CAPÍTULO 33

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DANTE

Era muita coisa pra assimilar e ainda assim, era como as peças finalmente se encaixassem e eu entendesse tudo de uma vez só, me deixando tonto com tantas informações.

Finalmente entendi porque em muitos momentos da vida me sentia apático em relação e tudo e todos. Como só me permiti criar. Um relacionamento foi imposto e mesmo assim não parecia natural, não me fazia ter prazer.

Até eu conhecer minha filha.

Até eu conhecer a Ana.

Até eu entender que eu estava esperando por elas desde o primeiro momento, e não sabia como lidar com isso. Sempre soube que algum mistério estava esperando por mim por trás do terreno vasto da minha família, mas nunca pensei que quem esperava por mim, fosse minha verdadeira família.

Aquela que me foi negada.

Negada ao Dante.

Como tudo poderia ter sido diferente se eles tivessem ficado juntos. Eu e Ana talvez não existiríamos, talvez fôssemos outras versões que não estivessem destinadas para a eternidade.

Mas por um lado, por um lado era bom que eu tive essa oportunidade.

Agora eu sentia um certo medo. Uma vontade de pegar Ana e minha filha e irmos embora daqui. Pra longe dessa gente que não quer nosso bem, ir viver nossa vida e esquecer de tudo.

Mas outra parte minha, uma parte grande, queria vingança. Queria entender o por que. Queria entender mais sobre a vida da Ana que sofreu tanto nessa história toda.

Abandonada a sorte desde bebê. Condenada sem escolha alguma.

E eu... eu fui tratado como um maluco. Errado das ideias por imaginar coisas.

Era nossa vez de nos libertarmos e libertar todo uma história de um passado tão trágico que nos acompanha até hoje.

Eu estava esperando por ela no quarto, enquanto os outros desciam na frente. Pedi um minuto a sós, e sua irmã me olhou de forma engraçada, e quase riria, se não fosse tudo tão tenso.

— Dante... – Ela começa com aqueles olhos que prenderam minha atenção desde o começo. Mas agora eu não queria ouvir mais nada. Estava abarrotado, cheio. E ao mesmo tempo, me sentia uma balão sendo esvaziado aos poucos pra esvair no ar. Livre.

Atravesso o quarto em pequenos passos e coloco uma mão em sua nuca e outra na cintura, puxando-a para mim antes de colar nossas bocas.

Porra.

Ela tinha gosto de bala de hortelã e liberdade. Era viciante e elétrico. E eu queria mais. Mais cedo foi muito pouco, muito rápido e eu já sentia falta da boca dela.

Gemidos meus e dela se misturavam enquanto aprofundávamos nosso beijo. Eu queria ela inteira. Tinha fome dela. Era como se algo despertasse além de mim.

Nossas línguas duelavam e nossas bocas se moviam de forma como se tivéssemos batalhando. E estávamos. Um pelo o outro.

Quando o ar finalmente foi necessário, Ana tinha as mãos apoiadas no meu ombro e outra puxando meu cabelo. Eu tinha ela presa contra a parede.

— Agora sim, agora sim podemos ir em frente. – Sussurro encarando aquela boca que estava inchada dos meus beijos. Era viciante e eu queria mais.

Podia ver que ela queria o mesmo quando suas pupilas dilataram.

— Dante... – Ela sussurrou. — Eu quero você ao ponto de doer. Doer fisicamente. Mas precisamos...

E eu sentia a mesma coisa.

Queria colar mais meu corpo no dela, mas sabíamos que tínhamos que parar... por enquanto.

Eu aceno em concordância e colo nossas bocas uma última vez antes de nos afastarmos.

— Isso me ajudará... – Digo pra ela antes de pegar na mão dela. — Por enquanto.

E ela sorri de forma zombeteira pra mim.

ANA

O beijo do Dante só me deu certeza que estávamos tão imersos nessa história que não tivemos tempo para nós dois. E quando teríamos?

Quando tudo voltaria a ser normal?

E quando tudo já foi normal, Ana?

Mamãe costumava falar isso pra mim quando eu era pequena. Quando eu questionava tantas coisas e ações e falava que só queria uma vida normal e simples como muitos jovens, e ela me questionou que nada nunca foi normal, e que verdade seja dita, o normal era chato.

Agora eu só queria um pouco de normal enquanto íamos nos encontrar com Davi Pinheiros.

O detetive resolveu marcar praticamente no meio do nada. Minha irmã e eu fomos com o Dante de carro até lá.

Ao chegarmos, parecia que tinha passado uma década desde que nos encontramos com aquele homem baixinho pela primeira vez. Nos preocupamos com ele, acreditamos nele e seguimos suas pistas...

Detetive Davi Pinheiros estava parado na frente de um carro de aparência velha. Ele olhava no carro ansioso e pareceu curioso ao observar o Dante saindo com a gente do carro.

Nós duas chegamos e demos um abraço naquele homem que também era a última ponta e contato com a nossa mãe.

Mas minha irmã termina em grande estilo balançando ele pelos ombros.

— Onde o senhor esteve? Como some assim e quase mata a gente do coração!

Me viro pra ele.

— O senhor nos ajudou a entrar nessa bagunça, precisa nos ajudar a sair dela. Ou pelo menos, desvendar.

Ele suspira antes de tirar o chapéu Panamá da cabeça e nos olhou atentamente.

— Achei que seríamos só nós três.

Dou de ombros.

— Confio nele, agora desembucha. – Digo já nervosa. Eu já tive tantos baques no dia de hoje, o que mais um faria? Ainda mais essa hora da noite.

— Olhem, eu sumi porque também estava envolvido em outros casos e alguns mais perigosos do que os outros. O orfanato não tinha pistas exatas de nada, então tive que voltar e analisar. Quem te de deixou lá, deixou com pistas que te ligavam a sua história. Aquele cordão, descobri que era ligado à família Lombardi, era baseado no primeiro relicário que eles fizeram, que foi o Dante Lombardi, fundador da marca que desenhou. Ninguém sabia mais a fundo do que isso, mas fui vasculhando mais e achei recortes antigos, documentos que falam que o que ele tinha de brilhante, ele tinha de potencialmente depressivo. O que antes era chamado de louco. Mas o que impressiona era que ele não era assim. Alguma coisa aconteceu que fez com que ele ficasse assim e depois sua marca decolou. Peças e mais peças criadas. Coleções com temas que envolvem amor e perda. Até ele morrer.

Isso tudo se encaixava com o que soubemos mais cedo.

Dante ficou depressivo depois de perder a Adanna. Isolado do mundo.

E Adanna? Ela realmente morreu?

— Bem, pode ser que conseguimos um pouco mais de informações do que o senhor. – Minha irmã começa.

Dante e aproxima e aperta a minha mão. Agora era hora de unirmos forças.

Amanhã era a parada final, amanhã iríamos no quilombo e desvendar tudo.

DONA CRISTINE

O tempo estava acabando.
Ela podia sentir isso.

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