Cardoso Sol
Puta. Que. Pariu.
Não, não, não! Não pode ser!
Neste momento eu estou parada na porta da casa de tia Cris, paralisada.
Gael está em meu colo e percebo que ele não entende o que está acontecendo. Sinceramente, acho que eu também não estou!
Porra.
Respiro fundo encarando a mulher sentada no sofá, que me olha com o olhar mais falso do mundo.
--- O que você está fazendo aqui? --- Quebro o silêncio que estava no local.
--- Eu queria ver vocês --- A mulher que Deus me deu como mãe diz.
Coloco Gael no chão mas ele não saí de perto de mim, continua ali. Não sei se ele se lembra dela, ela foi embora um pouco depois da morte do meu pai, uns dois anos, acredito que ele se lembrar muito pouco.
É possível contar nos dedos quantas vezes ela o pegou no colo. Ela nunca ligou muito para mim nem para Gael, sempre se preocupou somente com o trabalho, e sinceramente, acho que ela nunca quis ter filhos, só teve porque não teve a responsabilidade de se proteger.
Meu pai sempre cuidou de mim como se fosse a coisa mais preciosa da vida dele, e segundo ele, eu era. Com Gale não foi diferente, ele cuidava de Gael com um brilho maravilhoso no olhar. Sempre me emociono quando me lembro.
--- Vem cá, filho --- Ela se ajoelha chamando Gael. Filho? Ela nunca nos chamou de filho. Ah, fala sério!
Vejo o sorriso sumir de seu rosto quando Gael abraça minhas pernas.
--- Vem, Marcelo. Vamos sair daqui --- Tia Cris e tio Marcelo saem dali. Os dois não estavam com um semblante bom.
--- Ele se lembra de mim?
--- Não sei. Nunca fiz questão de falar para para ele sobre a mãe dele.
--- Filha...
--- Não me chama assim, por favor!
--- Vamos conversar, por favor --- Ela se levanta, ficando na minha altura.
--- Gael, você pode ir lá com a tia Cris, por favor? --- Me abaixo para fazer carinho no rosto do pequeno e logo ele sai da sala.
--- Poderia ter deixado ele aqui.
--- Não, é melhor não.
--- Olha, Sol... me perdoa... eu sei que eu errei.
--- O mínimo, não? --- Solto um riso irônico --- Era só isso?
--- Não. Me perdoa, Sol. Vamos fingir que nada aconteceu, aí a gente pode...
--- Fingir que nada aconteceu? Você só pode estar brincando mesmo! Como você quer que eu esqueça de tudo? Me diz! Por que eu não consigo! --- Sinto meus olhos marejarem. Maldita tpm.
--- Eu me arrependo.
--- Eu também. Eu me arrependo todos os dias por ter sofrido por você ter ido embora, enquanto você não estava nem aí para os seus filhos. Eu me arrependo de todas as vezes que eu te cobrava atenção porque eu não conseguia entender que você não estava nem aí para mim. Porque, em vinte e dois anos, eu não sei qual foi o dia em que você me deu um abraço e disse um "eu te amo", coisa que quem fez no seu lugar foi a tia Cristiane.
--- Não reclama do que ela fez por você.
--- Não estou reclamando! Óbvio que não, eu sou muito grata a ela, por tudo! Tudo o que ela já fez por mim sem obrigação nenhuma, porque a mulher que me colocou no mundo não teve a capacidade de fazer! Eu sou muito grata, a tudo o que a tia Cristiane faz por mim e pelo Gael, mas será que você não entende que tudo o que eu queria as vezes era um abraço da MINHA mãe? Se é que eu posso te chamar assim!