza para si. - completou, um sorriso apareceu no meu rosto.

-Obrigada Lydia, és sempre tão atenciosa comigo. - abracei o seu corpo mais uma vez antes de sair em direção ao meu quarto.

O almoço correu minimamente bem, eu apenas conversei com o meu pai e notou-se que o ambiente entre mim e a minha mãe era demasiado tenso, mais do que o normal. Claro que o facto de não trocarmos uma palavra fez com que o meu pai percebesse que se passava algo e decidiu falar sobre o assunto.

-O que é que se passa entre vocês? - questionou o mais velho, eu olhei para a minha mãe como se estivesse à espera que ela falasse primeiro.

-Nada pai, eu estou cansada é só isso. - disse já que a minha mãe permanecia calada. A minha progenitora riu-se e eu encarei-a confusa.

-Então não vais contar ao teu pai que discutiste comigo e foste mal educada? - eu tinha tentado evitar uma outra discussão, mas parecia que ela gostava de fazer este tipo de cenas à frente do meu pai.

-E tu? Não vais contar ao pai que disseste que eu vos fazia um grande favor se saísse da vossa vida? - as lágrimas escorreram pelo meu rosto ao relembrar aquelas palavras.

-Tu disseste o quê? - o meu pai perguntou visivelmente irritado.

-Claro que eu é que tinha de ser a má da fita, estávamos a discutir, dissemos coisas que não devíamos . - justificou - se depois de perceber que o meu pai tinha ficado chateado.

-Mesmo assim mãe! - exaltei-me. - Quer queiras, quer não, eu sou tua filha! E nós podemos não ter uma relação perfeita, mas dói ouvir-te dizer uma coisa dessas. - Confessei triste e irritada.

-Não esperes que te peça desculpa, tu também não foste melhor que eu. - respondeu.

-És inacreditável! - foi a última coisa que disse antes de me levantar da mesa e sair de casa sem rumo ou destino. Apenas entrei no carro e conduzi até um local calmo e sossegado, precisava de pensar e de chorar um pouco.

Fiquei mais ou menos uma hora na minha própria companhia, até que decidi que não queria ficar mais sozinha e mandei mensagem à única pessoa que tinha em Rouen além dos meus pais. Em poucos minutos o piloto chegou ao meu encontro e abraçou - me como se pudesse tirar toda aquela tristeza e raiva de mim.

-Estás bem? - questionou preocupado enquanto se acomodava ao meu lado.

-Sim. Obrigada por teres vindo Pierre, eu não tinha mais ninguém. - agradeci com um sorriso enquanto limpava os resquícios de lágrimas do meu rosto.

-Podes contar sempre comigo, mesmo que eu esteja na outra ponta do mundo. Eu venho sempre socorrer - te boneca. - era incrível como ele tinha a capacidade de me fazer rir e de me alegrar num momento como este.

-És um bom amigo Pierre, podes ser um grande convencido mas eu até gosto de ti. - respondi e encostei a minha cabeça no seu ombro.

-Queres falar sobre o que aconteceu? - agora ele tinha adotado uma postura mais séria.

-Problemas com a minha mãe, é o costume. - deu de ombros antes de continuar. - Eu já devia de estar habituada, mas parece que desta vez foi algo mais pessoal e que me magoou mais sabes? E ela admitiu que não me ia pedir desculpa, acho que nem vale a pena insistir. - continuei.

-É uma pena que vocês tenham esse tipo de relação, não gosto nada de te ver assim. - a sua mão procurou a minha e ele apertou a mesma de leve.

-Eu só queria sair daqui, passar uns dias com a cabeça ocupada para me distrair sabes? - confessei alheia e perdida nos meus pensamentos.

-Porque é que não vens comigo para a Bélgica? Passavas o fim de semana num local muito movimentado, nem ias ter tempo para pensar nessas coisas. - propôs com um sorriso.

-Olha que nem é má ideia, talvez seja isso mesmo que eu estou a precisar. - aceitei prontamente, um Paddock de fórmula 1 num fim de semana de corrida era barulhento o suficiente para não me deixar pensar na minha mãe e em tudo aquilo que me stressava.

-Marco um quarto para os dois? - perguntou brincalhão, o que me causou uma grande gargalhada.

-Vai sonhando Gasly, comigo tu não tens sorte nenhuma. - respondi depois de dar uma pequena chapada no braço do francês.

-Gosto de te ver sorrir, ficas muito mais linda. - comentou completamente perdido nos meus olhos, eu estava a ficar muito envergonhada, o que não era normal. Nunca ficava assim quando um homem me elogiava.

-Deixa-te de coisas Gasly, estás sempre a tentar a tua sorte. - deu um pequeno empurrão no seu corpo e desviei os meus olhos dos dele.

-Não me consigo controlar. - gargalhou e eu acompanhei - o. Era bom ter alguém assim na minha vida, alguém que me fazia sentir leve e com quem eu podia ser eu mesma. Era estranho como eu me permiti abrir tão facilmente para o Pierre, nunca na vida eu deixava um homem ver-me chorar, mas quando me encontrei neste momento mais frágil só conseguia pensar em como ele era a única pessoa que me podia animar. E pensei bem!
Depois de tantos erros e desilusões com homens que só me magoaram, finalmente encontrei um amigo que me apoiava e me entendia. Só não queria sair magoada desta história, não outra vez!

Continua...

Late Night Talking || Pierre GaslyOnde histórias criam vida. Descubra agora