26- Mercado de Natal

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Rouen, França

25 de dezembro, não era o meu dia preferido do ano, talvez por não ter uma família grande e perfeita com quem passar o dia, mas era sempre especial para o meu pai. O meu progenitor adorava a época natalícia e o dia de Natal era o dia preferido dele, então, eu esforçava-me todos os anos para me manter positiva e minimamente entusiasmada, só para o ver feliz. Mas, este ano era diferente. Este ano, eu ia sair com o Pierre durante a tarde, para aproveitarmos a festividade juntos, ainda que cada um estivesse comprometido com a sua própria família. Ainda era cedo demais para juntarmos as famílias para as festas, e decidimos ir passear na tarde do dia vinte e cinco.

A Lydia já tinha colocado tudo na mesa e estava com pressa para voltar para a sua família, era notório pela maneira como ela fazia as coisas com tanta pressa. Eu sorria enquanto a observava trabalhar, ela era como uma mãe para mim e eu, por bem, decidi comprar uma prenda para ela. Caminhei na sua direção e abracei o seu corpo assim que ela notou a minha presença, aquele abraço era sempre tão familiar.

-Feliz Natal, Lydia.- sussurrei ainda no calor do seu abraço.

-Feliz Natal minha querida.- respondeu e eu podia jurar que ela estava a sorrir naquele momento.

-Comprei-lhe um presente, espero que goste.- anunciei e entreguei-lhe a saca para as mãos.

-Oh menina, não era preciso.- respondeu aceitando o presente e abrindo o mesmo. Retirou a pequena caixa do saco e abriu a mesma, vi que os seus olhos se encheram de lágrimas.- Muito obrigada minha Elyna, é tão linda!- exclamou referindo-se à pulseira que eu tinha oferecido, a pequena jóia tinha uma escritura que dizia "Mutter", que em alemão significava mãe. Escolhi o alemão porque o seu pai era alemão, e ela sempre me tentou ensinar algumas palavras na língua porque eu pedia muito, principalmente quando era mais nova.

-Obrigada eu, por ser como uma mãe para mim e por nunca me deixar ir abaixo. A senhora para mim não é a minha empregada que está aqui há anos, é família e vai sempre ser família.- confessei com os olhos em lágrimas, eu podia não ser muito fã do Natal, mas adorava presentear aqueles que amava.

-A menina não sabe o quanto eu gosto de si.- proferiu antes de me envolver num outro abraço, este ainda mais caloroso que o anterior, e também, mais emotivo visto que estávamos as duas a chorar.


A hora de almoço passava tranquilamente, por incrível que pareça eu e a minha mãe nestes dias nunca discutíamos. Apenas aceitávamos a presença uma da outra e quem não nos conhecesse dizia que éramos uma família normal e feliz. Estava a deliciar-me com uma das sobremesas que a Lydia havia deixado e sentia o olhar da minha progenitora em mim, porém, decidi ignorar porque sabia que não queria iniciar uma conversa com ela, uma vez que corríamos o risco de estragar a tradição.

-Queria muito que o Pierre viesse até cá hoje.- comentou o meu pai, que também estava a comer a sua sobremesa.

-Ele vem-me buscar de tarde pai, mas ainda não é hoje que vais ter o gosto de conhecer o Pierre como meu namorado.- senti arrepios só de proferir as últimas duas palavras, agora era tudo tão real.

-Tudo bem filha, eu respeito o teu espaço.- respondeu com um sorriso, o meu pai sempre foi muito compreensivo e, apesar de querer muito conhecer o Pierre, ele respeitava a minha decisão.

-Obrigada paizinho.- agradeci com um sorriso e voltei a minha atenção para o meu prato, de forma a dar continuidade ao que estava a fazer anteriormente.


Já estávamos na fase em que víamos todos os filmes que passavam na televisão à espera que as horas passassem e que o dia de Natal chegasse ao fim. Eram perto das quatro da tarde quando o Pierre me enviou uma mensagem a avisar que estava à porta de minha casa à minha espera.

-Pai, o Pierre já chegou.- avisei enquanto me levantava do sofá para ir buscar a minha mala branca que combinava perfeitamente com o meu vestido vermelho que eu trajava hoje.- Volto cedo, não te preocupes.- informei para o deixar tranquilo quanto ao jantar de Natal, eu iria estar presente.

