Don't do something you might regret someday

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Angélica sentia medo. De que ele a mandasse embora, de que ele dissesse que aquilo não era da conta dela, mas era sim. Era porque o amava, e para ela aquele sofrimento tinha que chegar ao fim. Miguel não podia ir embora, a vida dele era aqui, ele amava Monte Castelo, amava suas terras, a plantação. Isso era ele e Angélica não queria o perder. Era capaz de largar tudo e o seguir para São Paulo.

— Eu não esperava você... — ele respondeu em um sussurro, caminhando devagar até ela.

— Não vai embora, Miguel... — ela repetiu, buscando pelos olhos dele, que desviavam o tempo todo.

— Angélica... eu não tenho...

A ruiva puxou o papel amassado de dentro do bolso, abrindo a folha com mãos trêmulas, estendendo para ele.

— Aqui está a verdade... eu acredito em você... eu... — Miguel puxou o papel da mão dela. — Eu já acreditava em você.

Miguel viu o exame de toxicológico que seu advogado tinha mandado em seu e-mail alguns minutos atrás.

— O que faz com isso? — ele perguntou em voz baixa.

— Diego que conseguiu que esse laudo fosse liberado hoje.

O agrônomo a olhou surpreso. De tudo que acontecia, a ajuda de Diego era a única surpresa boa. Nesses últimos dias tinha certeza que o engenheiro estava fazendo de tudo para reconquistar a ex, mas isso provava que na verdade tudo que o homem queria era ajudar Angélica, e consequentemente, Miguel também.

— Você não precisa ir embora, Miguel. — ela disse de novo.

— Eu não estou indo embora por isso. — ele respondeu, jogando o papel no sofá. — Não entende? Não há nada para mim em Monte Castelo.

Angélica se aproximou dele, tocando o peito forte com sua mão gelada. Ele a olhava atentamente. Alguns fios ruivos estavam grudados no rosto pálido pelo frio e ele se segurou para não afastá-los. Não podia tocá-la se isso no futuro geraria arrependimentos.

— Não? — ela perguntou, o olhando. — E eu?

A voz dela era a cura para suas feridas, como ele gostaria de acreditar que ela estava ali de coração aberto, mas ele tinha suas próprias feridas com relação a eles, acreditar era uma palavra muito forte para o momento.

— A gente já se machucou muito, Angélica — ele respondeu.

— Eu nunca quis te machucar....

— E eu mais do que ninguém... nunca quis te machucar.

Miguel tocou o rosto dela suavemente.

— Você diz que tem que ir embora... porque não há terras produtivas para você... — ela sussurrou. — Pode usar as minhas... eu te dou minhas terras... mas por favor... fica.

Ela estava entregando tudo que tinha nas mãos dele. Tudo que tinha para ele pegar ou largar, para ele fazer dele. Angélica estava disposta a assinar suas terras no nome daquele homem para ele ficar, para ele lhe perdoar por seu orgulho, por sua arrogância.

— Me desculpa, Miguel...

— Não quero suas terras... e eu não tenho o que te desculpar... a culpa de tudo isso é minha. — ele falou firme, a olhando de maneira quente.

Seus corpos estavam tão juntos, suas respirações em um ritmo único, os corações batendo à um só estímulo: o amor que sentiam. A chuva batia forte na janela, o dia ia ficando escuro conforme as nuvens carregadas dominavam a região. A única iluminação da cabana era aquela lareira. As mãos frias escorregaram pelos braços fortes, pegando as mãos dele.

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