Cavalheiro da Noite

Cap 1: O medo

Escócia inverno de 1474

   Sem se importar com o frio e a bruma, Mew Suppasit observava as criaturas emergindo dos subterrâneos de Cambrun, seu castelo no topo da montanha, rumo a floresta abaixo da propriedade. Os uivos selvagens que assustavam suavam como música em seus ouvidos, o obrigando a lutar contra o impulso de acompanhá-los. Eles iam se alimentar na floresta e Mew Sentia-se feliz adivinhando o prazer dos membros de seu clã ao cumprirem seu destino. Contudo, em breve teriam de aceitar a mudança que o futuro traria.

   — Não vai acompanha-los? — Perguntou seu primo Thorn ao aproximar-se.

   — Faz tempo que não os acompanho, pois consigo resistir ao desejo dentro de mim. Você também sente muito desejo?

— Sim, mas também resisto. Faz 4 anos que me juntei a eles na caça pela última vez, e agora me isolo como você. Não podemos correr o risco de que os mortais nos vejam com eles.

  — Antigamente, o medo que os mortais nutriam por nós era nossa defesa, mas este mesmo medo terminará por lhes dar forças para destruírem nosso clã. Hoje em dia, nossa força e vulnerabilidade se transformaram em lendas nas quais não mais creem, e já não receiam os seres da noite. A igreja conquistou o coração dos mortais e eles não toleram mas os demônios. Tar, um sangue puro, foi capturado a um mês.

  — Eles o mataram?

  — Sim, comandados por um padre. Os mortais o torturaram, deceparam sua cabeça e o queimaram até desaparecer por completo. É este o destino que nos espera se não mudarmos. Você e eu somos a prova de que podemos mudar pois temos sangue híbrido e pertencemos a ambos os mundos. Temos de agir como nossos pais se quisermos impedir o desaparecimento da linhagem Suppasit.

   — O que quer dizer, Mew?

   — Temos de misturar nosso sangue ao sangue dos Mortais para que nossos descendentes aos poucos percam os traços que nos tornam temidos e isolados.

  — Nós dois não somos tão diferentes dos sangue-puro.

   — Mas somos diferentes o suficiente, e eu consigo até mesmo suportar um pouco da luz do sol. Inúmeras geração será o necessárias para eliminarmos os traços que ainda carregamos, porém conseguiremos. Somos Lordes e devemos comandar nosso plano: temos de dar o exemplo casando com noivos Mortais.

— Muitos de nossas comandados não aceitarão a mudança e nos desafiarão.

— Enfrentaremos o desafio quando ele aparecer. Quanto tempo passará antes que os mortais não mais se contentem em matar somente aqueles dos nossos que caírem em suas mãos por Infortúnio? Eles conhecem nossos castelos, e cedo ou tarde nos atacaram para exterminar nossa raça.

  Suspirando, Thorn desviou o olhar e fitou a floresta montanha baixo, iluminada pela luz da lua cheia.

  — Compreendo sua preocupação, Mew, mas como desistir de ser aquilo que somos e que nos torna os Suppasit?

  — A mudança já começou, meu caro, e a outros como você e eu. O Casamento entre seres da mesma família também traz desvantagens e era inevitável que aos poucos alguns dos nossos se juntassem aos Mortais. Temos de trazer sangue novo ao clã pois é a única maneira de continuar a linhagem dos Suppasit.

  — Não será fácil encontrar homens mortais que nos aceitem e queiram desposar.

  — Mas será possível. E mais uma vez, tanto a sua existência como a minha provam isso. Nossos maridos terão de nos aceitar sabendo quem somos, caso contrário poderão se transformar em inimigos ao descobrirem.

  — Compreendo os motivos pelos quais deseja transformar nossa linhagem, Mew, mas preciso de tempo para aceitar.

  — Terá o tempo necessário. De qualquer modo, é imperativo que eu tenha um aliado forte ao meu lado: posso contar com você?

  — Minha lealdade a sua pessoa é indestrutível, meu Lord.

  — Obrigado, Thorn.

  — Não crê que ainda deve refletir sobre sua decisão?

  — Minha decisão está tomada: mudar nosso sangue misturando ao sangue dos mortais é a única maneira de perpétua a linhagem dos Suppasit. Caso contrário, também nós nos transformaremos em lendas que serão esquecidas com o passar do tempo.