-Eu acompanho-te até à porta.- o meu progenitor levantou-se num sobressalto e fez questão de me acompanhar até à minha porta de casa. Quando abriu a mesma e observou o Pierre no seu carro, fez de tudo para chamar a sua atenção só para lhe puder acenar à distância. Eu sabia que ele estava contente com aquela pequena interação tamanha era a sua ansiedade de o conhecer.

-O meu pai fez muita questão em te ver.- comentei brincalhona assim que me acomodei no banco do carro.

-Agora que o vi ao vivo e a cores, posso confirmar que és muito parecida com ele.- comentou dando início à nossa pequena viagem de carro.

-Física e psicologicamente.- constatei com um sorriso, o meu pai era a minha pessoa preferida no mundo e eu tinha como uma grande qualidade em mim o facto de ser parecida com ele.

-Como está a correr o teu Natal até agora?- perguntou, eu sabia que ele queria saber se estava tudo bem com a minha mãe.

-Está a correr bem, o normal.- dei de ombros.

-Este ano já não é tão normal, vais sair com o teu namorado, que por acaso é o grandioso Pierre Gasly.- respondeu, e a sua resposta provocou-me uma gargalhada. 

-Estou muito honrada por me dar o prazer de passar umas horas do seu Natal comigo, grandioso Pierre Gasly.- rapidamente caímos numa gargalhada em conjunto, era incrível a forma como nós éramos tão leves e tão nós mesmos quando estávamos na presença um do outro.

Em poucos minutos chegámos ao mercado de Natal da nossa cidade, o Pierre é que tinha escolhido o sítio e eu estava feliz por ele me ter trazido até ali. Eu costumava frequentar este mercado quando era mais nova, mas com o passar dos anos tinha deixado esta tradição de fora, e arrependo-me muito. O mercado era lindo e estava sempre muito bem decorado, as luzes iluminavam as ruas mesmo que o fraco sol já o fizesse naturalmente. 

-Obrigada por me trazeres aqui Pie, já tinha saudades.- agradeci enquanto observava tudo ao meu redor com muita calma e atenção.

-Eu venho cá todos os anos, gosto sempre de sentir este espírito natalício que paira por aqui. E claro, ver as pessoas da nossa cidade que, para mim, são as pessoas mais simpáticas do globo.- comentou sorridente.- Anda, vamos ver o mercado todo.- estendeu a sua mão para mim e eu agarrei a mesma, deixei-me ser levada por ele pelas largas ruas do mercado.

Compramos alguns doces nas barraquinhas que estavam espalhadas pelo local, assim como também comprámos acessórios natalícios. O Pierre insistiu muito em comprar-me um gorro de pai natal com brilhantes, alegando que era muito a minha cara e que eu ia ficar muito bem com ele. Para ele, comprou um gorro verde, típico de um duende, alegando que como eu era a mãe natal, ele tinha a obrigação de me servir como meu duende ajudante. Ficámos largos minutos a passear e eu finalmente voltei a sentir aquilo que já não sentia desde criança, eu estava a sentir o verdadeiro espírito natalício e a alegria que esta época do ano trazia. Aquela alegria que eu deixei apagar devido aos acontecimentos marcantes na minha vida, eu estava a deixá-la entrar no meu corpo e alma, outra vez. 

-Obrigada por isto Pie, conseguiste trazer a minha alegria de volta, a Elyna de dez anos agradece-te imenso por isto.- agradeci com um sorriso e abracei o seu corpo.

-Eu só quero que sejas feliz, meu amor.- comentou apertando o meu corpo ainda mais contra o seu.

-Feliz Natal, amorzinho.- desejei e beijei os seus lábios com ternura.

-Feliz Natal boneca.- respondeu, utilizando o apelido que eu mais gostava, trazia-me boas memórias.

Eram momentos como estes que me faziam sentir agradecida por ter o Pierre na minha vida. Ele tinha sido a única pessoa a trazer a minha alegria de volta, em vários pontos da minha vida. Era como se ele fosse especificamente criado para mim, e eu sentia-me a mulher mais sortuda do mundo por ser a mulher que estava do seu lado. Este Natal tinha sido o melhor de toda a minha vida, jamais irá ser superado.


Continua... 

Faltam oficialmente 10 capítulos para acabar a nossa história e ainda há algumas pontas soltas que eu vou atar ao longo dos próximos capítulos. Espero que tenham gostado e até sexta :)

Late Night Talking || Pierre GaslyOnde histórias criam vida. Descubra agora