wanna know you that good

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O dia seguinte veio mais rápido do que ela gostaria. Uma dor de cabeça gigantesca e uma cólica infernal. O combo do demônio. Ela se cobriu com a coberta, se encolheu em posição fetal, as mãos na barriga em uma tentativa fútil de fazer a dor passar. A médica disse que aquilo podia acontecer, uma dor mais intensa em um período pré menstrual. Era um lembrete de uma vida que um dia esteve ali... e ela nem conseguiu aproveitar. A perdeu sem saber que a tinha nas mãos.

Ouviu batidas suaves na porta, abaixou a coberta o suficiente para colocar os olhos para fora e ver quem entrava. Zenaide tinha um sorriso no rosto e uma bandeja na mão. Como uma mãe ela sempre salvava sua vida.

— Imaginei que não fosse querer sair da cama hoje. — ela falou com um sorriso, colocando a bandeja no pé da grande cama e se sentando.

Angélica se sentou direito na cama, ainda usava o vestido da festa. A ruiva se olhou confusa.

— Eu ainda estou com vestido de ontem.

— Miguel te trouxe para cama e você apagou, resolvi não te incomodar para tirar.

Um flash de memória invadiu sua mente e ela fechou os olhos com força. Não, não, não. Ela não fez isso. ''Quer?'' Ela se ofereceu, se jogou nele do nada. O beijou. E ele retribuiu. Os lábios dele eram macios e ele tinha gosto de suco de uva. A mão dele em sua cintura pareceu deixar marca, ela ainda conseguia sentir ela ali. Abriu os olhos e deu de cara com Zenaide a encarando confusa.

— Dor de cabeça. — ela esclareceu. — E um cólica horrível.

Zenaide sorriu compadecida. Colocou a bandeja no colo da ruiva e tocou sua mão.

— É assim mesmo no primeiro mês.

Angélica a olhou surpresa. Zenaide balançou a cabeça.

— Eu já tive meus abortos também, querida, é bem comum, infelizmente. — ela explicou e Angélica balançou a cabeça.

— Mas eu não falei para ninguém... eu nem sabia que estava grávida. — ela disse em uma voz sussurrada.

— Mulher sabe, meu bem. Pedro me mostrou uma foto sua vestida de noiva... ali eu soube. E quando você chegou aqui seu corpo estava voltando ao normal... só confirmou minha teoria.

Angélica abaixou a cabeça. Seria inútil realmente pensar que Zenaide não saberia. Ela lhe viu crescer, sabia o número de suas roupas até hoje. Provavelmente alguma coisa em seu corpo estava diferente para ela ter percebido.

— Não se preocupe... você vai poder ter outros filhos, olha eu com 4. — ela falou rindo.

— Não é isso... — Angélica respondeu. — É só que...

— Não deu tempo... eu sei como é. Mas essa dor some e quando você menos esperar mais estar com um chuchuzinho nos braços.

A referencia ao chuchu a pegou de surpresa.

— Que chuchu, tia? Está doida que eu vou ter alguma coisa com Miguel.

Zenaide gargalhou abertamente. Sua menina se comprometia sozinha, sempre foi assim.

— Foi jeito de falar... lógico que eu não espero que você e Miguel parem com essas brigas bobas e assumam o que todo mundo vê.

— A senhora está cheia das ideias, não é?

Zenaide saiu rindo e deixou Angélica sozinha para tomar o café vermelha como um pimentão. Essa história de amor e ódio ela já viu tantas vezes mas nunca se cansava. Um clássico que aquecia os corações até do mais severo fazendeiro. A ruiva não sabia, mas pouco a pouco ia se vendo cada vez mais rendida pelo agrônomo.

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