Ruggero

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Não sei como encontrei forças para me afastar dela por tempo o suficiente para entrar na casa e começar a trabalhar no piso.
Imaginei que ela ficaria sentada me olhando ou que escreveria no seu
caderno, mas assim que lhe falei que precisava trabalhar na obra, ela
perguntou como poderia ajudar.
Já faz três horas.
Passamos a maior parte do tempo trabalhando, fazendo breves intervalos ocasionais para tomar água e nos beijar mais um pouco, mas terminamos boa parte do que vai ser o piso da sala de estar.
Já teríamos terminado se ela não estivesse vestindo essa camisa com essa
saia.
Ela tem engatinhado pelo chão, me ajudando a instalar a madeira, e sempre que olho para ela consigo ver todo o seu decote. Estou tão distraído que nem sei como não acabei me machucando.
Não conversamos sobre nada de importante desde que saímos da picape.
É como se tivéssemos deixado tudo de relevante dentro dela, decidindo não
trazer nada pesado para dentro da casa.
O dia já foi tão pesado, estou fazendo tudo que posso para criar um clima leve. Nós dois estamos.
Não mencionei a carta desde que entramos aqui.
Ela não mencionou a medida protetiva, eu não mencionei o Dia dasMães sob este teto, não conversamos sobre o que nossa nova conexão física significa nem sobre como vamos lidar com isso.
Acho que nós dois sabemos que vamos conversar sobre esses assuntos, mas agora parece que estamos em sintonia e que tudo que queremos hoje é ficar nos curtindo.
Acho que Karol e eu estávamos precisando do dia de hoje.
Especialmente Karol.
Ela sempre parece estar carregando o mundo inteiro nas costas, mas hoje parece estar flutuando.
Parece que a gravidade não a afeta em nada.
Nas últimas horas, ela sorriu e riu mais do que desde o dia em que a conheci.
Me pergunto se eu mesmo não era uma grande parte do peso que ela estava carregando.
Karol encaixa a madeira do lado dela e pega uma garrafa de água.
Percebe que estou encarando seu decote e ri.
- Parece que nem consegue mais me olhar nos olhos.
- Acho que estou obcecado pela sua camisa. Ela costuma usar camisetas, mas esta camisa em particular tem um decote na frente e é feita de um tecido elegante, e, agora que ela passou três horas trabalhando, ela está começando a grudar em todas as partes do corpo onde está suada.
- É uma camisa bonita pra caralho.
Ela ri, e quero beijá-la outra vez. Engatinho até ela e, quando me aproximo, pressiono minha boca na sua com tanta força que ela cai para trás no chão. Beijo-a enquanto ela ri e vou para cima dela.

Odeio não ter nenhum móvel.
Acabamos nos deitando no piso de
madeira que estamos instalando, e é uma sensação gostosa, mas faria de tudo para beijá-la sobre algo mais confortável.
Algo tão macio quanto sua boca.
- Você nunca vai terminar este piso Sussurra ela.
- O piso que se dane.
Nós nos beijamos por alguns minutos e fica cada vez melhor.
Nos puxamos e nos agarramos e nos provamos, e é um pouco caótico, e sua
camisa que eu amo pra caralho acaba indo parar em algum lugar no chão perto da gente.
Estou admirando seu sutiã, beijando a pele logo acima dele, quando ela
sussurra:- Estou com medo.
Suas mãos estão no meu cabelo, e ela as deixa nele quando me ergo o suficiente para olhá-la.
- E se eles descobrirem sobre a gente antes de você ter a oportunidade de contar? Estamos sendo descuidados.
Não quero que ela pense nisso hoje, porque o dia está sendo bom e eles estão viajando, então não adianta nos preocuparmos com isso antes de eles
voltarem.
Dou um beijo reconfortante em sua testa.
- Não adianta a gente se preocupar. Digo. - Eles estão viajando. O que quer que aconteça vai acontecer, quer a gente se agarre agora ou não.
Ela sorri quando digo isso.
- Tem razão.
Ela põe a mão ao redor do meu pescoço e me puxa de volta para a sua boca.
Eu me abaixo em cima dela, mas depois sussurro:
- Qual é a pior coisa que pode acontecer se eu tiver que te esconder para sempre? Você viu o meu closet, Karol.
Ele é imenso. Você vai adorá- lo.
Ela ri na minha boca.
- Posso colocar um frigobar e uma televisão para você.
Quando eles vierem visitar, você pode simplesmente entrar no seu closet e fingir que está de férias.
- Você é terrível, não devia brincar com isso. Diz ela, mas rindo.
Beijo-a até pararmos de rir, então saio de cima dela e me deito do seu lado, olhando-a.
É a primeira vez que nos encaramos sem sentirmos que precisamos desviar o olhar.
Ela é tão perfeita, cacete.
Mas não digo isso em voz alta porque não quero menosprezar nenhumade suas outras características maravilhosas elogiando seu rosto de modo superficial. Assim eu estaria desvalorizando o quanto a acho inteligente, compassiva, determinada e vivaz.
Desvio a vista do seu rosto impecável e passo o dedo bem lentamente no centro do seu decote até sua pele se arrepiar.
- Preciso terminar o piso.
Ponho a mão no seu seio e o apalpo
delicadamente.
- Pare de me distrair com essas coisas aqui. Vista sua camisa.
Ela ri na mesma hora em que alguém pigarreia do outro lado da sala.
Sento-me depressa e me movo imediatamente para bloquear a vista de
Karol de quem quer que esteja na minha casa.
Ergo o olhar e vejo meus pais parados na soleira da porta, encarando o teto.
Karol se afasta rapidamente de mim e pega sua camisa.
- Meu Deus! Sussurra ela.
- Quem são eles?
- Meus pais. Murmuro.
Juro que me envergonhar é o hobby preferido deles. Aumento o tom de voz para que eles me escutem.
- Que legal que vocês me avisaram que iam passar aqui hoje!
Ajudo Karol a se levantar, e meus pais ainda estão olhando para tudo, menos para nós dois, enquanto eu a ajudo a vestir a camisa.
Meu pai diz: - Eu pigarreei quando nós dois entramos. Precisa de um aviso melhor ainda, é?
Não estou tão morto de vergonha quanto deveria estar.
Talvez eu esteja ficando imune às travessuras dos dois. Mas Karol não é imune a elas.
Agora que ela está vestida e meio que atrás de mim, meu pai aponta para o trabalho que estávamos fazendo.
- Pelo jeito você progrediu bastante... no piso.
- De mais de uma maneira. Diz minha mãe, divertindo-se. Karol encosta o rosto no meu braço.
- Quem é sua amiga, Rugge?
Minha mãe está sorrindo, mas ela tem muitos sorrisos diferentes e nem sempre eles significam algo meigo.
Seu sorriso de agora é o que aparece
quando ela está entretida. É seu sorriso de estou-me-divertindo-demais.
- É a... hum...
Não faço ideia de como apresentar Karol a eles. Nem sei que nome devo dizer.
Eles certamente reconheceriam o nome dela se eu dissesse Karol, mas não tenho tanta certeza de que eles não vão reconhecer seu rosto, então nem adiantaria mentir.
- É a... minha nova funcionária.
Preciso perguntar a Karol como ela quer que eu lide com isso.
Ponho o braço ao redor do seu ombro e a levo até o quarto.
- Com licença, precisamos combinar nossas mentiras. Digo por cima do ombro.

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