Na Batida Do Amor

2° capítulo

Me sentei no chão e peguei minha garrafinha de água dando um longa golada, tinha acabado de fazer esteira. Por que ser gostosa da tanto trabalho? Cacete! Me joguei ali no chão da academia e cobri meu rosto.

Sabia que meu tempo era cronometrado e não ia demorar pra alguém entrar falando que tinha algo para eu resolver. Ainda mais que hoje tenho um evento importante, vai ser no salão de festas do condomínio, e mesmo que tudo já esteja organizado e pronto, sempre tem algo sem contar todas as outras coisa que eu tenho que resolver.

Eu sou empresária e tenho uma gravadora, então cuido da carreira de grandes artistas, obviamente que tem uma equipe por trás, mas eu tenho que estar ali também. Mas nem sempre foi desse jeito. Eu não sou espanhola, sou da Argentina, nasci lá. Os meus avós eram brasileiros e se mudaram para Buenos Aires. Eu sempre amei musica, sempre gostei de dançar, e me surgiu a oportunida de participar de um programa de tv nos Estados Unidos, e eu fui, não ganhei o prêmio, fui eliminada nas semi finais, mas ganhei um contrato com uma gravadora incrível que me lançou no mercado. E foi coisa de outro mundo, porque eu nem era conhecida no meu próprio país e quando eu vi eu estava ganhando prêmio no Estados Unidos, a equipe que me lançou foi muito inteligente, eu sabia falar inglês fluente, fiz um intensivo pra cantar sem sotaque eu fui lançada praticamente como uma americana. Depois que consegui um público e meu nome já estava mais forte, eu comecei a fazer musicas em Espanhol, e foi incrível, eu cheguei no topo da Billboard com uma música em Espanhol. Quando meu nome se consolidou mesmo, eu continuei cantando e numa parceria pra conseguir mais fama na Europa, dessa vez, eu acabei conhecendo quem viria a ser meu grande amor, Pollo Sanchez, foi uma paixão meio doida, e nos acabamos no casando, eu me mudei para cá e depois eu percebi que talvez deveria ter conhecido ele melhor. Ele nunca me tratou mal, nunca me machucou, mas as coisas que ele fazia me feriam muito mais. Pollo era viciado em drogas, e as festas aqui em casa não acabavam nunca, e a gente sempre brigava por isso, sem contar as coisas que ele fazia que eu não concordava, falava coisas na imprensa…. Até que um dia ele teve uma overdose e morreu. Eu senti o chão desabar embaixo dos meus pés, e passei meses literalmente na ruína.

Quando Pollo morreu, ele acabou me deixando um pequeno projeto que tinha, ele tinha vontade de lançar novos artistas e eu peguei seu sonho pra mim, peguei o seu sonho e transformei em realidade. Hoje eu gerencio cinco artistas, mas a minha gravadora tem contrato com o país todo e agora estamos atrás de cantores americanos também. Eu acabei parando de cantar e focando somente em empresariar e produzir músicas. Mas sempre amei cantar!

Eu parei porquê, a pressão encima de mim, pra lançar álbum, pra lançar clipe, musica, fazer turnê estava me deixando sufocada. O meu marido tinha acabado de morrer e as poucas vezes em que eu fazia um show era criticada por estar cantando mal.

Hoje a noite o evento é para comemorar os sete anos da Hidalgo Records, e eu quero algo bem especial. Nada pode dar errado! Laventei do chão e sai da academia atravessando pela ponte da piscina até minha casa. Eu preciso de um banho.

—Onde você estava?—Indagou Ya vindo até mim, fiz cara de choro e subi as escadas correndo, fugindo dela.

Ya era a minha amiga e assistente pessoal, e sim eu estava fugindo dela, pois era viria me perguntar mil coisas, e eu só queria tomar meu banho e dormir um pouco antes da festa. Entrei no meu quarto já tirando a roupa entrando no banheiro.

— Você está fugindo de mim?—Indagou do outro lado da porta e eu entrei no box ligando o chuveiro—Ali já está quase tudo pronto, a sua roupa chegou agora a pouco também—Molhei meus cabelos ouvindo ela falar.

— É bonita?—Pergunto pegando o sabonete.

—Lindo, você vai estar divina—Sorri de lado e voltei a atenção para o meu banho, acho até que Ya saiu do quarto.

Apesar de geralmente ser um pé no saco, ela era a minha melhor amiga, a melhor pessoa que eu tinha e ela me conhecia e sabia o quanto eu estava sobrecarregada ultimamente.

Apesar de estar em hiato a uns anos, eu trabalho bastante e mesmo que eu tente, acabo sempre aparecendo em algum tabloide, o que é extremamente chato, já que eles postam o que querem sobre mim. Eu acho que sofro hate desde que eu participei do concurso de música, primeiro eram coisas relacionadas a minha aparência, sempre me comparando com outras competidoras, mas eu era muito dona de mim e nunca me importei muito com isso. Depois que eu me relacionei com o Pollo tudo piorou, ele não tinha lá um ótimo histórico com internet e quando era mais novo, era bem rebelde, então diziam que nos éramos dois drogados malucos, pegavam fotos nossas e colocavam photoshop pra me deixaraoa magra e diziam que eu usava crac junto com ele. E quando a gente casou, falavam que eu era interesseira, que estava com o Pollo por dinheiro. E sempre era desse jeito, sempre davam um jeito de me colocar defeitos, ou pelo meu casamento, ou minha aparecia, ou eu cantando.

Eu achei que depois de tanto tempo longe dos palcos as coisas iriam melhorar. Mas não, pelos sites de fofoca eu sou a maior Maria chuteira do país, pego todos os jogadores de futebol, eu estou de caso com alguém todo mês, e o pior é que acreditam, e vão me xingar no meu instagram. Agora, a da vez, é que eu estou ficando com um atacante do Real Madrid, eu nem torço pra esse time, e nem conheço o cara.

Essas coisas me irritam, irritam muito, e eu fico até chateada, pois me rotulam, e ferem os meus princípios, mas é aquilo. Eu sou mulher, e se um homem aparecer dizendo que eu sou puta, a sociedade acredita. E não adiante eu negar, a voz de uma mulher é sempre menos ouvida, na grande parte das coisas.

Quando sai do banheiro, vesti só um calcinha e me deitei na cama, pegando o controle das cortinas, que aos poucos iam se fechando. Eu não tinha conseguido dormir direito na última noite, então acabei pegando no sono rapidamente.