angels like you can't fly down hell with me

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Miguel chegou em casa cansado. Depois de deixar Angélica em casa e orientar Zenaide sobre os medicamentos que ela teria que tomar, voltou para sua fazenda. A ruiva o agradeceu mais uma vez, mas ela estava fechada ainda.

Ele aceitava.

Fernanda, Tereza e Gisele estavam na sala conversando, e sua mãe perguntou o que tinha acontecido para ele sumir daquele jeito, afinal eles tinham visita. Ele passou reto, não queria falar e muito menos fazer sala para ninguém. Poderia parecer rude, mas pouco se importava, estava cansado.

Sentou-se na cama, abrindo a mesa de cabeceira devagar. Já escurecia, então ele acendeu o abajur enquanto abria a bíblia. Tinha virado um homem de fé, apenas de tudo. Quem o conhecia há 10 anos, hoje poderia até rir. Ele abriu o livro sagrado, mas hoje não era para ler. Ele tocou na foto devagar, o rosto bonito e delicado ao lado do seu, um grande contraste.

''Miguel chegou na festa e os olhos brilhavam. Era a última festa da faculdade e ele queria curtir. Seus amigos já estavam em um canto mais escuro da casa, fumavam, bebiam e usavam drogas. Era sua tríade perfeita. Mas a mulher ao seu lado segurava firme em sua mão.

— Eu sei que você consegue aguentar as tentações. — a voz suave falou.

Miguel olhou para Ana e segurou sua mão mais forte.

— É... acho que eu consigo sim.

Ana tinha o conhecido no segundo ano da faculdade, ela era da turma de veterinária, entrou no mesmo ano em que Miguel. Ele, no curso de agronomia, morava em um apartamento com outro menino na cidade quente no interior de São Paulo. Ele nunca tinha a visto, e até então sua vida estava indo de mal a pior.

A faculdade era puxada e os professores exigentes. Com isso, ele começou a usar o que a maioria de seus colegas de sala usavam. Aquele pó branco que fazia mágica. Suas notas subiram, seu rendimento melhorou. O problema era que quanto mais ele usava, mais seu corpo pedia mais. Ele achava ter controle de tudo, mas sabia que não tinha.

Ana entrou na sua vida a força, foram colocados juntos em um projeto de extensão entre a agronomia e a veterinária. Ele nem ao menos se lembrava direito, mas sabia que era algo entre gado e solo. Ana sempre soube melhor, e levou o projeto nas costas. E ele também. Ela tentou começar a ajudar, tirar ele do vício.

Miguel era rude com ela nesses momentos, um grosso sem limites. Mas Ana estava entregue na missão de salvar o homem que amava. Foi em uma noite juntos, depois que Miguel saiu de uma festa, que eles se entregaram ao amor. Ele tinha sido o primeiro de Ana, ela... uma das várias desde que ele tinha entrado na faculdade. A manhã seguinte foi um caos sem precedentes.

Mas ela não desistiu dele, e desde então vinha tentando fazer ele sair do vício. Os pais de Miguel não faziam ideia, Ana sempre dava um jeito de o deixar apresentável para não levantar suspeitas.

Ana era um anjo, e Miguel não a merecia.

Se sentia sujo cada vez que se deitava com ela, mas ela parecia se sentir viva com ela, o ajudando, o tentando puxar para cima com ela, para um lugar que ela certamente iria e ele não.

Seu anjo tinha cabelos castanhos, olhos verdes e gostava de Monte Castelo do Legião Urbana. Um dia ele acordou com o som suave em seu rádio, ela estava fazendo o café para eles, cantava suavemente. Ela nunca tinha ido para Monte Castelo, sua casa, mas Miguel prometia a levar um dia.

Ana se afastou para conversar com uma amiga, e ele se aproximou dos meninos. Ele era um rapaz de 22 anos, que se formaria logo menos. Queria curtir, mas tinha prometido para Ana que não faria nada hoje, nem ao menos beberia. Mas as horas foram passando, e a resistência dele diminuindo. Foi quando pegou uma cerveja.

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