Capítulo 19

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Como ela iniciaria aquela conversa? Lhe doía magoar aquele homem, por mais desequilibrado que ele tenha se mostrado nas últimas horas. O conhecia desde criança, sempre foi o seu melhor amigo e companheiro de todas as horas. Em um período de sua adolescência, até chegara a nutrir sentimentos amorosos por ele, mas que não demorou a serem descartados. Ele era seu melhor amigo, confidente e porto seguro, como todo amor e parceria tinha se transformado em pavor, em tão pouco tempo? Será que o ruivo sempre havia tido aquele lado obscuro e ela nunca percebeu?

Lili analisou o ambiente em volta, notando que as pessoas pareciam distraídas demais consigo mesmas para dar atenção a qualquer outra coisa. O olhar da loira parou no homem que estava a sua frente e ele comia as suas batatas enquanto a fitava com algum tipo de expectativa: o que será que estava esperando? De certo, não o que viria a acontecer.

— Há quanto tempo vem sentindo esses desejos? – Perguntou sorrindo.

Ela piscou algumas vezes tentando buscar sentido naquela pergunta, mas nada encontrou, afinal, não sentia desejo algum.

Era mentira, se fosse sincera consigo mesma, admitiria que sentia muitos e todos envolviam o ex-marido e partes do corpo dele. Mesmo com o que vinha passando nas últimas horas, tirar o moreno de sua cabeça se tornava uma tarefa cada vez mais difícil.

Cole poderia estar longe, mas ainda a confortava. Quando o medo vinha apoderar-se ela, era do seu lindo sorriso, maravilhoso cheiro e o sabor delicioso de seus lábios que lhe tomavam os sentidos. Ela tinha sido sincera quando dissera que o tinha perdoado e o queria desesperadamente, por que não dar uma chance aos dois? Afinal, era por ele que cada centímetro do seu corpo gritava e implorava, mesmo que sua cabeça fosse quase totalmente contra aquela ideia. Quase.

— Está me escutando? – Chamou-lhe a atenção.

— Sim. Kj, eu preciso conversar com você – ele sorriu e os olhos castanhos brilharam de expectativa. De repente, ela sentiu-se tão mal.

— Querida, não precisa se preocupar com a minha reação, eu quero isso tanto quanto você ou até mais...

Sério? Esperava, do fundo do coração, que estivessem falando sobre a mesma coisa. Tudo o que queria era sair daquele relacionamento sem que sua amizade de anos fosse prejudicada. Podia ser egoísmo de sua parte, mas não queria perdê-lo e tampouco que o ruivo saísse totalmente de sua vida.

— Depois de tudo o que aconteceu ontem... – O sorriso dele desapareceu.

— Sobre ontem? Querida, aquele não era eu. Esses dias, longe de você, mostraram-me que não posso viver sem te ter na minha vida, pois, adoeci e quase enlouqueci de saudade. Passei dias tentando te ligar e quando retornei para casa não a encontrei, isso me apavorou. Eu tive medo, fiquei desesperado e acabei bebendo tudo o que tinha em casa. Estou envergonhado, acredite. Não queria que visse naquela situação e tampouco que ficasse com medo de mim. Só quero que entenda que, sem você, eu não posso viver. Nem sei o que faria se um dia me deixasse...

Ele estava sóbrio, mas parte do seu discurso beirava a loucura. Por qual motivo aquilo lhe parecia uma ameaça velada? Horas atrás ele dera a entender que era capaz de qualquer coisa para tê-la e diversas loucuras lhe passaram pela cabeça, mas seria ele capaz de tirar a própria vida caso o relacionamento deles chegasse ao fim? Poderia ela lidar com a culpa da morte de uma pessoa? Embora o seu característico sorriso não mais ocupasse o seu rosto, o homem lhe parecia estranhamente calmo e em paz, como se, dizer tais coisas, fosse comum e natural.

Lili não queria que nada acontecesse àquele homem, o amava, não como amava o ex-marido, mas tinha por ele um sentimento de amizade. Ele era como um melhor amigo ou até mesmo irmão. Era obvio que queria a felicidade e o bem-estar dele, no entanto, de que adiantava ficar ao lado do ruivo se não fosse feliz? De nada, pois, também não conseguiria o fazer.

christmas reconciliation ˢᵖʳᵒᵘˢᵉʰᵃʳᵗ ❜.Onde histórias criam vida. Descubra agora