Ruggero

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Não entendo nada sobre como funciona a atração.
O que faz as pessoas se sentirem atraídas umas às outras? Como é que dezenas de mulheres entram aqui no bar toda semana sem que eu sinta vontade de olhá-las novamente?
Mas então essa garota aparece e não
consigo tirar meus olhos dela, cacete.
E agora não consigo tirar meus lábios dela.
Não sei por que estou descumprindo a regra que eu mesmo criei: “nada de dar em cima de clientes.” Mas alguma coisa nela me diz que só vou ter uma chance. Sinto que ou ela está só de passagem pela cidade ou não planeja voltar aqui.
Hoje parece ser uma exceção em sua rotina, qualquer que seja ela, e acho que perder a oportunidade de ficar com essa garota acabaria sendo o único arrependimento sobre o qual eu ainda pensaria na velhice.
Ela parece ser uma pessoa quieta, mas não do tipo tímida.
Ela é quieta de um jeito intenso, uma tempestade que aparece de fininho, que você só se dá conta quando sente o trovão chacoalhar seus ossos.
Ela é quieta, mas disse o bastante para me fazer desejar ouvir o resto das suas palavras.
Tem gosto de maçã, apesar de mais cedo ter tomado café, e maçã é minha fruta preferida. Agora talvez seja até minha comida preferida de todas.
Nos beijamos por vários segundos, e, embora ela tenha tomado a iniciativa, pareceu se surpreender quando a puxei para a minha boca.
Talvez ela achasse que eu fosse esperar mais um pouco antes de sentir seu gosto, ou talvez ela não pensasse que fosse se sentir assim, espero que ela esteja se sentindo assim, porque o que quer que a tenha deixado surpresa antes de a minha boca encostar na sua, não foi falta de vontade de me beijar.
Ela se afasta, indecisa por um instante, mas depois parece se resolver, pois se inclina e me beija outra vez com ainda mais convicção.
Mas essa convicção desaparece.
Rápido demais.
Ela se afasta uma segunda vez, e agora seus olhos estão cheios de arrependimento.
Ela balança a cabeça rapidamente e põe as mãos no meu peito.
Cubro suas mãos com as minhas bem no momento em que ela diz:
- Me desculpe.
Ela sai de cima de mim, com a parte interna da coxa roçando meu zíper e me deixando ainda mais duro enquanto se retira da mesa.
Estendo o braço para segurar sua mão, mas seus dedos escapam dos meus à medida que ela vai se distanciando.
- Eu não deveria ter voltado.
Ela me dá as costas e caminha na direção da porta.
Eu murcho.
Não decorei seu rosto, e não gosto da ideia de ela ir embora sem mim, antes de eu conseguir me lembrar do formato exato da boca que estava na minha ainda agora.
Saio da mesa e vou atrás dela.
Ela não consegue abrir a porta.
Sacode a maçaneta e tenta empurrá-la
como se estivesse morrendo de vontade de se afastar de mim.
Quero implorar para que fique, mas também quero ajudá-la a sair de perto de mim, então puxo a tranca de cima enquanto ponho o pé na frente da garota para empurrar a tranca do chão.
A porta se abre e ela sai depressa.
Ela inspira uma grande quantidade de ar e depois se vira para mim.
Observo sua boca, desejando ter memória fotográfica.
Seus olhos não estão mais da mesma cor da sua camiseta.
Agora estão um tom mais claro de verde, pois ela está lacrimejando.
Mais uma vez, percebo que não sei o que fazer. Nunca vi uma garota ficar tão confusa em tão pouco tempo, e nada disso me parece forçado ou dramático.
A cada movimento que ela faz e a cada sentimento que ela tem, é como se ela
quisesse puxá-los de volta para dentro de si e guardá-los.
Ela parece envergonhada.
Está arquejando, tentando enxugar as poucas lágrimas que começam a se
formar, e, como não faço ideia de que porra dizer, simplesmente a abraço.
O que mais eu posso fazer?
Puxo-a para perto de mim e, por um segundo, seu corpo enrijece, mas quase imediatamente ela suspira e relaxa.
Somos as únicas pessoas aqui.
