Pano

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Mon a observou fazer as malas, sentindo como se estivesse sendo esbofeteada a cada item que Sam separava para levar.

Não conseguia acreditar que estava realmente fazendo aquilo.

Partindo. Fugindo.

Sem nem ao menos tentar. Após alguns minutos, concluiu que não poderia continuar assistindo àquela cena.

— Há uma ironia nisso tudo.

Disse ela, da soleira da porta.

— Apesar de não ter convivido muito com seu pai, é incrivelmente parecida com ele. Aí está você, abandonando sua família quando mais precisamos de você.

Mon não esperou por resposta.

Em vez disso, saiu da casa e se sentou à beira da piscina.

A noite estava fria e silenciosa.

Podia ouvir a televisão no quarto de Noah e a música que flutuava da casa da piscina. Ouviu também a porta da garagem se abrir, o som da marcha à ré do carro de Sam e, em seguida, a porta da garagem se fechar.

Mon permaneceu sentada, sozinha, em meio ao silêncio, tentando se convencer de que ficaria bem.

Imaginou quanto tempo levaria até conseguir acreditar naquilo.




(...)




Yuki e Kade atenderam ao pedido de ajuda de Mon. As três se encontraram no apartamento de Kade. Era verão, portanto Kade não estava trabalhando e Yuki tirara a manhã de folga.

— Não posso acreditar que ela foi embora.

Disse Mon, tentando desesperadamente não chorar. Passara a maior parte da noite em prantos e estava determinada a não ceder mais às lagrimas.

— Sei que a pressionei, mas pensei que ela fosse pressionar de volta. Que Sam gostava o suficiente de mim para lutar.

Yuki e Kade se sentaram uma de cada lado de Mon, afagando-lhe as costas em atitude consoladora e lhe entregando lenços de papel.

— Sei que é difícil. Mas você fez a coisa certa. As regras mudaram. O fato de Sam não reconhecer isso não muda a realidade da situação. A relação entre vocês não é mais a mesma. Não se trata mais de um sensato acordo comercial.
— Não consigo entender. Você a ama. Dará à luz o filho do irmão dela. As duas são ótimas juntas. Formam uma família maravilhosa. Por que Sam não quer ficar ao seu lado? É como se tivesse conseguido tudo que desejava e agora estivesse fugindo disso.

Havia um tom nostálgico na voz de Kade. Mon se lembrou que a amiga havia perdido toda sua família quando tinha doze anos e fora criada em lares adotivos. Por certo, Kade daria tudo para fazer parte de uma família que a aceitasse como membro.

— Sei que fiz a coisa certa. Só gostaria que isso não doesse tanto.
— Ela voltará.
— Tem certeza? Porque eu não tenho.
— Ela não é tola.

A amiga respondeu, com firmeza.

— Está com medo, mas dê-lhe algum tempo. Acho que Sam não resistirá a você por muito tempo.
— E se não voltar, você pode caçá-la como a rata que ela é.

Acrescentou Yuki, em tom animado. Apesar de tudo, Mon conseguiu esboçar um sorriso.

— Não quero magoá-la.
— É uma pena, porque isso a faria se sentir melhor.

Mon soltou uma risada e gemeu de frustração quando o riso se transformou em pranto.

— Não chorarei mais. Cansei de chorar por ela.
— Quer que a xinguemos de idiota?
— Acho que não ajudaria em nada. Isso é que é o pior. Ela não é uma idiota. Sei que sempre apoiará a mim e à criança. Arcará com a responsabilidade, porque é o que ela sabe fazer de melhor. Trocará fraldas, ajudará com os banhos e fará tudo certo, menos me amar.

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