31- Lamentos

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Faz quatro dias que o grupo retornou do inferno, quatro dias onde Max mal se levantou da cama, comeu ou se quer tomou banho. Quatro longos dias onde a cada minuto que se se passava ele se perguntava se Uriel estava bem. Algo dentro dele queria acreditar que sim, mas ele sabia que a realidade naquele lugar era completamente diferente.
A cada minuto que se passava olhando para o cálice em cima da mesinha de cabeceira Max sentia mais odio do objeto, mas não tanto quanto sentia pelo pai.
Max se levantou tomando o cálice em mãos, deslizou os dedos pela superfície lisa e polida. As lágrimas começaram a despontar em seus olhos.
Ele não sabia o que fazer, e todos o diziam o quanto Uriel foi corajoso de ter ficado lá. Max descordava completamente. Para ele o mundo inteiro estava sendo injusto com ele, já haviam lhe tomado tanto e agora até do amor ele foi privado. Não se importava se estava sendo egoísta, não se importava de que eles precisavam do cálice. Ele só conseguia pensar em Uriel.
Daren acordou dois dias após a missão do inferno. Complementarmente acabado e desorientado. Foi o único dia em que Max saiu do quarto. Depois disso apenas recebia bandejas de comida em frente a porta e batidas esporádicas de Zack na esperança de saber se ele estava bem. Qualquer que fosse sua resposta ele não estava bem.
Liam e Daren se acomodaram nas estações da C.E.P.E.I, Jason desde então parece desanimado demais para um corvo assassino.

- Toc toc - Zack fez o som batendo e abrindo a porta ao mesmo tempo. - passeando para ver como se tá.

Max se jogou de volta na cama, usando apenas uma cueca box e o moletom que Uriel havia lhe emprestado no dia dos namorados. Sentia que enquanto estivesse usando ele, o anjo ainda estaria com ele.

- você comeu? - Zack indagou olhando o prato remexido na cômoda. - você tem que comer.

Max soltou um gemido, cobrindo a cabeça com o travesseiro. Eram duas da tarde, mas as cortinas estavam fechadas, impedindo que a luz do sol atravessasse para dentro do quarto. Zack caminhou até ele arrancando o travesseiro do menino.

- sabe que não pode ficar assim - Zack Balbuciou. Parecia tão abalado quanto o amigo.

- não podíamos deixa-lo - Max soluçou. - Ele não merecia isso!

- ninguém merecia.

Os dois se encararam em silêncio, o nariz do menino tão vermelho que fazia contraste em sua pele branca. Zack sentou ao seu lado na cama.
Ninguém conseguia ficar em paz com a própria mente, todos os dias eles criavam situações hipotéticas onde narravam em seus subconscientes o que estava se passando lá embaixo. Como Uriel estava sofrendo. Contudo ninguém tinha coragem de compartilhar. Assim era melhor, enquanto não transpassasem essa merda toda para mundo real, talvez de fato não se tornasse.

- não se esqueça do quanto você é forte - Zack disse. - O mundo precisa da gente. O mundo precisa de você.

Ouve uma pausa. Zack se levantou da cama seguindo até a porta, antes que saísse pela passagem ele se virou: - E acima de tudo, nós precisamos uns dos outros.

Max ficou com aquelas palavras na cabeça pelo resto do dia que se arrastava lentamente. " Nós precisamos uns dos outros."
Entrou no banheiro, abrindo a torneira prateada, deixou que a água se acumulasse o suficiente.
Então mergulhou o rosto bruscamente na bacia da pia, de olhos abertos gritou o mais forte que podia.
Levantou o rosto, se encarando no espelho, o cabelo loiro encharcado molhava o chão todo. O reflexo lhe lançou um olhar de desgosto, era como se algo nele o dissesse o quão covarde e fraco ele era, ele de fato dizia.

- Todos estão perdidos se dependerem de você - disse a própria imagem.

- Fica quieto - Max apertou a ponta dos dedos que tremiam levemente, manchados com a marca da magia do caos, a sua magia. O seu verdadeiro eu.