Já passa de meia-noite; todos estão em
casa dormindo, vendo filmes, fazendo amor. Mas cá estou eu na Main Street, abraçando uma garota muito triste, me perguntando por que ela está se sentindo assim, querendo não achá-la tão bonita.
Ela está com o rosto pressionado no meu peito e com os braços firmes ao redor da minha cintura.
Sua testa chega até a altura da minha boca, mas ela está acomodada debaixo do meu queixo.
Acaricio seus braços.
Minha picape está bem ali na esquina. Sempre estaciono no beco, mas ela parece chateada e não quero fazê-la me acompanhar até um beco quando ela está chorando. Me encosto na base de um toldo e a aproximo mais.
Dois minutos se passam, talvez três.
Ela não me solta. Seu corpo acomoda-se no meu, absorvendo o consolo que meus braços, meu peito e minhas mãos lhe proporcionam. Acaricio suas costas para cima e para baixo, com a voz ainda presa na garganta.
Tem alguma coisa de errado com ela, algo que, a essa altura, nem sei se quero saber, mas é algo que me impede de deixá-la na calçada e ir embora.
Acho que ela não está mais chorando quando diz:
- Preciso ir para casa.
- Eu te dou uma carona.
Ela balança a cabeça e se afasta de mim. Mantenho as mãos em seus braços, e, quando ela cruza os braços por cima do peito, percebo que ela toca minha mão direita com dois dedos.
Ela os desliza com rapidez, mas é
proposital, como se quisesse sentir um pouquinho de mim pela última vez antes de partir.
- Não moro longe daqui. Vou a pé.
Ela perdeu o juízo se acha que vai a pé.
- É tarde demais para você ir a pé sozinha. Aponto para o beco.
- Minha picape está a uns três metros daqui. Por razões óbvias, meu gesto a faz hesitar, mas ela aceita a mão que lhe
estendi e me acompanha até a esquina.
Ao ver minha picape, ela para de andar. Eu me viro, e ela está encarando o veículo com uma expressão preocupada. - Posso chamar um Uber, se preferir. Mas juro que estou apenas te oferecendo uma carona, sem nenhuma expectativa.
Ela abaixa os olhos, mas continua andando em direção à minha picape.
Abro a porta do passageiro para ela, e, após sentar no banco, ela não se vira para a frente. Continua virada para mim, e suas pernas me impedem de fechar a porta. Ela me olha como se estivesse dividida, franzindo as sobrancelhas. Acho que nunca vi alguém com uma tristeza tão natural assim.
- Está tudo bem?
Ela apoia a cabeça no banco e me encara.
- Vou ficar bem. Diz ela baixinho.
- Amanhã é um dia importante para mim. Estou nervosa, só isso.
- O que vai acontecer amanhã? Pergunto.
- Um dia importante para mim.
Ela obviamente não quer entrar em detalhes, então faço que sim, respeitando sua privacidade.
Ela passa a prestar atenção no meu braço. Toca na bainha da minha manga, então ponho a mão no seu joelho, porque quero tocar alguma parte do seu corpo. Seus joelhos me parecem o lugar mais seguro antes que ela demonstre onde mais pode querer a minha mão.
Não sei quais são suas intenções.
A maioria das pessoas que aparece nos
bares deixa óbvio o que quer.
Dá para perceber quem veio para conseguir um encontro e quem veio para encher a cara.
Já no caso dela, não sei dizer.
Parece que ela acidentalmente abriu a
porta e acabou entrando no meu bar e não faz ideia do que quer esta noite.
Talvez ela queira apenas pular a noite de hoje e ir direto para o dia importante que vai ter amanhã.
Fico esperando algum sinal seu que indique o que ela quer que eu faça em seguida, pois pensei que a levaria para casa, mas ela não se virou para a frente. É como se ela quisesse que eu a beijasse de novo.
Mas não quero fazê-la chorar mais uma vez. Mas quero beijá-la de novo.
Toco seu rosto e ela cede, se encostando na minha mão.
Ainda não tenho certeza se que ela está se sentindo à vontade, então hesito até ela se aproximar de mim.
Me posiciono entre suas pernas, e ela pressiona as coxas nos meus quadris.
Saquei a indireta.

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