CAPÍTULO 9

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ANA

Havíamos pego tudo que podíamos de lá e saímos o mais rápido possível, nos despedindo do porteiro.

Tinha lido livros e visto filmes o suficiente pra saber que essa história toda estava caminhando pra algo muito suspeito, mas estava obstinada a encontrar minhas respostas.

Já era de noite, então pedimos um delivery e fomos de Uber pra casa.

— Acha que essa família que o Pinheiros indicou tem algo com a sua história?

Dou de ombros.

— Não sei, as joias Lombardi são famosas e acho que a mamãe mesmo tem uma ou outra guardada. Mas o que eles poderiam ter a ver comigo?

A pizza chegou e sentamos no chão da sala, arrumando os papéis e conversando enquanto comíamos uma pizza deliciosa de calabresa com uma coca.

— Pinheiros não tinha escrito algo sobre o relicário ser o rascunho deles? Quando a marca foi criada? – Minha irmã pergunta antes de beber mais um pouco de refri.

Limpo minhas mãos em um dos guardanapos e puxo um travesseiro para o meu colo antes de depositar o notebook nele.

Abro Google e digito JOALHERIA LOMBARDI.

As pesquisas mostram primeiro as imagens das joias, o site principal e diversos sites com entrevistas, pesquisas ou assuntos relacionados. Caramba, eles tinham até uma página no Wikipédia dedicada inteira a história da joalheira.

"Fundada em 1920 pela família Lombardi. Composta na época por Dante Lombardi que era um dedicado ferreiro e ourives. Ele havia aprendido a profissão do pai, que aprendeu do avô e veio para o Brasil na expectativa de achar mais pedras preciosas e começar aqui o seu sonho.

Ele chegou em 1914 com sua família e uma promessa de noivado a herdeira das fazendas Pereira. A jovem Júlia Martins Pereira e o italiano recém-chegado, ficaram noivos por um tempo até o acordo ser quebrado e Dante resolver passar o resto dos seus dias nas joias. Até a data da sua morte, ele abriu diversas lojas no Estado do Rio de Janeiro e tinha cumprido com seu sonho de menino.

Hoje, depois do centenário da criação da marca. A Família Lombardi domina o ramo das joias de forma impressionante, sempre buscando inovar suas peças e ainda ganhando nas suas escolhas atemporais. Atualmente tudo é comandado por seu sobrinho-neto, Dante Carvalho Lombardi."

Não era muita informação, mas casava com algumas coisas das minhas informações.

Resolvi pesquisar um pouco mais da família Lombardi, e a maioria era de outros familiares. Coisas de sempre de socialites, mas quase nenhuma foto do tal Dante.

Se alguém tinha informação sobre tudo isso, devia ser ele, não é?

— Nossa, esse povo rico realmente adora um holofote. – Minha mãe irmã murmura enquanto pesquisava no próprio celular.

— Acha realmente que eles são o primeiro caminho que temos que seguir?

— Era o caminho do Davi Pinheiros. Pra seguir isso, alguma coisa tinha.

Acabo acenando em concordância e volto pra minha pesquisa.

Quando digito Dante Lombardi e vejo a foto, é como se o tempo parasse e sem brincadeira, meu sangue começa a correr, minha boca seca e minhas mãos travam.

Era como olhar pra alguém que eu conhecia, e ao mesmo tempo, nunca tinha visto ele na minha vida. Como isso era possível?

Levo meus dedos até o cabelo preto liso que ondulava nas pontas. Os olhos quase cinzas e expressivos, o sorriso fechado, a pele bronzeada pelo sol, o rosto quadrado perfeito que muitos homens gastam rios de dinheiro em harmonização facial pra ter...

Ele era lindo. Era de tirar o fôlego...

Era...

Meu.

Era loucura. Só podia ser loucura da minha cabeça, mas minha mão aperta o relicário com força ao continuar olhando pro rosto dele.

Conhecia aqueles olhos como conhecia os meus. Conhecia aquele rosto, o toque suave dos seus cabelos...

Como isso era possível? O que estava acontecendo?

— Ficou calada do nada, o que você achou aí? – Minha irmã se arrasta para o meu lado no chão e assobia ao ver a foto do Dante. — Uau, que gato! É mana, mesmo que ele não tenha nada a ver com a sua história, acho que vale a pena irmos atrás desse gostoso.

Acabo rindo baixinho pra tentar aliviar essa pressão doida que senti de repente.

— Mas você sabe que ele não fica aqui na capital, né? A empresa tem sede aqui, mas tem a principal lá nas terras da família, numa cidade do interior do Rio chamada de Diamanteira. Parece meio bobo, mas é esse o nome. – Minha irmã me diz.

Me viro para ela, parando de encarar a imagem do Dante por um segundo.

— Parece que temos uma viagem marcada, irmã.

Seus olhos se arregalam animados pela primeira vez desde a partida da mamãe e percebo que apesar de ter que voltar para o meu trabalho e ela para o dela, eu e minha irmã vivamos muito ocupadas e essa viagem faria bem para ambas. Seria importante também para tirarmos nossa mente daqui um pouco e de uma dor que ainda estávamos processando.

Mordo meu lábio inferior.

— Parece que temos uma explicações no trabalho pra dar.

Ela morde o dela antes de começar a rir junto comigo.

**

DIAS DEPOIS

Acabou que não tinha mais como prolongar mais nada porque depois dos poucos dias que tive para o enterro, também tirei umas férias antigas pra resolver várias coisas e meus dias acabaram.

Então fiz o que não tive saída, pedi demissão. A sorte foi que meu chefe era gente boa demais e fizemos um acordo que beneficiou a ambos. Ele ficou triste em me perder, mas entendia a importância da minha mãe pra mim e me apoiou na minha busca.

Minha irmã tinha a loja dela, mas ela podia delegar de longe e seus funcionários eram ótimos e sabiam replicar suas receitas com perfeição.

Nossas pesquisas mostraram que mesmo tempo diferentes filiais espalhadas e uma empresa aqui mesmo no Rio, a família morava mesmo na sede principal, no interior do Estado.

Tinha terminado de arrumar minha mala quando me lembrei do caderninho que o investigador havia deixado. Fiquei tão absorta resolvendo os pormenores  da nossa viagem que esqueci que tinham mais coisas além do relicário que eu acabava tocando toda vez antes de dormir.

Abro minha gaveta de cabeceira e encaro o caderninho surrado por uns segundos antes de abri-lo.

Soltando a respiração que não pensei que estivesse segurando, abro o caderno.

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