never let me go

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Pedro terminava de arrumar algumas coisas, era quase meio dia e não tinha ouvido de Fernanda ainda, ela nem ao menos apareceu no passeio que tinham combinado. Ele deduziu que a loira tinha dormido demais, por isso deixou passar. O rapaz terminava de organizar as rações, parou para pensar em sua segunda, mas não menos importante, preocupação.

Angélica estava estranha, parecia ter voltado a estaca zero de quando chegou. No dia anterior a ruiva gritou com cinco funcionários e passou o resto do dia trancada no escritório, sem querer falar com ninguém. Pedro não entendeu muito bem, mas quando Manuel veio questionar o que tinha se passado entre Angélica e Miguel, já que seu patrão estava com o mesmo péssimo humor, o amigo da arquiteta ligou os pontos.

Algo tinha acontecido.

Algo que ela certamente não falaria.

Ele sentia o corpo pegar fogo, ao mesmo tempo um frio que o fazia se enfiar mais e mais debaixo da coberta. Miguel sabia que dia era hoje. Era 25. Hoje era o dia. Sua mãe e Gisele foram para Porto Alegre na noite anterior, Fernanda ficou com ele, mas já no jantar ele não se sentia bem e foi para cama mais cedo. Sua barriga, especificamente onde fez o corte no galpão, doía em queimação, mas ele preferia sentir isso do que não sentir nada.

Durante a madrugada, ele variou entre o sono e o delírio. Uma hora se via em seu quarto, outra hora se via naquela maldita festa. Via seus amigos, via o garoto que dirigia o carro com Ana dentro. Via todos os seus demônios, todas as mulheres que já usou. Mas não a via, Ana não estava lá. Certamente porque foi direto para o céu, e naquele seu delírio, Miguel via uma prévia gratuita do inferno.

E então ele chorou e as lágrimas pareciam evaporar fácil em seu rosto quente. De olhos fechados, Miguel a ouviu. Ana estava ali do seu lado, ele sabia disso porque seu coração acalmou de repente.

''Eu te perdoei, meu amor. Você pode seguir em frente de coração aberto.''

— Miguel? — ele ouviu a voz de Fernanda longe. — Irmão... eu estou aqui.

Sentiu a mão macia de sua irmã em seu rosto.

— Meu Deus... você está queimando... — e então ele dormiu novamente.

Pedro sentiu seu telefone vibrar no bolso, sorriu ao ver que era Fernanda.

— Oi! — ele atendeu animado.

— Oi, Pedro. — a voz dela era preocupada, o que automaticamente o preocupou também.

— Está tudo bem?

— Então... sabe a noite do pijama que eu tinha combinado com a sua irmã? Não vai dar... o Miguel está ardendo em febre, está péssimo... vou ficar com ele hoje.

Pedro ficou atento, agora sua preocupação transferida para o amigo.

— Quer que eu vá aí? — ele perguntou.

— Olha... eu vou aceitar se você puder passar na farmácia para mim e trazer o melhor remédio para febre e dor que tiver...

Ele não sabia porque, mas sentia que Angélica gostaria de saber sobre Miguel. Naquele dia os dois pegaram uma baita chuva, provavelmente ela ficaria preocupada. Pelo menos era o que Pedro gostaria que acontecesse. Caminhou na direção da casa, indo direto para o escritório. Entrou sem bater, ela estava concentrada em alguns documentos.

Angélica olhou para Pedro sem levantar a cabeça, logo voltando a atenção para seus documentos.

— E então? Vai me contar o que aconteceu no dia da chuva? — ele perguntou direto, sem tempo para enrolar.

Ela apenas o olhou novamente.

— Tem alguma pergunta de verdade? — ela respondeu no mesmo tom que ele.

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