Capítulo 7

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POV CAROL

Era domingo de manhã e fazia um solzão. Mesmo tendo chegado tarde ontem e bebido um pouco a mais eu consegui acordar cedo. Fui à academia, fazer meus exercícios matinais, e depois tomei um belo café da manhã na padaria perto de casa. Aproveitei e passei na farmácia para comprar um analgésico que a cartela que eu tinha estava acabando. Eu sempre andava com um kit de medicamentos dentro da minha bolsa. Apenas remédios essenciais para o dia a dia.

Voltei para casa para tomar banho e me arrumar. Enviei uma mensagem para confirmar minha presença no almoço familiar. Como de lei, hoje era dia de almoçar na casa do meu avô. Nós sempre nos reuníamos para comer e conversar sobre a semana. Meu avô sempre gostou de reunir a família toda, assim ele via todos os filhos e os netos juntos. Claro que nem sempre todos conseguiam ir. Mas para ele, o importante era manter a tradição.

A rádio do meu carro estava sintonizada numa estação de música sertaneja. Minha preferida por sinal. Eu tamborilava com a ponta dos meus dedos na direção do automóvel, enquanto acompanhava a letra da música. Era um modão bem antigo e conhecido. Alguns flashs da noite anterior tomavam conta dos meus pensamentos. Eu havia dado um passo em falso. Eu sabia que Rosa tinha percebido o que acontecera. E agora eu tinha que lidar com as consequências que isso poderia acarretar. Eu tinha medo que ela se afastasse e interpretasse todas as minhas atitudes da forma errada. Eu sentia que eu devia fazer algo, mas ao mesmo tempo achava que deveria fingir que nada acontecera.

Depois de passar pelos portões da casa do meu avô resolvi deixar os pensamentos de lado e curtir um momento familiar. Mesmo que aquilo fosse temporário.

- Olha lá, atrasada como sempre. - ouvi Marcela falar enquanto arrastava a cadeira para se sentar.

- Se eu bem te conheço você acabou de chegar também, irmãzinha.

- Nem o Pedro e a Alice se implicam tanto quanto vocês. - Renata interrompeu.

Após mais algumas brincadeiras, cumprimentei a todos que já estavam por ali e me dirigi a cozinha para buscar um prato. O churrasco já tinha começado a ser servido e eu já podia sentir a fome chegando.

Mal voltei, com o prato na mão, e senti bracinhos apertando minhas pernas junto a gritos de "Dinda". Era Alice sendo seguida por Pedro que também queria um espaço para me abraçar. Ambos tinham acabado de sair da piscina a pedidos da mãe.

Puxei uma cadeira e me sentei ao lado de Renata. Não demorei muito para me servir e começar a comer. Eu não estava querendo demorar muito por ali hoje.

Enquanto comia recebi uma cotovelada da minha irmã. Olhei para ela sem entender nada.

- Cê tá doida, Rê?

- Eu não! Mas você tá aí no mundo da lua e com uma cara péssima.

- Impressão sua. - falei reticente.

- Você sabe que eu te conheço mais do que qualquer um aqui, Cá. - ela disse enquanto eu só respirava fundo. - Termina aí e vamos lá dentro conversar.

Não querendo contrariar minha irmã que provavelmente não ia me largar até conseguir saber o que estava acontecendo, eu tomei o último gole de coca zero do meu copo e me levantei. Caminhamos até o escritório que tinha na casa e fechamos a porta ao entrar.

- E aí? Vai me contar o que está te incomodando? - ela foi direto ao assunto.

- Não foi nada demais, eu só tô um pouco preocupada.

- Você vai mesmo querer que eu insista? Você sabe que eu vou te perturbar até você contar.

- Tá bem. - eu disse conformada. Caminhei até me encostar na mesa e ficar de frente pra ela que havia sentado na poltrona. - Então, como você sabe eu fui ontem para o bar do Fê com a Marcela e as meninas. Eu acabei encontrando com a Rosamaria. Como estava tudo lotado lá, eu convidei ela e a amiga para ficar com a gente na mesa. Acabou que passamos a noite conversando e tava tudo as mil maravilhas. Só que aí bebida vai e bebida vem eu meio que dei uma cantada nela.

- Meio? - ela questionou confusa.

- Não me julga, tá? Eu tô super chateada por não ter segurado minha língua. Mas, sei lá, sabe? Tudo tava tão bom e ela estava ali, na minha frente, mais linda que o normal e eu não controlei.

- Eu sabia que em algum momento isso iria acontecer, Cá. Já tem um tempo que tá escrito na tua cara que você tá afim dela. E como ela reagiu?

- Ela deu um sorrisinho, mas fingiu que não percebeu o meu flerte e depois eu achei melhor desconversar.

- Eu te falei que achava que você não teria chance com ela, irmã. Mas e depois disso? Ela ficou estranha com você?

- Não. Nós mudamos de assunto e fingimos que nada tinha acontecido.

- Pelo menos isso. Então, por que você tá tão preocupada?

- Porque tô com medo que ela me trate diferente, se afaste e que ela ache que minha aproximação tem outros interesses por trás.

- E tem?

- Claro que não, Renata! Cê sabe disso. Eu já te falei. Mas pelo visto, se nem você que é minha irmã e me conhece acredita nisso imagina ela?

- Também não é assim, Carol. - ela fala se desencostando da poltrona. - O que não está claro para mim é o que você pretende com essa aproximação.

- Eu não tenho outra intenção a não ser querer bem a ela e ajudar.

- Então não acho que você deve ficar tão preocupada. Você mesmo disse que ela fingiu que não aconteceu, então é só seguir assim.

- Cê não acha que eu deveria mandar uma mensagem ou marcar uma conversa?

- Pra quê, Carol? Pra você levar um fora mais direto? Segue com as coisas normalmente. Agora se ela mudar com você, aí é diferente. Nesse caso, você chama ela pra conversar e resolve.

- Acho que cê tá certa. Tô fazendo muita tempestade num copo d'água, né!? - falei suspirando.

- Tá sim, irmã. Você tá perdidinha! - ela disse e logo levantou me puxando para um abraço. - Só tem cuidado, tá? Não quero ver você machucada.

Após aquela conversa voltamos para o jardim onde estavam todos. Ainda deu tempo de comer uma sobremesa e brincar um pouco com meus sobrinhos antes de eu decidir pegar meu carro e ir embora. Afinal eu precisava descansar, pois a semana seria corrida.

No caminho de volta os pensamentos eram os mesmos. A conversa com minha irmã foi muito boa e tinha me feito entender alguns pontos. O primeiro deles era que eu não queria me afastar de Rosa. Eu queria conhecer mais dela. Não importa de que forma ou que ela seria na minha vida, mas eu queria ela por perto de todo jeito. O segundo era que eu tinha medo que ela me rejeitasse da vida dela e que entendesse tudo errado.

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Tá preocupada a bichinha 🤭

Those Eyes - Rosattaz Onde histórias criam vida. Descubra agora