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- Já é a sexta vez que você acorda nessa noite, S/n. - Shuichi disse com a voz levemente falha, olhando para mim com certa curiosidade e indignação. 

Olhei para o relógio digital na parede. 3:15 da madrugada. Tentei me sentar na cama, sentindo a minha perna doer. Amanhã eu teria aula, e a minha perna não parecia querer colaborar. 

- É, eu sei. - Respondi, tateando o criado mudo em busca de uma garrafa de água. Shuichi levantou, caminhando no escuro até o meu lado da cama. Acendeu a lâmpada do abajur, agachando-se para ficar com o rosto rente ao meu. Os cabelos estavam bagunçados e a camiseta branca levemente amassada. O rosto tinha uma clara expressão de cansaço, já que passou duas noites seguidas praticamente em claro. 

Tentei olhar para qualquer coisa que não fosse seus olhos. Eu sabia que Shuichi estava analisando alguma coisa. Fosse a minha postura, lendo meu comportamento ou meu olhar perdido. Fosse o que fosse, eu queria evitar olhar para ele. Sentia que estava apenas o atrapalhando. 

- Você acha que está me atrapalhando, né?

Esse cara definitivamente lê pensamentos. 

Encarei o ponto logo acima do ombro esquerdo dele, para que desse a impressão de que olhava para o seu rosto. Um truque mental bobo, porém eficaz.

- Eu sei que você não está olhando para mim, S/n. Esse tipo de truque não vai funcionar.


Fechei os olhos com força, desejando apenas que aquele momento constrangedor passasse logo. Senti a mão gélida de Shuichi entrar em contato com a minha bochecha, direcionando meu campo de visão diretamente para ele. 

- Eu não estou me sentindo sobrecarregado por cuidar de você, S/n. 

Apertei os lençóis em resposta.

- Olha... acho que eu nunca tive a oportunidade de te dizer isso antes, por conta de.... - ele mordeu o próprio lábio, me fazendo lembrar de Rantaro. Senti um nó descer pela minha garganta. - Mas...é...

Shuichi apertava os lençóis com força, as bochechas levemente vermelhas. O conhecendo como conhecia, eu sabia que sem um empurrão ele ficaria preso naquela para sempre.

- Pode falar, Shuichi.

Percebi ele morder o interior da bochecha levemente. Ele direcionou o olhar para a janela, vendo o céu pelas finas cortinas. A luz da lua refletia na escrivaninha. Reparei no brilho que os olhos de Shuichi emitiam quando contra a luz da lua. Seu olhar transmitia certa ansiedade, e eu quase sentia na pele os batimentos cardíacos acelerados que ele provavelmente sentia naquele momento. As mãos pálidas afrouxavam e intensificavam o aperto dos lençóis - o ritmo dos movimentos assustadoramente perfeito, quase que matematicamente calculado. Os fios escuros em leve e constante movimento pela leve brisa que saia de uma fresta da janela. Mas algo me chamou especial atenção naquela madrugada de domingo. O olhar.

Aquele olhar.

Perdido, vazio, sem nenhum sentimento expresso. Embora o corpo inteiro reagisse de um jeito, os olhos eram o oposto. Eram apenas vazios.

Desviei o olhar. 

Shuichi foi até a janela, escorando-se no batente. Abriu a janela, inundando o quarto com a gélida brisa noturna.

- Eu gosto de você, S/n. Desde o seu primeiro dia aqui, eu...

Ele engoliu em seco, como se procurasse as palavras certas para usar.

- Desde o seu primeiro dia aqui você me chamou a atenção... assim digamos.

- Em que sentido?

Ele suspirou, tamborilando os dedos no batente da janela.

- Você foi a primeira pessoa que me tratou bem desde quando eu entrei na escola.

- Ah, Shuichi...

- E eu pensei que poderíamos... ficar juntos algum dia, mas... Rantaro te conquistou antes.

Um silêncio de ambos se instalou no quarto. Shuichi olhava monotonamente pela janela.

- Bom... pelo menos, agora, ele é um obstáculo a menos... né?

- Hm?

- É... tirar Rantaro do caminho foi só o começo, né?

- Shuichi?

Um sorriso assustador tinha se formado em seus lábios. As mãos pareciam tremer um pouco, e a respiração tornara-se pesada. Shuichi começou a apresentar mudanças comportamentais muito frequentes, ultimamente.

E estavam começando a sair de controle.

- Shuichi....?

Ele pareceu voltar para si. Parou de sorrir e controlou a respiração.

- Aah... - ele soltou uma risada anasalada. - desculpa se te assustei.. é só muuuuita coisa acontecendo ao mesmo tempo, aha.... - ele passou os dedos pelos cabelos, sorrindo um pouco. - parece que ontem você namorava Rantaro... e hoje já transou comigo... é... minha noção de tempo está um pouco distorcida...

- Acho que você precisa descansar. 

- É... realmente, talvez eu precise.... vou na cozinha, se importa..?

- Não, claro que não...

Ele saiu do quarto em passos arrastados, e fechou a porta.

Todos as coisas que me disseram sobre Shuichi voltaram na minha mente. Todas as coisas. Todas. 

Senti um calafrio subir na espinha. 

Peguei o celular, mandando mensagem para Angie.


Angie <3

Oi, Angie

Desculpa mandar mensagem agora

Pode vir aqui cedo, por favor?

Preciso falar com você.


Suspirei, colocando o celular na cômoda, deitando-me novamente.

Shuichi aparentemente demoraria para voltar. Decidi tentar dormir.

Senti mais um calafrio na espinha.

Não de dor, mas de medo.







''Eu espero que ela olhe para mim, e pense

'Merda, ele é tão lindo...'''

Juliet- Cavetown.


















DO YOU ACCEPT MY CONFESSION?~ <3


ᴍᴀɴɪᴀᴄ!Onde histórias criam vida. Descubra agora