CAPÍTULO 28

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Voltei!!!!
Jamais iria abandonar vocês por tanto tempo!
Agora vamos voltar ao nosso casal e as fortes emoções que vem por aí.

ANA

Não deveria estar gostando tanto da companhia dele neste carro, mas era impossível não pensar nisso.

Em como parecia fácil até quando a gente discutia. Era como se eu pudesse esquecer de tudo e ser eu mesma.

E a quanto tempo eu não era apenas Ana?

Desde que a mamãe morreu? Desde a descoberta? Ou muito antes... quando descobrimos a doença dela?

Mamãe apesar dos pesares sempre se mostrava altiva, pronta pra enfrentar qualquer coisa e qualquer um.

Agora a raiva estava passando e uma estranha melancolia estava me dominando. Que grande bagunça a minha vida tinha virado! Eu estava descobrindo essas coisas por mim ou pela Adanna? Ou por nós duas?

Se ela é mesma minha antepassada que me incomoda nos meus sonhos, que deixa suas coisas pra mim, por que ela não me dá logo a história toda? Estava cansada. E sabia que minha vontade de descobrir quem eu era, estava misturada na vontade de fugir do luto enquanto descobria minha história.

— Você está muito calada, quer tentar conversar agora? Civilizadamente? – Dante pergunta em um tom brincalhão, mas consigo notar um tom de preocupação também.

Esse homem podia não saber, mas ele estava metido nessa confusão junto comigo.

— Só quero ir pra casa. – E ficar longe de você e da eminente volta da sua ex. Acrescentei mentalmente.

Ele suspira baixinho e posso sentir seus olhos em mim rapidamente, mas insisto em ficar com o rosto virado pra janela.

— Ana, eu... eu quero tentar ficar de bem com você.

Agora isso tinha minha atenção. Me endireito no banco e viro pra ele, que tinha os olhos agora atentos no caminho. A chuva que pareceu cair do nada, ainda continuava forte do lado de fora.

Como estávamos molhados, ele havia ligado o aquecedor do carro que nos ajudou um pouco.

— Ficar de bem comigo? Você? Que praticamente me chamou de interesseira ou insinuou que eu era como todas as outras malucas que já entraram ali?

Pude ver a reação física nele quando disso aquilo. Parecia que ele havia levado um tapa, mas não negava a verdade.

— Me desculpe por aquilo. É que já tive tantos problemas com isso que você nem pode imaginar. A quantidade de mulheres que apareceram achando que um sorriso ia me fazer cair aos seus pés, que se jogar em mim na frente da minha filha ia ser alguma coisa boa...

Agora eu fico chocada.

— E fizeram isso? Na frente da Maya?

Ele acena concordando.

— Fizeram. Tiveram a cara de pau de insinuar que minha filha precisava de uma mãe e ela sempre teve aquele toque maternal. – Ele revira os olhos só de lembrar. — Você deve saber da história, porque o pessoal dessa cidade adora uma fofoca.

Realmente o povo dessa cidade adora uma fofoca, visto que todo dia minha irmã trazia alguma de alguém.

Mas nem tudo eu sabia deles.

— O que?

— Que eu achei a minha filha, anos atrás. Num casebre abandonado quando ela era ainda bebê. Foi tão estranho porque eu estava apenas correndo e do nada, foi como se eu estivesse correndo para ela, sabe?

Enquanto ele continuava, era como se meu corpo fosse transportado pra outra dimensão e conseguisse ver tudo isso.

Na verdade, eu consegui me ver. Acariciando minha barriga inchada, passando os braços sobre aquela vida que estava guardada dentro de mim. Gerando o amor da minha vida.

Conseguia imaginar como ela seria uma mistura linda do amor da minha vida e eu. Era tanto amor. Tanta alegria, tanta preocupação, tanto, tanto amor.

Eu estava inundada de amor e sentia isso também ao imaginar o Dante correndo e se deparando com o bebê ali no casebre.

Casebre...

Não. Não podia ser.

"Dante tinha uma casinha, um lugar só nosso..."

As palavras de Adanna voltam a girar na minha mente e de repente parece difícil respirar.

Não pode ser.

Mas...e se for?

— Ana? Ana você está bem? Você parece que vai vomitar a qualquer momento.

De repente o carro para e eu sinto mãos no meu rosto.
O toque dele é gentil no meu rosto, que nem quando desmaiei mais cedo. Podia ver seu olhar preocupado buscando o meu.

Ele era lindo.

Era loucura ter epifanias agora, mas essa era a verdade. Cada pedaço do rosto do Dante era lindo. Ele falar do amor dele por sua filha era lindo. O jeito dele ser todo idiota por fora mas amável por dentro era lindo.

E caramba, eu estava gostando dele. Mas que ponto era o meu gostar e os sentimentos de uma pessoa que morreu a tantos anos de forma horrível? Será que ele também faz parte do mistério que tenho que resolver? E se sim, como faço isso? Como envolver mais uma pessoa? Será que posso confiar nele?

Eram muitas perguntas e meu coração estava batendo descompassado, como se fosse pular do meu peito de ansiedade.

Éramos eu e ele ali. Eu e ele e uma grande história.

Mas ao mesmo tempo, também só éramos eu e ele.

Ana e Dante.

Não Adanna e Dante. 

Com uma coragem - ou loucura, dependendo do ponto de vista - que nunca tive antes, levanto minha mão e toco seu rosto também. 

A respiração dele muda, se torna irregular que nem a minha.

Ambos estávamos procurando, olhando, contornando com os dedos, com toques singelos, o rosto do outro.

Talvez eu realmente tenha entrado numa epifania maluca e agora só queria sentir se essa conexão realmente era real.

Se realmente eu sentia por mim ou sentia por outra pessoa.

O toque de leve dos nossos lábios me energizou como se uma corrente de energia tivesse passado por mim, e logo éramos uma confusão de toques, línguas e gemidos.

Talvez tenham sido meus.

Mas tinha certeza que tinham muitos dos nossos.

Dante me apertava junto a ele, com a mão na minha nuca e sua boca desvendando a minha. Desnudando meus segredos, assim como eu tentava fazer o mesmo com os dele.

Eu queria subir no seu colo e sentir seu corpo mais perto do meu.

Eu precisava de mais.

E eu teria mais.

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ENFIM, LIBERTAOnde histórias criam vida. Descubra agora