quem dera pudesse esquecer

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Depois daquele dia no bar ele não tinha mais falado com ela, respeitando seu desejo de que ela não queria ser amiga de ninguém. Angélica, ou Poderosa, como agora todo mundo a chamava, ainda acordava de manhã para andar a cavalo e verificar a propriedade como um todo. Ainda ia até a lagoa ver o gado de Miguel. Ele nunca mais esteve por lá.

Aquilo a incomodava.

Não sabia o que era essa necessidade de vê-lo.

Sabia que ela estava ali, em um canto escuro de seu coração, sem que ela pudesse evitar.

— Dona Angélica. — escutou a voz de Leandro.

Ele chegava em seu cavalo, também para avaliar o gado.

— Bom dia. — ela falou.

— Quer que eu tire esses animais? — ele perguntou, um pouco mais entusiasmado do que ela esperava.

Angélica se voltou firme para ele.

— Não ouse encostar neles, Leandro.

O homem pareceu contrariado.

Fazia frio em Monte Castelo conforme o outono se firmava. Era sexta, quase uma semana que se viram no bar. Estavam quase no meio de junho. Eram muitas coisas para pensar e ela não estava afim de lidar com o a teimosia de Leandro.

— A senhora deveria romper esse contrato, logo esse homem vai estar pedindo mais terra.

— Quem decide isso sou eu.

— Deveria seguir meus conselhos, patroa. — ele falou com um sorriso. — Eu sou o melhor da região, não acharia um igual a mim.

Angélica se voltou com seu cavalo, cavalgaria para longe daquela ladainha que Leandro tinha de ser ''o melhor da região'', ela poderia achar outro se quisesse em dois segundos.

— Ninguém é insubstituível, Leandro.

Miguel olhava seus papéis, pensativo. Suspirou, jogou a cabeça para trás em sua cadeira. Girou-se para a janela. ''Não, eu não quero ser amiga de um caipira abusado.'' As palavras estavam frescas na sua mente como se tivesse sido ditas há segundos, e não há dias. Ela não queria nenhuma aproximação, isso era claro. Então por que ele simplesmente não conseguia seguir em frente daquela voz? Daquele rosto? Daqueles olhos?

O agrônomo passou as mãos pelo rosto, derrotado. Por um lado ele deveria levar a sério o pedido. Ele não seria boa companhia para ela também. Achava Angélica arrogante, mas ele também não era flor que se cheire. O fato de não conseguir parar de pensar nela, de sentir o coração acelerado só de saber que ela esteve na lagoa olhando seu gado... não era um bom sinal.

Miguel estava decidido a colocar um fim naquele acordo do gado. Não deixaria ela pensar que estava dependendo dela, daria um jeito, acharia outro jeito de matar a cede dos animais ou até mesmo venderia esse gado. Ele se levantou da cadeira rapidamente. Eram quase onze da manhã, imaginava que a essa altura ela já estivesse de volta ao casarão.

Fernanda estava na sala com seu computador, e achou curioso ao ver o irmão pegar as chaves do carro.

— Vai sair?

— Resolver um problema. — ele falou simplesmente antes de bater a porta atrás de si.

O agrônomo estacionou o carro na porta da sala dela minutos depois. Desligou o veículo, mas não saiu. Olhou para a grande casa e suspirou. Aquilo tinha sido só uma desculpa para vir até aqui, mesmo que fosse para brigar com ela. Só para vê-la. Seria ridículo para ele desfazer o contrato depois de tanta picuinha pela água, ainda mais que estava pagando um preço barato por ela.

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