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Acordei deitada em uma cama hospitalar, com uma máscara de oxigênio presa ao meu rosto. O ar tinha um gosto levemente salgado, que identifiquei como sendo soro fisiológico. 

Uma faixa de gaze enrolava minha mão, deixando apenas os dedos livres. Saihara estava sentado na cadeira ao lado da cama, segurando minha mão livre, me observando atentamente. 

- S/N! MEU DEUS, VOCÊ ESTÁ BEM! - ouvi a voz de Kokichi ao fundo, e percebi Saihara suspirar em alívio.

Prestei mais atenção ao ambiente. Angie e Kokichi estavam sentados em duas cadeiras estofadas no canto oposto de onde eu estava. Não estava em um quarto. Apenas em uma maca de pronto socorro rodeada de cortinas, separando as outras camas umas das outras, dando mais privacidade aos pacientes. 

Tentei sentar na cama, sentindo uma dor aguda na perna subir até a coluna. 

- Ei, ei. Calma, não faz esforço. - Ouvi a voz de Shuichi, que apertou minha mão. 

- S/n? Você está bem? Ainda está doendo muito? - Angie perguntou, sentada na beirada da cama. Kokichi logo atrás, com o queixo escorado no topo da cabeça dela. 

Fechei os olhos. Lembrava do carro de Rantaro em chamas. 

- Rantaro está bem? 

Senti o corpo de Shuichi enrijecer. 

O pequeno cubículo de cortinas que nos encontrávamos entrou em silêncio. Só ouvíamos enfermeiras andando de um lado para o outro, crianças chorando e objetos caindo. 

- Ele morreu, S/n. - Kokichi disse em tom baixo, parecendo segurar o choro. 

- Não, ele não morreu, ele só~

- O corpo dele carbonizou. As partes que sobraram foram raspadas do asfalto com uma pá. - Shuichi disse, com um tom de assustadora indiferença, como se anunciasse que Rantaro tivesse simplesmente ido tomar sorvete no parque, e que voltaria em 10 minutos.

Ouvi o motor do respirador parar. Tirei a máscara, deixando-a presa no pescoço. 

Encarava minha mão enfaixada e as linhas dos lençóis que tinham um leve cheiro de água sanitária. 

Eu não queria acreditar.

Hoje mais cedo ele estava tocando no Mels Drive-in, e parecia tão...

...feliz. 

Uma enfermeira entrou, pegando minha máscara, e trazendo uma bolsa de algum líquido que não consegui identificar, seringa e tubo. 

- Você vai tomar analgésico na veia por causa de sua perna. - ela disse, preparando os utensílios. 

- O que aconteceu na minha perna?

- Não sei. - Angie respondeu. - Acho que queimou, assim como a sua mão. - olhei para a faixa de gaze. - E, parece que você forçou o músculo ou algo assim, não sou médica, desculpa. 

A enfermeira soltou uma leve risada, explicando a situação. 

- Você feriu o músculo. Porém, não foi nada grave. Você terá que tomar apenas anti-inflamatórios, nada mais. Pode ficar tranquila. - ela disse, pegando minha mão livre que Shuichi segurava, recebendo um olhar de reprovação do mesmo. Introduziu a agulha na dobra do meu braço, e senti o líquido gélido descer tortuosamente pela agulha. 

- Está doendo? 

- Um pouco. 

Ela regulou a dosagem do remédio.

- Melhor?

- Melhor. 

- Volto daqui uma hora. O médico já está trabalhando na sua receita médica. Você está na escola, certo?

ᴍᴀɴɪᴀᴄ!Onde histórias criam vida. Descubra agora