Eu realmente não queria estar escrevendo isso. Não num sentido que tô sendo obrigado a escrever, mas porque definitivamente não queria estar nessa situação. Bem, eu comentei há uns meses sobre o Howlite sumir, né? Então... não melhorou. Ele nunca mais falou comigo, e no caso, esse texto aqui é pra ele. Não vou deixar ele ver isso, até porque ele nem veria de qualquer forma, e além disos, o que vou falar aqui não é a coisa mais agradável possível. Eu sinto muita, muita falta dele. De verdade.
Eu já expliquei como você era meu melhor amigo de verdade, e era diferente dos outros que já chamei assim, porque no seu caso, tudo era estável e tranquilo. Esse nome que te dei até combinava com isso, geralmente essa pedra é associada a calma, estabilidade, memórias, aliviar ansiedade e coisa assim. O nome foi mais uma coincidência mesmo, porque na verdade era a pedra no meu colar que eu tava usando quando a gente se encontrou na praia do nada. Toda vez que olho pra aquele colar, lembro de você. Também tem uma música, Remember When, do Wallows, que fiquei escutando em loop em boa parte da viagem. Consequentemente, associo bastante essa música tanto à viagem, quanto a você. Aquele momento, te encontrar lá, foi algo extremamente importante pra mim. Foi quando eu tava extremamente mal pelo que o Disaster e a Spiral tinham feito comigo, e você me ajudou a focar no presente, em quem realmente tava ali por mim naquele momento. Coincidentemente, combina com o significado da pedra também.
Claro, nossa amizade não se resume a só um evento há mais de 3 anos, mas é o que foi mais marcante pra mim. Finalmente eu tinha um amigo, um melhor amigo, que não iria embora... pelo menos era o que eu achava. A gente nem sempre podia sair junto, ainda mais com a pandemia chegando logo depois disso, mas ainda assim a gente se apoiava, mesmo sem se falar o tempo todo, a amizade não mudava, a gente sempre podia contar um com o outro, mesmo nem sempre sabendo como agir, era só mandar uma mensagem ou algo assim que já dava pra gente fazer alguma coisa, que seja uma conversa aleatória mesmo. Eu tentei te apoiar como pude, mas agora me pergunto se eu não insisti direito, não falei direito contigo, acabei te negligenciando de alguma forma, até porque já fiz isso sem querer algumas vezes no passado. E eu era muito pessimista e deprimente, não fazem tantos anos desde que realmente fiquei feliz de verdade, mesmo com a cabeça lelé da cuca. Não sei se falei demais dos meus problemas e acabei não te ouvindo, mesmo que eu sempre perguntasse como você tava, não sei se falei demais. Tem tanta coisa que eu poderia fazer melhor... Pelo menos, baseado no que eu lembro. Eu poderia ter sido um amigo melhor pra você. Foi isso que te fez ir embora?
Você começou a ficar bem mais ocupado desde que entrou na faculdade, e uns meses depois, eu entrei na faculdade também, mas em outro lugar e outro curso. Daí pra frente, os dois não conversaram tanto, mas pelo menos tinha... sei lá, alguma coisa. Talvez tenha sido ali que acabei te deixando de lado sem perceber... Bem, pelo menos tentei conversar eventualmente, mas você não respondeu, levou mais tempo pra gente se falar de novo. De qualquer forma, acabou que depois do natal, você não respondeu mais nada. Achei que fosse algo temporário, mas você nunca voltou, nunca mais respondeu, ou atendeu ligação, ou viu em outras redes sociais, sei lá, tentei falar contigo de tudo que é jeito e nada. Só recentemente consegui uma explicação bem por cima, graças a um amigo em comum nosso. Acho que talvez tenha escrito sobre ele antes, mas não aqui. Gosto demais dele, a gente devia voltar a se falar com mais frequência. Enfim, ele explicou que você tava se afastando por um motivo pessoal seu, e que talvez tivesse algo a ver com outra pessoa lá, que me deixou bem confuso, porque eu e ela nos demos bem nas vezes em que a gente conversou. Ele não contou o motivo por ser pessoal e não saber se podia fazer isso, e até te pediu pra falar comigo, mas isso nunca aconteceu. Continuo sem resposta ou explicação nenhuma, e acho que a esse ponto, devo continuar assim.
