start of something good

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Era sábado. Ela odiava sábados. Era oficialmente seu pior dia da semana. Ela acordou com o barulho de chuva na janela. E ainda mais essa, chovendo. O que significava muito pouco para fazer, apenas mais um dia no escritório analisando as papeladas que Oxente tinha deixado com ela na noite anterior. Angélica fechou os olhos, respirou fundo. Sábados lhe remetiam dia da noiva, centenas gastos em um salão, um vestido branco elegante e caro que foi jogado no lixo.

Tentou se lembrar de trabalho. Trabalho e trabalho eram o que a manteriam sã em dias como esse. Se remexeu na cama, olhando para o teto, as mãos acima da cabeça, largada. No dia anterior, Miguel tinha oficializado a oferta pelo aluguel da lagoa. Ele chegou todo contente de ter uma proposta para ela, e Angélica não conseguiu ser mais dura como gostaria. Os malditos olhos a desarmavam, ela não entendia.

Sempre teve um fraco por olhos claros mesmo, achava um charme. Mas jamais assumiria isso para ele.

Ontem mesmo já se reuniu com os funcionários para avisar dessa mudança. Leandro pareceu não ficar muito contente, inclusive tentando argumentar que não seria uma boa ideia. Ela apenas olhou dura para ele, e ele recuou.

Angélica se levantou devagar, foi para o banho e colocou uma roupa confortável. Hoje não sairia mesmo, então nada como trabalhar um pouco mais largada. Boa parte dos seus funcionários estava de folga, seria um dia tranquilo. Foi para a cozinha e preparou seu café, algo que pudesse comer em sua sala.

Abriu a tela do computador e começou a ler coisas relacionadas a fazenda. Foi quando ouviu uma batida suave em sua porta, e logo um Pedro Antônio vestido de moletom e levemente molhado entrou.

— O que é isso? Por que está molhado desse jeito? — ela perguntou confusa.

— Gosto de correr pela manhã.

— Na chuva? — ela perguntou, olhando rapidamente pela janela.

— Apertou agora. — ele se aproximou, sentando na cadeira na frente da mesa. — O que está fazendo?

— Vendo qual dos documentos dessa pilha eu vou ler primeiro. — ela respondeu com um sorriso cansado.

— Olha o documento que eu trouxe de Porto Alegre então, é um que temos que dar a resposta na segunda.

Angélica puxou a pasta e colocou na sua frente, pronta par ao trabalho.

— Eu fiquei sabendo que você e Miguel fecharam o acordo sobre a lagoa. — ele falou com um sorriso, as mãos no bolso do moletom.

— Fechamos, Senhor Miguel veio com uma oferta bem justa. Decidi não enrolar muito o homem, eu tenho um coração, você sabe. — ela disse com um sorriso sarcástico e Pedro riu.

— Sei, ele ficou todo feliz. — Angélica o olhou atenta.

— Falou com ele?

— Ele me ligou ontem mesmo depois que saiu daqui. Dizendo que conseguiu domar a fera.

— É um abusado mesmo. — ela respondeu, revirando os olhos.

Pedro Antônio riu antes de se levantar.

— A noite eu vou levar a Fernanda no bar da Olympia, quer ir?

Angélica desviou o olhar da tela do computador devagar, como se Pedro tivesse falado a coisa mais absurda da década. Olympia? Dona da vinícola Mademoiselle?

— Olympia?

— Você não sabia? Ela cansou da vida de só ficar em casa usufruindo de sua grande fortuna, então Alberto, seu marido, sugeriu que ela abrisse um negócio. Então ela comprou o bar da vila.

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