Não sei quem é você

16 0 0
                                    

Os olhos azuis imploravam por misericórdia, para que ela não o expulsasse dali. Angélica o olhava sabendo que Berenice tinha razão, era melhor escutar o que ele tinha para dizer, afinal de contas ele voltou. Ele tinha emagrecido, os músculos sempre tão fortes hoje pareciam menores do que ela tinha visto da última vez. Diego estava nitidamente fraco, emocionalmente também.

— Entra. — ela falou em um sussurro.

— Obrigada. — Diego respondeu com um sorriso.

Ele estendeu as rosas, Angélica as pegou e as levou até a cozinha. Diego a seguiu de perto, olhando a casa com curiosidade. A ruiva abriu um lixo perto da pia e jogou as flores dentro. Ele respirou fundo, certamente deveria estar esperando essa reação. Já era grande coisa ela ter deixado ele entrar. Angélica se voltou para ele de braços cruzados.

— Não quero suas flores... quero saber o que está fazendo na minha casa. — ela disse simplesmente.

— Eu não sei nem por onde começar, Angélica... — ele respondeu em um sussurro.

Angélica soltou um riso.

— Eu imagino, com o tanto de coisas que fez eu também não saberia por onde começar.

— Berenice e Duplex estão aqui? — ele perguntou sem graça.

— Estão... vieram passar férias...

— Posso voltar outra hora se quiser...

— Agora você já está aqui... fale. — ela pressionou.

Diego se aproximou, não perto o suficiente para se tornar uma ameaça, mas perto o suficiente para que Angélica sentisse sua presença. O engenheiro buscou sua mão, tentando um contato, mas ela recuou.

— Não... — ela disse. — Só fala.

— Eu sinto muito, por tudo que eu fiz com você... por ter te abandonado... por ter...

— Eu estava pronta para construir a minha vida com você, Diego... acha mesmo que um 'sinto muito' vai concertar o que você fez?

— Angélica...

— Eu estava grávida, Diego... eu perdi meu marido e meu filho no mesmo dia... será que algum dia eu cheguei à tê-los?

Aquilo o pegou de surpresa e preferiu ficar mudo a partir daquele momento. Talvez o ódio que ela sentia por ele era maior do que ele esperava. Preferiu desviar o olhar, a vergonha sendo maior do que todos os sentimentos juntos.

— Eu sei que nada do que eu disse vai fazer você mudar sua visão sobre mim. — ele começou, antes de olhá-la. — Mas eu estou disposto a tentar, eu ainda acho que é tempo para nós.

Angélica desviou o olhar, balançando a cabeça, lembrando dos únicos olhos claros que surtiam algum efeito sobre seu corpo naquele momento e eles estavam longes se serem o que ela queria ver agora. Sua cabeça trabalhava em alta velocidade, pensando em como poderia explicar para o homem que iria casar há dois meses que a essa altura outro homem dominava seu coração.

Naquele momento ela se perguntava se ao menos o amou.

— Nosso tempo acabou quando você foi embora com sua secretária, Diego.

— De verdade? — ele perguntou.

— Não acabou para você? Quando você entrou no carro com sua secretária... não acabou para você ali? — Angélica retrucou. — Pra mim acabou...

Diego passou a mão pelo rosto.

— Eu não achei que fosse ser fácil... te ver de novo, mas só de você ter aceitado conversar comigo... eu sinto que eu ainda tenho chance de concertar o que eu fiz... — ele a olhou bem. — Mesmo que você já esteja interessado em outro.

Monte Castelo Onde histórias criam vida. Descubra agora