Em outros olhos procurei por você

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— Isso só pode ser brincadeira. — Miguel exclamou olhando para Manuel. — Me diz, está brincando comigo.

— Não, patrão, de jeito nenhum. E eu só quis falar com o senhor depois que a veterinária confirmasse esse negócio.

Miguel passou as mãos pelo rosto, inconformado com a notícia. Todo seu gado estava infectado por uma bactéria que tinha sido encontrada na água que Miguel tinha comprado já que o acordo tinha sido quebrado. Todos estavam péssimos de saúde, isso só podia ser alguma espécie de cobrança de dívidas que Deus fazia com ele. Muita desgraça de uma vez só podia ser isso. Primeiro a praga, agora seu gado. O que mais faltava?

— Patrão? — escutou a voz de Hugo atrás dele e respirou fundo antes de virar.

Conhecia o jovem bem o suficiente para entender que aquela voz significava mais problema. Hugo tinha tirado o chapéu como se alguém tivesse morrido, o que fez o coração de Miguel parar.

— O que foi, Hugo?

O rapaz respirou antes de começar a falar.

— É sobre a Angélica...

— O que aconteceu com ela? — Miguel perguntou rapidamente, preocupado.

— Nada! — Hugo afirmou logo. — Quer dizer... não sei...

— Fala, Hugo!

— É o ex-noivo! O homem que deixou ela plantada na igreja. — ele falou nervoso. —Estava lá no bar da Olympia almoçando, dizendo que queria reconquistar a ruiva.

— Como é? — Miguel perguntou nervoso. — Quem esse canalha pensa que é?

— Não sei, patrão, mas você tem que mostrar quem é! Vai atrás da sua ruiva.

Angélica caminhou devagar até Pedro, aproveitando o sol raro que fazia na região em meio ao inverno rigoroso. Apertou mais ainda o casaco ao seu redor, segurando firme seu chicote de montaria. Pedro conversava com outro funcionário sobre um problema em animais, algo sobre bactéria e isso chamou sua atenção.

— Algum problema com as vacas? — ela perguntou, se aproximando deles.

O funcionário deu bom dia e saiu logo dali, Pedro riu da reação do homem e Angélica revirou os olhos.

— Não, com os nossos tudo certo. — ele falou, colocando a mão no bolso. — O problema é na fazenda do Miguel... os gados adoeceram.

— Como? — ela perguntou, tentando esconder a preocupação.

— Alguma coisa na água, Manuel disse que estão péssimos.

Por um lado ela se sentia o pior dos seres humanos. Se os animais tivessem continuado em sua terra para beber água isso não teria acontecido. Por outro lado, irresponsável era Miguel que não pesquisou a procedência da água que comprou.

— Isso é ruim. — ela comentou casualmente.

— A fazenda toda está em crise... há dias era uma praga na plantação. — Pedro comentou, balançando a cabeça.

— Por que não me falou isso antes? — ela questionou levemente irritada e Pedro achou graça.

— Por que iria querer saber?

Pega no pulo, Angélica tentou achar uma saída. Gaguejando, a ruiva começou a atropelar as palavras.

— Ué, porque... porque a Zenaide compra os alimentos de lá, e se a gente acaba comendo alguma coisa envenenada?

O homem riu. A sorte de ter crescido com Angélica era saber exatamente quando ela ficava sem graça ao ser pega em flagrante. Ela podia enganar a todas com essa postura de indiferença sobre Miguel, como se a história entre eles nunca tivesse acontecido, mas não enganava Pedro.

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