ANA
— E aí? Como foi tudo? Gostou do emprego de babá? Conseguiu vasculhar alguma coisa? Conta tudo! – Minha irmã me pergunta assim que entro no quarto já de pijama.
Ela havia me buscado, mas estava tão cansada que dormi no carro e só me senti melhor depois que cheguei na nossa pousada e tomei um banho morno.
Demorei um pouco para falar porque ainda podia sentir o olhar penetrante do Dante me seguindo depois que deu a minha hora.
Depois de cair na pegadinha da filha, ele se trocou e foi logo atrás dela. Era desconcertante ver os dois juntos e como aquele homem que eu só tinha visto uma vez parecia nunca sorrir, mas sorria para a filha pequena.
Era bonito e quase me fez sentir culpada por pensar que era bem feito por ele cair na pegadinha.
Quase.
Um dia que parecia valer por uma semana. Senti tantas coisas que agora estava um pouco exausta.
— Irmã, foi tão estranho... – E contei tudo que aconteceu. Desde o momento que esbarrei com o Dante na entrada até a hora de ir embora. — Era como se eu já conhecesse os dois, sabe? Já tivesse alguma espécie de reconhecimento e ao mesmo tempo fossem pessoas completamente diferentes...
— Cada vez mais encaixamos as peças no quebra-cabeça da sua história e na nossa teoria de vidas passadas. Se a gente pelo menos achasse alguém que soubesse disso ou tivéssemos mais provas...
— Vou tentar pegar um reconhecimento do terreno melhor nessa semana e depois aproveitar quando a pequena estiver em uma das suas aulas particulares. Não sei o motivo dela não estar matriculada em alguma escola de ensino regular, mas vou procurar saber. Mesmo com o sorriso da avó dela, fiquei meio ressabiada sobre alguma coisa.
— É o instinto. – Ela suspira e se encosta na cabeceira da cama dela de solteiro. — Hoje tentei novamente contato com o nosso detetive fujão e até agora nada. Pelo menos montei um mural para termos uma ideia em que pé estamos em tudo.
Ela pega debaixo da cama um mural branco de tamanho médio cheio de colagens. Ele parece uma mistura do mural do detetive e com algumas informações extras.
— Só temos que escondê-lo todos os dias para ninguém suspeitar de nada. Sabemos que a dona Agatha limpa os quartos de dois em dois dias e as vezes até se pedem antes.
— Você acha que ela saberia de alguma coisa? Ela pareceu bem ansiosa quando falamos da minha entrevista.
Sara da de ombros.
— Podemos tentar. Amanhã no café vou tentar falar com ela novamente e andar por aí, sempre tem um fofoqueiro em cidade pequena.
— Só temos que ter cuidado e fazer as perguntas certas. – Determino. Precisamos ter cautela.
Minha irmã acena com a cabeça.
— Pode deixar! E agora? Vai terminar o diário da Adanna? Acho que está na hora de termos mais respostas.
Ando com a cabeça.
— Também acho. As vezes ela é meio vaga, mas espero que ler o resto das páginas nos traga algum esclarecimento. Como foi a busca pelos quilombos da área?
Sara faz um muxoxo com a boca.
— Acredita que nenhum apareceu? Mas amanhã vou estender a busca pra mais longe e ver se acho algo.
— Tá bom.
A feição da minha irmã muda e agora fico com medo.
— Você achou ele um gostoso não é? Tínhamos visto isso pela foto, mas de perto deve ser ainda melhor.
Eu faço um barulho que parece semelhante a um rosnar.
— Sim! Aquele babaca é um tremendo de um gostoso. Mas a gostosura não esconde a babaquice, por isso fiquei mais controlada. Nossa, a presunção dele achar que eu era uma interesseira... sério, quis esganar aquele homem.
— Você disse que as outras pareciam mais arrumadas pra uma entrevista na empresa do que pra babá, não é? Vai saber o que aquele homem já aguentou por aí.
— Você tá do lado dele, Sara? Mesmo que o comportamento dele seja quase desculpável, eu só quero reclamar dele e você tem que ficar do meu lado como toda boa melhor amiga e irmã. – Eu brinco antes de pegar um dos morangos do pote.
Ela sabia que eu estava cansada e foi lá embaixo pegar umas frutas e um sanduíches naturais pra gente. Tinham também uns sucos naturais e uma garrafa d'água gelada.
Sara zomba.
— Claro, claro. Perdão por não ter ficado do lado da minha irmã neurótica e doida. Tinha que ter feito o certo e condenado ele perpetuamente.
— Isso ai! – Concordo agora levantando o morango mordido como brinde.
— Bem, agora temos que... — Sara começa mas é interrompida pelo som sonoro de uma mensagem no celular.
— É o meu. – Digo, antes de terminar o morango.
Ficávamos de olho nos nossos celulares, atentas para qualquer contato do nosso detetive sumido.
Pego o celular e abro no aplicativo de mensagens, tomando um susto ao abrir a mensagem de um número desconhecido.
VÁ EMBORA! SAIA DAQUI ANTES QUE VOCÊ TENHA O MESMO FIM!
Minha mão começa a tremer e acho que nem percebo que deixo o celular cair antes da minha irmã se aproximar e pegar o aparelho do meu colo.
— Que porra é essa? – Ela murmura assustada.
— Alguém já sabe que estou aqui. Como alguém já sabe? Será que fomos seguidas e não notamos? – Questiono enquanto encaro meu celular como se fosse um bicho perigoso.
— Podíamos tentar ligar pra esse número, mas a chance é que seja um celular descartável. Que droga...
Alguém já sabia que estava aqui e apesar do medo que senti pela ameaça, lembrei de tudo que minha mãe havia feito pra correr atrás do meu passado por mim. Lembrei de quando eu era pequena e pensava na família que nunca conheci...
E mais uma vez alguém me negava a verdade. Me negava a minha verdade.
Alguém não queria que eu descobrisse sobre a Adanna e sobre nossa ligação. Alguém que sabia quem eu era.
— Temos que continuar. Se estamos incomodando é porque estamos quase tocando em algo importante. – Digo com convicção.
Já aprisionaram minha antepassada com a verdade antes. Não fariam o mesmo comigo.
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Por aí vem mais capítulo de Adanna e o primeiro do nosso Dante.
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ENFIM, LIBERTA
Roman d'amourSINOPSE: Ana sempre sentiu um vazio, uma desconexão com o mundo desde criança. Ela foi abandonada quando bebê na porta de um orfanato e adotada aos doze junto com sua irmã de coração. Mesmo assim, ela se sentia estranha. Esse vazio só aumenta quando...