22- Mágoas passadas

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São Paulo, Brasil

Pierre Gasly

Era a penúltima etapa do campeonato e eu estava muito ansioso pelas férias, a temporada não tinha corrido como eu desejava e no fim iria mudar de equipa, então precisava mesmo de descansar. Desde aquele episódio em Paris, eu e a Elyna temos estado mais próximos, mas nunca falamos sobre o facto de eu ter deixado os meus sentimentos falar mais alto, não a queria assustar mas a verdade é que eu estou apaixonado por ela. Depois de conhecer o passado da modelo francesa, eu prometi a mim mesmo que ia levar as coisas com calma e que ia fazer tudo certinho, ela merecia alguém que a amasse e que a tratasse como uma princesa. E eu queria ser esse alguém na vida dela. Assim que ouço a porta da minha sala bater, encontrei uma Elyna muito frágil. Ela vinha chateada e com as lágrimas quase a ceder, o que acabou por acontecer assim que envolvi o seu corpo num abraço. 

-O que é que se passa princesa?- perguntei preocupado sem nunca a largar.

-Discuti com a minha mãe, outra vez.- respondeu entre soluços, podia sentir a mágoa na sua voz.

-Queres falar sobre isso?- perguntei com medo, não queria ser intrometido, mas sabia que às vezes desabafar era a melhor solução.- Sabes que há coisas que não devemos deixar só para nós, se não quiseres partilhar comigo por mim tudo bem, mas por favor Elyna, fala com alguém para não sufocares sozinha.- disse sincero. A reação da modelo foi sair do meu abraço e sentar-se no pequeno sofá azul, fez sinal para que eu me sentasse ao seu lado e eu sabia que ela tinha escolhido desabafar comigo, o que me deixou muito satisfeito por saber que ela confiava em mim.

-Eu liguei ao meu pai para ele ver o circuito e o Paddock e ele perguntou por ti.- começou com calma, uma vez que precisava de recuperar o fôlego de ter estado a chorar.- Queria saber quando é que te ia conhecer e eu prometi marcar um jantar para nós os três.- fez uma pequena pausa e eu rapidamente me apercebi que ela não contava com a sua mãe para o tal jantar.- A minha mãe ouviu e começou a disparatar, disse que se eu tinha vergonha dela para lhe dizer na cara, para não a excluir dos planos familiares. Eu estava no meio do Paddock Pie, não ia começar aos berros com ela então mantive a minha boca fechada. Até ela dizer que também tem vergonha de mim e da figura que eu ando a fazer ao teu lado, que tu nunca te vais interessar verdadeiramente por mim e que esta relação de fachada vai acabar mal para mim porque nunca vou ter alguém que me ame de verdade.- a sua voz falhou ao contar a última parte, era como se o coração dela se estivesse a partir de novo ao repetir as palavras que ouviu.

-Oh meu amor.- foram as palavras que me saíram inconscientemente antes de eu envolver o seu corpo num abraço caloroso.- A tua mãe não sabe nada sobre nós.

-Eu sei que nós não somos mesmo namorados, mas gostamos muito um do outro e toda a gente percebe isso, como é que ela não consegue ficar feliz por mim Pierre? Ela é minha mãe!- a sua voz continuava a falhar porque era abafada pelo choro, o meu coração ficou ainda mais apertado ao vê-la assim.

-Elyna.- chamei-a e esperei que a morena me encarasse com os seus lindos olhos.- Porque é que tu e a tua mãe não se dão assim tão bem?- questionei tímido.

-Talvez esteja na altura de te contar essa história.- ela respirou fundo e limpou as lágrimas que ainda insistiam em cair pelo seu rosto.- Eu só sou modelo porque a minha mãe me introduziu a este mundo, era o sonho dela e como os meus avós não a deixaram seguir a carreira de modelo e a obrigaram a estudar contabilidade, ela queria que eu cumprisse o sonho que era dela. Eu apaixonei-me pela profissão, eu adoro aquilo que faço e comecei a ganhar maior destaque aos 16 anos. É aquela idade em que o nosso corpo fica mais desenvolvido e, então, comecei a chamar à atenção das marcas mais conceituadas. Foi nessa altura que comecei a ganhar mais fama e a trabalhar para atingir o patamar mais alto da minha carreira, eu só queria que a minha mãe sentisse orgulho na filha que tinha.- ela parou para voltar a respirar fundo.- Mas ela ficou com muita inveja do que eu tinha alcançado, eu estava a viver o sonho dela e ela já não queria que eu tivesse tanto sucesso. Consumida pela raiva e pelos ciúmes, ela começou a menosprezar-me e fez-me acreditar que o meu corpo era horrível e que eu tinha gordura a mais. A minha mente captou aquela ideia, eu olhava-me ao espelho e sentia-me horrível, desenvolvi anorexia.- as lágrimas começaram a cair pelo seu rosto, outra vez, e eu também já não consegui segurar as minhas.- Foram dois anos de muita luta para eu ultrapassar esta doença, e nunca pude contar com o apoio da minha própria mãe. Eu comecei a perceber o tipo de pessoa que ela era e afastei-me dela, o que piorou a situação, porque o meu pai entendeu que para eu recuperar ela precisava de sair de casa uns meses. Quando ela regressou, culpou-me a mim por ter destruído a relação dela com o meu pai mesmo sabendo que a única culpada era ela.

-Mas ela e o teu pai ainda estão juntos.- constatei.

-Eu disse ao meu pai que podia viver com a presença dela, ela é uma péssima mãe mas é uma esposa incrível e eu não queria ver o meu pai infeliz. Ele ainda acredita que um dia nós vamos voltar a ser o que éramos, mas eu sei perfeitamente que isso é impossível.- eu nunca tinha visto a Elyna assim, ela era tão frágil, estava cheia de mágoas passadas e um coração destroçado.

-Tu já passaste por tanto, Elyna.- segurei a sua mão e entrelacei a mesma na minha.- És uma guerreira e uma mulher fantástica, eu tenho muito orgulho em ti.- beijei as costas da sua mão e ela sorriu.

-Obrigada por me ouvires Pie, sinto-me mais leve agora que partilhei isto contigo.- confessou e eu afastei um pedaço do seu cabelo para trás da orelha, para poder observar o seu lindo rosto com as suas bochechas rosadas, os seus olhos que brilhavam ao olhar para mim, o seu nariz perfeitamente delineado e os seus lábios carnudos e brilhantes.

-Eu não vou permitir que alguém te magoe outra vez, prometo.- esta era uma promessa que eu ia levar para a vida, mesmo que no futuro tomemos rumos diferentes, eu vou sempre proteger a Elyna.- Eu amo-te.- deixei o meu coração falar mais alto mais uma vez, fiquei apavorado, mas não esperava que ela me respondesse da mesma maneira, era muito cedo e ela precisava de tempo, eu sabia que sim. Como resposta a francesa não proferiu as palavras que eu queria, aliás, ela não proferiu nada. A sua resposta baseou-se num beijo, unindo os nossos lábios, antes de sair da minha sala com um sorriso na cara.


Continua...

Agora já sabemos porque é que a Elyna e a mãe não se dão bem, será que algum dia a relação delas vai melhorar? 

E este final com o Pierre a admitir em voz alta o amor que sente pela nossa modelo? Eu estou completamente apaixonada por eles os dois.

Volto quarta-feira com mais um capítulo :)

Late Night Talking || Pierre GaslyOnde histórias criam vida. Descubra agora