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Berenice arrumava as malas com a ajuda de Maria Antônia, voltaria para São Paulo em três dias, gostaria de organizar tudo para não deixar para cima da hora. Ela e a jovem ficaram bem amigas enquanto ela esteve em Monte Castelo. A filha de Seu Oxente era tão comunicativa, tão para frente, mas hoje ela estava tão calada, com uma feição tão abatida, como se não tivesse dormido bem.

— Está tudo bem, Maria? — ela perguntou com uma peça de roupa na mão.

Maria Antônia a olhou, mas seus olhos não focaram em Berenice, pareciam não focar em casa.

— Estou! — ela exclamou de maneira forçada demais, como se não fosse sair se não fosse assim.

Berenice colocou a roupa na mala e se aproximou na menina.

— Sabe que pode me contar qualquer coisa, não é?

Ela era advogada, ela sabia ler as pessoas, sabia dizer o que era verdade e mentira, e naquele exato momento, além de estar mentindo, Maria tinha medo.

— Eu sei. — ela falou em um sussurro.

Leandro entregou o dinheiro para o comparsa, que contou nota por nota, apenas para provocar o capataz. Olhou ao redor para ver se tinha alguém vendo essa troca, suspirou impaciente.

— Está tudo ai, imbecil.

— Ei, respeita. — o homem falou. — Me dói muito fazer isso com o senhor Miguel, mas você deve ter seus motivos.

— E tenho, não me questiona e só faz. — Leandro disse firme. — Hoje! Eu quero esse serviço feito hoje!

— Hoje? — questionou o comparsa surpreso. — Achei que fosse só mais pra frente.

— E acha que eu sou idiota de te pagar antes?

— Pode deixar, hoje mesmo vai estar feito.

— E vê se some, assim que o caos começar eles vão vascular tudo para ir atrás do culpado, se você for pego está sozinho nessa.

Angélica olhava para Olympia e ria. Elas conversavam sobre a peripécia de algum cliente da senhora. A ruiva estava voltando de Porto Alegre, tinha ido fechar a exportação de seu vinho com mais uma empresa. Seus negócios iam perfeitamente bem, o que deixava com um certo peso na consciência, pois os negócios de Miguel aparentemente iam mal.

O gado tinha voltado a beber de sua água, e como numa velha rotina, Angélica voltou a visita-los pela manhã, talvez uma tentativa de seu subconsciente a voltar no tempo. Seu coração partia um pouquinho toda vez que ele não estava. Manuel tinha sido sincero em lhe agradecer por retornar o acordo, pedindo desculpas por suas grosserias anteriores, e pedindo para a ruiva pegar leve com seu patrão, pois as coisas estavam difíceis.

Miguel também já tinha mandado Hugo para seu escritório para avisar que atrasaria no pagamento do aluguel, pedindo para ela ajustar os valores com juros. Aquilo deixou Angélica muito preocupada, e ela foi enfática em dizer para o rapaz informar a Miguel que ela não cobraria juros nenhum.

— Como estão as coisas... lá na fazenda Aguiar? — ela perguntou para Olympia enquanto mexia distraída em seu canudo.

A dona do bar suspirou.

— Nada bem, querida. Parece que a praga e a doença do gado geraram mais despesas do que nunca... três bois faleceram, infelizmente.

Angélica sentiu Diego se sentando ao seu lado. Seu ex parecia ter virado melhor amigo de Olympia, uma vez que eles descobriram tanto em comum. Ele finalizava o projeto de reajustes na fazenda da madame e por isso passou a se hospedar lá, ficando ainda mais próximo de Angélica.

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