A Maior Arte - Parte 2

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Lembrança

Nasci em uma vila normal como todas as outras, crescendo em meio a uma forte tempestade que ocorria, tive um parto um tanto difícil. Felizmente pude nascer sem problemas ou dificuldades. O meu crescimento foi a única coisa que se provou meio falho, eu era mais baixo que os outros garotos, o que era estranho para meus pais, mas não foi o maior dos problemas. Como eu era filho de pescadores, sempre acompanhei os trabalhos que minha família fazia de perto, o trabalho de limpar o peixe para o vender, de limpar o mar dos lixos que tinham, de caçar caranguejos para também vendê-los como comida. E sinceramente, aquilo não me chamava atenção, o que realmente despertou algum interesse em minha vida foi o falecimento de meu avô por conta da idade. Ele e eu não éramos muito próximos, ele nunca gostava de conversar e apenas fazia seus trabalhos e suas pinturas em casa, eu não sabia se ele era surdo, mas pelo jeito que minha mãe agia com ele, não.

Em sua morte, o enterramos em um pequeno cemitério que havia na vila. Ver o corpo sem vida não me trouxe tristeza; pelo contrário, encontrei beleza ali, no fim de sua vida, em seu corpo morto... era algo bonito de se contemplar. No entanto, eu sabia que isso não era comum. Em casa, alguns dias depois, conversei com minha mãe sobre meu avô. Ela me contou algumas histórias e feitos dele. Pelo que entendi, em seu auge, ele era uma espécie de "caçador de criaturas", como minha mãe descreveu, e era um dos melhores nisso. Ele passou suas habilidades para minha mãe. Além disso, ela compartilhou outras histórias dessa vida de "caçador", histórias das quais eu não tinha conhecimento, mostrando cada vez mais como a morte dele foi algo realmente especial. É claro que minha mãe ainda escondeu alguns fatos, mas eu entendi o motivo dela ter feito isso. Eu era uma criança, ingênuo... provavelmente não entenderia o significado de ser um "caçador de criaturas".

Mas um dia, quando eu tinha quatorze anos, outro acontecimento fatídico trouxe a tona mais duvidas em minha mente...

Meus pais saíram para uma de suas pescarias, como costumavam fazer uma vez por semana. Era algo normal, então não me preocupei. Como sempre, fiquei encarregado de cuidar da casa, e assim o fiz. Mas o tempo passava... e passava... e passava cada vez mais, eles ainda não haviam retornado. A noite chegou e eles não estavam de volta. Preocupado, aguardava ansiosamente por notícias. Até que bateram à minha porta. Quando a abri, deparei-me com duas pessoas: uma chorando e outra séria. Eram moradores da vila. Contaram-me que encontraram meus pais. Fiquei aliviado, um sorriso subiu em minha face e pedi que me dissessem onde eles estavam. Ambos apertavam os punhos e desviaram o olhar, ao invés de me contarem, me conduziram até onde minha família estava, e lá os achei... mortos, sem vida. Eles foram vítimas de um acidente no mar. A mesma tempestade que ocorreu no dia do meu nascimento retornou para tirá-los de mim. Fiquei em absoluto silêncio, observando seus corpos.

-Não é igual... - foi a única coisa que pude pensar na época. -Por que a morte do meu avô foi tão bela, mas a morte deles foi tão... triste...?- Meus sentimentos eram inexplicáveis naquele momento. Isolei-me por vários dias, afastado de todos, sendo cuidado por amigos da minha família até atingir a fase adulta. Nesse período, todos da vila pareciam ter me esquecido. Muitos me achavam estranho, pensavam que eu havia enlouquecido, pois comecei a comprar telas para pintar... pintar corpos sem vida. Tentei encontrar o sentimento que experimentei ao ver os corpos de meus parentes, cheguei até a pegar animais marinhos para matar e desenhar, mas nada... Eu não sentia nada semelhante à morte do meu avô.

-Eu nem o conhecia direito, então por que sua morte era tão bela!? POR QUÊ!?- Estava realmente enlouquecendo, apenas queria encontrar uma resposta, mesmo que fosse a mais idiota. Apenas uma resposta acalmaria meu coração.

Caminhava pelas ruas, sem encontrar respostas, sentindo-me vazio. Meu corpo emagreceu; fazia algum tempo que não comia e nem me importava... Passei pelo cemitério onde meu avô e meus pais foram enterrados e fiquei olhando suas lápides por um bom tempo...

Kimetsu no Yaiba: SwapOnde histórias criam vida. Descubra agora