Queria saber o que aconteceu, o que te fez ir embora, se foi algo que eu fiz, se tinha algo que eu poderia arrumar, consertar, sei lá, se era algo externo, não sei. Só queria ter alguma resposta, mesmo que eu não consiga te fazer não ir embora. Realmente não entendo o que aconteceu, e te perder foi definitivamente diferente do que perder as pessoas de antes. Não consigo sentir raiva de você, não consigo sentir nada ruim em relação a você, na verdade. Até sou grato ainda pelo que aconteceu antes, pela sua amizade no passado. A única coisa que sinto sobre você é tristeza. Um tipo de tristeza que não tinha sentido antes. Provavelmente porque você nunca me fez mal, o tempo todo você era um amigo incrível, e na minha cabeça não faz sentido você simplesmente ir embora. Como eu poderia sentir raiva se a única coisa ruim que aconteceu foi você ir embora? É uma mistura de surpresa, saudade, tristeza, medo, remorso, frustração, decepção, mais um bando de coisa que não sei descrever direito.
No fundo ainda tenho alguma esperança de que isso seja temporário, que talvez você volte. Mas não tenho nenhuma garantia disso, nem mesmo de ter uma explicação pra isso. É difícil superar uma perda assim se não consigo sentir nada de ruim diretamente de você. Já teve muita gente babaca que me abandonou, mas todos me fizeram muito mal antes disso. Você não. Já tive tanto problema com gente indo embora, de me sentir abandonado, de realmente ser abandonado de várias maneiras e em vários sentidos, não aguentava mais passar por isso de novo e de novo, uma ferida que nunca fecha, que no mesmo lugar me machuco de várias e várias formas diferentes. E achava que finalmente tinha acabado esse ciclo de perda, sem mais conflito, sem mais finais infelizes e incompletos. A parte do conflito realmente parece que foi embora, mas agora tô aprendendo que não preciso de conflito pra perder alguém que amo muito.
E de alguma forma, a falta de conflito deixa tudo pior. Eu teria mais motivação pra seguir em frente, pra deixar pra lá, pra querer ser melhor do que eu era enquanto a outra pessoa ainda estava na minha vida, pra provar que consigo ser melhor, que consigo superar o estrago feito. Como eu faço pra lidar com isso sem ter a raiva, o sentimento de ser contrariado e traído pra me motivar agora? Eu tava mais feliz antes, quando tinha você junto. A época era pior, mas quando a gente tava junto, tudo ficava muito melhor, mais leve, mais calmo. Era um senso de segurança que não ia continuar sendo abandonado, que nem fizeram tantas vezes comigo, que tudo iria ficar bem. Você dava ótimos abraços também. Gostava muito de sair contigo, seja só a gente ou um grupão, independente do lugar, sempre era legal com você por perto. Eu te via como alguém que nunca deu conflito e assim, não iria embora. Ironicamente, continuou sem conflito, mas mesmo assim você foi embora. Não sei como terminar isso. Não queria terminar isso. Só sinto muito sua falta. No fundo, ainda te vejo como meu melhor amigo, mesmo que seja só no passado. E agora todo aquele significado da pedra virou de cabeça pra baixo. Não tenho mais calma e não tô nada sereno, porque nunca vou saber o que aconteceu. Ainda tenho medo de ter feito algo ruim e não ter percebido, de ter uma chance minúscula de consertar alguma coisa e não saber como. A única coisa do significado da pedra que continua é a falta da raiva. Tô escrevendo isso na base da insônia, que é mais uma coisa que esse negócio aí previnia teoricamente. Mais no fundo ainda, sei que não vale a pena ter esperança, já fiz tudo que podia, e nada mudou.
Nada que fiz serviu pra nada, não vale a pena tentar dormir cedo também. Talvez eu consiga sonhar essa noite. Talvez seja só mais uma que parece que teve alguma coisa, mas esqueci logo quando acordei. Queria poder sonhar com alguma coisa boa do passado, só pra suprir um pouco dessa falta, mesmo que acorde triste depois. Independente de qualquer coisa, espero que você fique bem, de verdade. Alguma hora vou ficar bem também. Só não sei bem quando.
De: Dusk
Para: Howlite
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Dusk
Non-FictionMeu nome é Dusk e essa é uma tentativa minha de lidar com o que acontece comigo. E de talvez viajar um pouquinho.