ANA MACHADO
— Que ligação mais louca foi essa, mana?
Encaro a minha irmã depois de explicar tudo que falei com o investigador. Minha cabeça ainda zunia com tudo que aconteceu nos últimos minutos.
— E agora? Será que devemos chamar a polícia?
Minha irmã balança a cabeça.
— E falar o que? Que a gente acha que um investigador sumiu? Sem provas e só suspeitas? E aparece com essa história doida como pano de fundo? Vão mandar termos provas ou esperar as quarenta e oito horas de desaparecimento.
Fiz um careta percebendo que ela estava certa. Quem daria noção pra essa nossa maluquice?
— O que a gente faz então?
— Ué, vamos atrás das pistas que ele falou na casa dele. Como essa casa ele nem vai chegar perto e garantiu que era segura, não vai ter risco.
— Será mesmo? – Questiono contrariada.
— Você disse que queria saber, não é? Então só podemos saber se formos até lá.
Acabo acenando em concordância.
Agora que havia me comprometido, era até o fim!
**
Decidimos ir no dia seguinte que seria mais seguro e não sabíamos ao certo quanto tempo levaríamos ali.
Então, acordamos, tomamos um grande café da manhã e fomos pra rua.— Bem, é óbvio que ele disse que era seguro porque isso aqui parece mais protegido que uma penitenciária de segurança máxima. – Minha irmã brinca ao encaramos o prédio cinza com uma fachada com câmeras, concertina com choque e até mesmo aviso de cachorro bravo. Isso tudo só na fachada e nem tínhamos entrado.
Acabou que o prédio ficava muito perto da gente. Morávamos em Vila Isabel e o prédio ficava no Grajaú, quase escondido dentro do bairro.
Atravessamos a rua e eu toco a campainha encarando a câmera com voz robótica perguntando quem era. Depois que me identifico e falo que Davi Pinheiros permitiu minha entrada, um barulho alto que com certeza nos assustou, e a porta abre com um senhorzinho baixinho, grisalho, óculos de grau e com um sorriso caloroso no rosto.
Acho que agora queria rir dessa discrepância, mas o porteiro já se apresenta e nos indicar o elevador e o andar.
— Meu nome é Paulo, o senhor Davi falou que as senhoritas viriam e vou levá-las lá. Por favor, me sigam.
Andamos por um longo corredor, que vi só um quartinho que supus que era onde seu Paulo ficasse, indo até os elevadores de aparência antiga como o que já vi no CCBB lá no centro da cidade.
O elevador faz até um barulho assim que se movimenta e começo a ficar ansiosa.
O que será que encontraríamos lá?
Queria não ter expectativas, mas a verdade era que eu trabalhava em editora, trabalhava com livros que eram minha paixão, então nada mais natural que fantasiar com muita força sobre todas as possibilidades que poderiam ser encontradas nesse apartamento.
O elevador chegou rápido porque já era no primeiro andar, saímos por mais um corredor cinza onde cada porta era uma cor diferente. Paramos na porta azul escuro com o número cento e cinco de preto.
— Não sei ao certo o que ele tinha deixado específico para vocês, então podem entrar e procurar a vontade. Qualquer coisa só interfonar lá pra baixo, apertar asterisco um e eu venho rapidamente.
— Pode deixar! Obrigada, seu Paulo. — Minha irmã agradece e eu também.
Ele nos deixa ali e respiramos fundo antes de entrar.
Não sei o que eu esperava, mas um apartamento simples não deveria ter me espantado.
As paredes brancas de um pequeno apartamento que tinha a pequena cozinha já ligada a sala aberta com um sofá-cama e um banheiro com a porta aberta. A única porta fechada parecia ser o que suspeitava, um escritório.
— Poxa, pela sua cara acho que também esperava alguma coisa nível espiã, não é? Sei que eu esperava. – Sara resmunga antes de prender o cabelo em um coque.
— Acho que deixei a fachada me subir a cabeça e comecei a esperar coisas de filme de ação quando é só um apartamento. – Suspiro. — Bem, vamos começar. Ali deve ser o escritório, não sei se vamos achar rápido. Provavelmente deve ter o nome da nossa mãe ou o meu? Vamos ter que vasculhar tudo.
Minha irmã me olha com uma careta zombeteira.
— Que bom que temos a tarde toda pra isso.
Dei a língua pra ela e fomos ao trabalho.
Que bom que sabíamos que esse trabalho poderia levar a tarde inteira, porque o que esse homem mais tinha era papel. Talvez tivesse aversão a internet.
O quarto era realmente um escritório, mas um escritório extremamente lotado. Esse homem documentava tudo e ligava os pontos.
Ele tinha estantes e estantes com caixa de pastas de arquivos. Uma mesa com um computador e um quadro branco pendurado na parede com algumas coisas anotadas.
Vi algumas palavras rabiscadas no quadro, mas tudo parecia em siglas e não entendi muito bem. Por precaução, tirei um foto para analisarmos mais tarde.
Depois do que pareceu a vigésima caixa, minha irmã gritou do chão.
— Achei! Bem, acho que achei.
Vou para o lado dela e sento no chão.
— Como será que ele conseguiu guardar isso antes de aparentemente fugir? – Questiono enquanto encaro a pasta bege.
— Talvez tenha entregue antes para alguém de confiança ou deixado aqui ele mesmo e depois meteu o pé. Mas não se preocupe, entramos aqui e tem vários apartamentos. Podem pensar que somos de qualquer um deles.
Apenas aceno em concordância. Meu medo era que alguém estivesse lá fora...
Instintivamente levo a mão ao relicário escondido debaixo da minha blusa. Ao tocar nele, pude sentir algo diferente. Uma espécie de força.
Minha irmã então abre a pasta e vejo mais papéis. O contrato dele com a minha mãe, as pistas da comprovação da mãe biológica da minha irmã e um cartão de uma joalheria grampeado em um papel cheio de rabiscos e uns pontos conectando a outros. Quase um mapa mental confuso.
Joalheria Lombardi.
Família Lombardi.
D.L.
Dante Lombardi?
Qual ligação? Relicário, arabescos famosos da família Lombardi.
Joia antiga. Talvez trabalho escravo? Talvez presente? Talvez roubo?
- Atendente suspeita. Estranha quando mostro foto do relicário e diz que aquele nunca foi vendido.
- Vou a um conhecido dono de uma loja de penhores. Ele conhece joias antigas.
- Jacques me olha com suspeita e me pergunta onde eu achei. Minto. Trocamos mais uma palavras e eu saio de lá me sentindo estranho.
- Tinha algo estranho nisso tudo. Mas tudo estava ligado. Investigar mais.
Os pontos terminaram ali e agora pelo menos tinha um lugar pra começar: Família Lombardi.
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ENFIM, LIBERTA
RomantizmSINOPSE: Ana sempre sentiu um vazio, uma desconexão com o mundo desde criança. Ela foi abandonada quando bebê na porta de um orfanato e adotada aos doze junto com sua irmã de coração. Mesmo assim, ela se sentia estranha. Esse vazio só aumenta quando...