Capítulo 12

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Dino

Liguei mais uma vez pro Arthur e ele não atendeu. Papo reto mermo, não vou parar de ligar enquanto ele não atender, hoje mais cedo liguei pra Luana também, mas ela disse que tava ocupada e que depois me ligava.

Tô ligado que errei com ele, mas o negócio é que as vezes falo sem pensar, é no impulso e acabo deixando ele bolado. Sempre sai daqui desse jeito, só que agora parece que ele não quer mesmo saber de mim, parece que deixei ele chateado de verdade.

Sempre ele voltava ou ligava, e agora nem me atende. Dessa vez peguei pesado demais.

Tô com meus cinquenta e cinco anos e nunca aprendi ser pai. Mãe deles costumava dizer que talvez eu não soubesse porque não tive um pai presente.

Meu coroa foi preso quando eu era criança, mas de lá ele mandava e desmandava aqui na Rocinha, tá ligado? Teve uma rebelião lá e ele foi um dos mortos, minha mãe ficou no comando do morro por um tempo e depois passou pra mim.

Três meses depois que assumi o comando, sequestraram ela, recebi só o corpo. A cabeça deixaram como troféu pra eles.

Não é porquê tô velho que não lembro e não sinto falta. Eu lembro das parada que fazia quando era moleque, lembro de quando eu brincava com meus irmão, era mó da hora.

Eu curtia mermo correr pela rua, jogar bola, subia no mirante pra olhar o morro... Parecia que nada daquilo ia acabar.

Final de semana coroa ligava só pra perguntar se tava faltando comida ou roupa, mas nunca falava com nós. Ele não se importava, bagulho era só botar comida na mesa e não deixar andar maltrapilho.

Mãe também não tinha tempo, quem cuidava de nós era minha irmã mais velha, ela ficava dividida entre dar carinho, atenção e estudar. Então nós foi criado no meio daquilo tudo, da criminalidade, vendo aquelas punição cruel, sem carinho, pai preso... Isso tudo e muito mais.

Dos meus irmãos só tem três vivo. A mais velha é juíza, nem lembra que eu existo. Os outros dois foram embora não sei pra onde depois que a mãe morreu.

E eu fiquei aqui, sem mulher, sem filho, sem irmão, sem nada. Nem minha neta liga pra mim.

Eu sinto falta de ter uma família, mas agora é apenas eu e mais ninguém. Vivo sozinho aqui nessa casa.

Onde eu já fui uma criança que corria por essa casa, feliz e com meus irmão pra fazer companhia, agora resta apenas um velho sozinho.

A Libertina Onde histórias criam vida. Descubra agora