sabiá cantou

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Miguel dormiu profundamente depois de sua declaração. Não era um ''eu te amo'', mas para ele pareceu bastar. E para Angélica também. A ruiva deixou Miguel descansando e desceu para a cozinha onde Fernanda e Pedro Antônio estavam. Ela sabia que tinha passado dos limites hoje, e tinha mostrado um lado seu que ela tinha prometido manter escondido. Precisou Miguel ficar naquele estado para ela perceber que não conseguiria sustentar aquela versão por muito tempo, não com ele.

— Ele dormiu? — Pedro perguntou assim que Angélica entrou na grande cozinha.

— Dormiu sim, ainda bem. — ela respondeu com um sorriso tímido, olhando para Fernanda e Nana.

— Então senta, querida, come alguma coisa. — a senhora que cuidava da casa pediu antes de colocar uma panela de sopa na frente deles.

Angélica se sentou na frente de Fernanda, ao lado de Pedro. A loira a olhava diferente e a arquiteta tentava não transparecer desconforto.

— Obrigada por cuidar do meu irmão. — Fernanda finalmente falou. — É muito nítido seu carinho por ele, apesar de todos os conflitos.

Pedro tocou na mão de Angélica sobre a mesa e sorriu.

— Você me surpreendeu hoje.

A ruiva apenas sorriu, incapaz de responder sobre suas ações agora. Se a Angélica que chegou em Monte Castelo visse essa cena toda, provavelmente riria até não poder mais, sarcástica como sempre, ácida.

Depois que comerem, os três foram para a sala conversar um pouco. Angélica olhava para a escada toda hora, preocupada e atenta a qualquer som que pudessem ouvir. Nana subiu para levar a sopa, e foi naquele momento que Angélica aproveitou para subir também.

Fernanda olhou para Pedro e sorriu.

— Acho que é isso mesmo...

— Algo aconteceu entre eles. — Pedro comentou brevemente. — Talvez eles só estejam cansados de fingir que não sentem nada.

— Eu fico feliz pelo meu irmão. — disse Fernanda, sem entrar nos detalhes do porquê, segurando um segredo que não era dela.

Pedro apenas concordou, dentro de si também segurava um segredo. Estava igualmente contente por Angélica.

Miguel estava sentado na cama, Angélica tinha a tigela de sopa nas mãos, mexendo para esfriar e dar para ele. Ele tinha escutado a declaração dela, e ela estava tão mais leve perto dele. Uma mulher completamente diferente de dois dias atrás. Ela o olhava de relance.

— Eu sei que você está com fome, já vou te dar. — ela falou com um sorriso.

— Não é isso. — ele diz em uma voz calma.

Angélica o olhou atenta.

— Está com dor?

— Não. — Miguel respondeu rápido. — Quem... quem é você? Essa Angélica... eu nunca vi.

A ruiva entregou a tigela para Miguel, que pegou devagar.

— Essa Angélica eu mostro para quem eu gosto. — ela disse simplesmente.

— Então é verdade... — ele disse antes de levar uma colher da sopa á boca. —Por que fugiu de mim?

Devagar, Angélica se sentou ao lado dele na cama, apoiando as costas na cabeceira. Miguel a olhava intrigado. O fato dela ter ficado do lado dele o dia inteiro, ainda estar aqui, lhe dando essa sopa, demonstrando tanto afeto e carinho. Se fosse apenas um peso na consciência por terem tomado chuva juntos...

— Eu gostar de você não impede que eu tenha meus medos. — ela disse em um sussurro.

Miguel apoiou a sopa em seu colo e olhou para ela. Estava linda como sempre, mas apreensiva.

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