CAPÍTULO 38

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DONA MARINA SOARES LOMBARDI

Podia sentir que tudo tinha sido em vão.

A presença da Cora pode ter cutucado um pouco as coisas, mas Dante estava irredutível na ideia de viajar por uns dias com a Ana e a Maya.

Não podia deixar, isso não podia acontecer.

Era como se eu pudesse sentir no ar que algo estava diferente. Mas eles não podiam descobrir...

Dante não podia descobrir que na verdade... que nada disso era nosso.

Olho para a lua lá fora pensando que o pai do Dante precisava voltar logo. Mas nosso casamento não era mais o mesmo. Éramos frios um com o outro, a ambição e as responsabilidades do nome da família foram sobrecarregando nosso relacionamento.

O que talvez fosse culpa da maldição...

Não! Não podia pensar nessas asneiras. Minha mente não iria por esses caminhos.

Eu precisava de alguma solução.

Eles só não viajaram se tivesse algum impedimento, e o único que eu consigo pensar é doença ou acidente.

Se eu me machucasse? Meu filho ficaria por mim. Sei que sim.

Era arriscado, mas precisava manter eles aqui perto da agora, precisava conseguir mantê-los afastados um do outro pela maior quantidade de tempo possível.

Mando mais uma mensagem pro meu marido. Ele disse que chegaria essa semana, e esperava que ele tivesse algum plano, porque eu já me via de mãos atadas.

Eles estavam perto demais de descobrir tudo.

Maldita a hora que eu contratei a Ana.

DANTE

Estava tudo pronto.

Ana tinha ajudado a mala da Maya ontem mesmo e eu fiz a minha mais tarde. Eu e minha filha iríamos passar na pousada para buscá-la e depois iríamos tirar nosso tão merecido descanso.

Os últimos dias pareciam ter sido como um furacão. Revirando tudo, destruindo muitas coisas, mas ao mesmo tempo revelando outras.

Era ainda surreal pensar nisso tudo. Vidas passadas, amantes predestinados, uma história trágica em um tempo tenebroso que foi a escravidão...

Dante e Adanna foram condenados pela cor da pele. Foram separados, machucados e tiveram um fim horrível.

Eu e Ana não acabaríamos assim. Nosso começo pode ter sido confuso, mas o final seria diferente. Seria melhor.

Iria garantir isso.

Depois de arrumar tudo, pego minhas coisas e da minha filha e começo a descer a escadas, pronto pra pegar minha mulher e minha filha e nos darmos um tempo dessa loucura toda.

Me viro pra procurar minha filha que havia ficado com a minha mãe no primeiro andar. Ambas tomando café da manhã.

Por incrível que pareça, por mais que eu tenha achado que minha mãe não tinha aceitado meu relacionamento muito bem, ela se mostrou bem madura sobre a situação. Respeitou minhas escolhas mesmo eu sabendo que o que ela queria era me ver com a Cora.

Quando cheguei na cozinha, não as achei lá, então quando ia perguntar por elas para alguém, ouço o som de risos e passos apressados no andar de cima.

Maya devia ter convencido sua vó a participar de uma de suas intermináveis sessões de pique-esconde. Ela amava essa brincadeira e se auto-declarava a melhor.

Estava voltando para a escada principal para subir, quando ouço um grito e logo depois o barulho pesado de algo rolando pela escada.

Maya?

Meu coração gela e eu começo a correr em direção a sala principal para me deparar com o Augustus ali também, a cozinheira Cristine logo atrás de mim, e minha mãe, caída aos pés da escada com uma expressão de dor absoluta.

Um segundo grito, menor e seguido de choro, me faz olhar para cima e ver minha Maya completamente assustada olhando a avó.

Eu precisava ficar calmo nesse momento.

— Que barulho foi esse? – Pergunta Cora também vindo de algum lugar, e eu não me importava, só sai gritando ordens enquanto subia a escada rapidamente para proteger minha filha da visão.

– Chamem uma ambulância imediatamente! Cora, ligue para o meu pai! E por favor, não toquem na minha mãe, não sabemos o que foi.

Todas começaram a correr e eu peguei minha filha no colo e encostei sua cabecinha no meu ombro. Seu corpinho tremia e meu ombro logo estava molhado de suas lágrimas.

Meu coração que parecia que havia parado por um momento ao ver minha mãe no chão, agora batia a mil por hora. Ela estava viva? Ela quebrou algo muito sério? E como ela caiu? Não podia questionar a Maya agora sem assusta-la, e ao mesmo tempo precisava resolver as coisas.

Fiquei balançando minha filha o que pareceu ser uma eternidade quando a dona Cristine veio, com um olhar um pouco estranho.

— A ambulância está chegando, se o senhor quiser, eu posso olhar a pequena Maya, não tem problema algum.

Fiquei receoso. Não por deixar minha filha aos cuidados de alguém da casa. Ela adorava todos e todos adoravam ela, mas era porque Maya parecia nervosa e assustada.

— Eu não sei...

— Por mais que a dona Cora conheça a sua mãe, é melhor que o senhor que resolva as coisas no hospital. Conseguimos falar com o seu pai e ele disse que viria o mais rápido possível.

Isso faz com que o gosto de algo estranho venha na minha boca.

Meu pai. Um homem que eu quase cresci sem contato porque vivia pra empresa. Um homem que desmontou seu descontentamento comigo desde o momento em que eu não segui suas ambições na vida. Que não segui seus caminhos.

Eu desenhava. Eu criava.

Mas isso não era o suficiente. Não era importante.

Talvez a única coisa que ele e eu concordávamos era a minha Maya. Ele amava a neta, mesmo sempre viajando pedia fotos e vídeos dela, e quando estava aqui, sempre dedicava um tempo pra ela. Falava que talvez ela fosse a sucessora que ele tanto queria. Como se eu fosse deixar ele estragar minha filha.

Suspirei e tomei a decisão de entregar a Maya para dona Cristine. Ela tinha razão, eu precisava ir.

— Qualquer coisa me ligue, ok? Qualquer coisa mesmo.

Ela balança a cabeça em concordância enquanto toma minha filha nos braços. Maya chorou tanto que chegou a dormir.

As duas se afastam e eu vou no quarto pegar meu telefone, carteira e documentos quando vejo meu celular cheio de ligações.

Ana.

Droga.

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