33- Perdão

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Rouen, França

Elyna Laurent

Ainda era cedo, mas às oito da manhã os meus pais já estavam no hospital prontos para me levar para casa. Com a ajuda das enfermeiras tomei um banho e vesti-me, o Pierre ajudou-me a sair do hospital em direção ao carro, uma vez que eu ainda tinha algumas dores. O trajeto até casa foi rápido, os meus pais estavam muito felizes por me terem de volta a casa, eu sabia que isto tinha sido um grande susto para eles e que estavam todos muito aliviados por eu poder ir para casa poucos dias depois do acidente. O meu pai e o Pierre ajudaram-me a subir as escadas de minha casa, para me levarem até ao meu quarto. Os médicos deram-me indicações para não fazer esforços e passar alguns dias em repouso, para não piorar as dores e, também, para recuperar de uma maneira mais rápida.

-Eu tenho de ir trabalhar mas se precisares de alguma coisa é só ligar.- avisou o meu progenitor preocupado.

-Não te preocupes pai, eu fico bem.- assegurei com um sorriso enquanto me acomodava na minha cama.

-Eu vou ficar aqui senhor Laurent, prometo tomar conta dela.- interveio o Pierre com um sorriso.

-Mas não tens de voltar para o Reino Unido? Não quero atrapalhar o teu trabalho, Pie.- respondi preocupada, ele já havia perdido um dia de trabalho na Alpine por minha causa, não o queria prejudicar.

-Não te preocupes com isso, eu expliquei a situação e disse que fazia questão de ficar contigo.- explicou-se e ao mesmo tempo aconchegava-me nos cobertores da minha cama.

-Obrigada Pierre, és um bom homem.- o meu pai estendeu-lhe a sua mão com um sorriso e o francês apertou a mesma. Fiquei feita parva a sorrir para aquele momento, adorava este tipo de interação entre eles, eu queria mesmo que eles se dessem bem e não foi preciso muito tempo de convivência para que isso acontecesse.

O meu pai saiu do quarto, deixando-me sozinha com o meu namorado que ainda estava preocupado comigo, já me tinha enchido a cama de almofadas para eu estar confortável e já me tinha perguntado umas mil coisas. Eu cheguei mesmo ao ponto de soltar uma gargalhada porque ele parecia uma barata tonta, sempre de um lado para o outro. Mas era tudo preocupação, e eu achava extremamente fofa a sua atitude.

-Pierre, eu estou bem amor. Podes-te sentar aqui ao meu lado, por favor?- perguntei e deixei um espaço para que ele se sentasse do meu lado.

-Desculpa boneca.- sentou-se do meu lado e deixou um beijo na minha face.

-Não tens de pedir desculpa Pie, eu sei que estás preocupado mas eu estou bem, prometo.- tranquilizei o piloto e deitei a minha cabeça no seu ombro.- Vamos ver um filme, pode ser?- propus já com o comando da televisão na mão.

-Você manda princesa.- aceitou prontamente a minha sugestão, mas antes que eu pudesse escolher o filme na Netflix ouvimos batidas na porta.

-Sou eu filha, posso?- ouvi a minha mãe perguntar do outro lado da porta.

-Entra.- autorizei e poucos segundos depois ela espreitou pela porta e abriu a mesma para entrar no cômodo.

-Queria saber se podia falar contigo.- disse com alguma timidez e eu apenas assenti afirmativamente com a cabeça.

-Eu vou lá baixo ajudar a Lydia a preparar alguma coisa para comeres.- o Pierre percebeu que isto era uma conversa entre mim e a minha mãe e retirou-se do quarto para nos dar alguma privacidade.

-Senta-te.- pedi apontando para o lugar que antes era ocupado pelo Pierre.

-Como te estás a sentir?- perguntou enquanto se acomodava ao meu lado.

-Com algumas dores, mas daqui a pouco já é hora de tomar os medicamentos, portanto elas vão passar.- respondi com um meio sorriso.

-Desculpa filha.- a minha progenitora desatou a chorar, como se estivesse a guardar este choro durante horas e finalmente se pudesse libertar.- Eu não fui a mãe que tu merecias e tenho muita pena de só ter percebido isto quando soube que tinhas tido um acidente. Foi quando percebi que te podia perder que me veio tudo à mente, eu fui horrível contigo.- ela não parava de chorar e eu, comovida pela sua atitude, comecei a chorar também.

-Não estivemos bem, as duas.- fiz questão de dar ênfase na última parte da frase porque tinha consciência que também não tinha agido bem.- Mas se formos capazes de nos perdoar uma à outra, acredito que a nossa relação vá melhorar.- continuei agarrada à sua mão.

-Eu fiquei cega pela inveja porque estavas a viver o meu sonho, olha as coisas horríveis que eu te disse, tu desenvolveste uma doença por minha causa.- ela segurava a minha mão com força enquanto soluçava entre as palavras.- Eu quero que saibas que estou muito arrependida Elyna, eu só quero compensar o tempo que perdi a ser um monstro para ti. Eu quero ser a mãe que tu mereces, isto se tu me conseguires perdoar.- a sua voz saía fraca.

-Vai ser uma longa jornada, mas nós vamos conseguir mãe. Eu perdoo-te, e prometo que vamos trabalhar na nossa relação para recuperarmos o tempo que perdemos.- levei a minha mão ao rosto dela para lhe limpar algumas lágrimas que caíam.- Eu só queria que tu tivesses orgulho em mim.- disse quase num sussurro.

-E eu tenho minha filha, eu tenho muito orgulho em ti. Agora consigo ver que é isso que eu devo sentir, não é aquela inveja possessiva. Eu tenho muito orgulho na mulher que te vieste a tornar, uma modelo incrível e, para mim, a melhor modelo do mundo.- ela levou a sua mão à minha face e mostrou um sorriso.- A minha bebé fotografou para a Victoria Secrets.- em resposta eu sorri e abracei o seu corpo com toda a força que tinha, como se pudesse recuperar todos os abraços perdidos e que não tivemos.

Senti um alívio enorme por finalmente resolver as coisas com a minha mãe. Fomos capazes de deixar o passado lá trás e de nos perdoarmos mutuamente. A família era isto, era um amor tão forte que era capaz de perdoar, mesmo que esse perdão tenha demorado anos para acontecer. Não podia estar mais satisfeita com a família que tinha, um pai que me amava mais do que qualquer coisa no mundo, uma mãe que foi capaz de reconhecer os seus erros porque me amou desde sempre, e um namorado perfeito que era o homem da minha vida. Sorri sozinha, estava feliz com a vida que levava, apesar de estar dorida por causa do acidente, estava feliz por ser parte desta família.

O Pierre voltou ao meu quarto com um tabuleiro recheado, trazia sumo de laranja, umas bolachinhas que eram as minhas preferidas e uma torrada com geleia de morango. Pousou o tabuleiro em cima das minhas pernas e sentou-se do meu lado enquanto esperava que eu me deliciasse com a refeição que ele me havia trazido.

-Como correu a conversa com a tua mãe?- questionou visivelmente curioso.

-Fizemos as pazes, finalmente.- respondi aliviada e feliz.

-O teu pai vai ficar radiante.- comentou com um sorriso.- Estou muito feliz por ti, meu amor.- completou com um beijo na minha face.

-Eu também Pie, sinto-me finalmente completa.- revelei com um longo suspiro antes de virar a minha atenção para a minha torrada com geleia. 


Continua...

Último capítulo da semana! Vamos entrar oficialmente na reta final, faltam apenas três capítulos :(

Até segunda!

Late Night Talking || Pierre GaslyOnde histórias criam vida. Descubra agora