- sabe que não vai conseguir, você é fraco! - continuou. - sei disso porque sou você, e você mesmo sabe disso.

- não é verdade.

- Ah não é? É Claro que é! Você é uma força! Um falso herói que vai kevar todos a morte e o primeiro vai ser o seu amado anj...

- JÁ CHEGA! - ele grita. Seu punho acerta o espelho quebrando-o em vários pedaços. O piso branco se macha de vermelho com o sangue que escorre de sua mão pendida.

...

Quando o sol deixa de brilhar entre as nuvens dando lugar a uma leve prenunbra que começa a se espalhar pela cidade Max está na sacada do prédio, sentado no batente, suas pernas balançando para frente e para trás despretensiosamente. O garoto entorna mais um pouco do Whisky que roubou da sala de reunião. Então pende a cabeça para trás em um suspiro pesado, observando as poucas estrelas que insistem em brilhar em evidência, mesmo com toda a luz da cidade e toda a poluição que os seres humanos espalham por aí, elas ainda estão lá lutando para possamos vê-las.
Quantas vezes se ele questionou o quão parecido era com os pais quando mais novo, com o falso pensamento de que nunca iria conhecê-los, de que nunca iria lembrar dos rostos deles.
Talvez tivesse sido melhor se ele de fato não tivesse conhecido Deimos, que diferença faria afinal?
Ele escuta o som de passos contra o chão, apesar disso não se da ao luxo de olhar, apenas bebê mais um gole.
Daren senta ao seu lado no batente, com as mãos espalmadas ele joga o peso do corpo para trás. Observando a vista em silêncio.

- bela vista, não? - o meio irmão indaga com a sua voz rouca.

- É. - Max vira o rosto levemente para ele. - Como tá o braço?

- melhor.

- Que bom. - Max oferece a garrafa para ele. - Quer um pouco?

- eu não sabia que você bebia - Daren diz tomando o frasco em mãos.

- Nem eu - Max brinca soltando uma risada frouxa. - na verdade isso daí é uma merda.

- o mundo é uma merda - Daren rebate. Toma um bom gole da bebida e passa de volta para Max.

- Não deixa de ser uma verdade - obersava o garoto. - mais ainda assim não acho que todos mereçam morrer.

- então salve-os - Daren diz como se fosse a coisa mais fácil do mundo.

- como eu posso salva-los, se eu também preciso ser salvo? - Max indaga. Mais um gole e a garrafa volta para as mãos de Daren.

- eu cresci a minha vida toda escutando o quanto eu deveria ser forte - Daren faz uma pausa oara beber mais um pouco. - Mas eu não queria ser forte. Tinha dias que só queria chorar e destruir tudo. Mas aqui no mundo real é diferente, tá tudo bem ter fraquezas, o que não podemos fazer e deixar que elas nos limitem. Não adianta tentar esconder porque elas sempre aparecem, são a primeira coisas que as pessoas reparam... Além disso, por mais que seja muito irritante admitir, você me salvou, não foi? O que te faz pensar que não pode salvar a si próprio?

- Eu... não sabia desse teu lado - Max admiti.

- Mas agora sabe.- Daren fala ajeitando os cabelos negros de um jeito marento.- Somos irmãos, não somos?

- É, somos.

- Todos nós acreditamos em você Max - ele diz começando a se levantar. - acho que tá na hora de você começar a fazer isso também.

Daren pula de vontade para baixo do batente.

- aliás gostei da cor - diz ele apontando pro cabelo de Max, que agora está preto como noite. Tingido com uma tinta barata da farmácia da esquina. Ele começa a andar até o levar apertando o potão que chama o mesmo. - mas não ache que ficou tão bom quanto o meu.

- Ei! - Max o chama aproveitando que o elevador ainda não chegou. - acha que posso tirar ele de lá?

- Acho que deve.

Eles se fitam por alguns segundos. O elevador chega, Daren entra.

- Valeu - Max diz, Daren faz um gesto parecido com uma continência, usando o indicador e o dedo médio. A porta se fecha.

A Resistência: Legados Onde histórias criam vida. Descubra agora