CAPÍTULO 17

153 41 3
                                    

ANA

— Adanna relata o momento que ela conhece o Dante e como ela ficou encantada mesmo sem ter ideia do porque, mas fala um pouco sobre como as mulheres do seu quilombo explicaram sobre desejos e vontades. – Explico pra minha irmã.

Depois da entrevista de sucesso, voltamos pra pousada para preparar nossa estratégia e aproveitei pra contar um pouco sobre o que li no diário da Adanna na outra noite.

— É bem possível que o Dante original seja tão gostoso quanto o Dante de agora? Se possível, irmãzinha, você tá ferrada.

Seguro o relicário um pouco mais apertado.

— Acho que as coincidências deixam de ser coincidências quando se tornam fatos. Por mais absurdo que possa parecer, acho que sou a reencarnação da Adanna e o Dante é a reencarnação do verdadeiro. Só isso pode explicar as coisas dela deixadas pela minha família biológica, as pistas, o relicário que me liga a família do Dante... É claro que eles apaixonaram e tiveram alguma coisa, e esse relicário só pode ser algum presente dele pra ela, mas o que aconteceu? Se eles tivessem um final feliz, com certeza não estaríamos nessa.

Sara me olha pensativa antes de se sentar na cama e apertar os olhos. Era uma mania dela quando começava a pensar e encaixar as coisas até entender todo seu pleno funcionamento.

— E se aconteceu alguma tragédia que separou os dois e agora você precisa resolver isso? Será que o Dante de hoje sabe? Será que encontraremos pistas naquela mansão? Era um tempo muito recente do final da abolição. Mal aceitam casais interraciais hoje, imagina naquele tempo...

— Ah, com certeza eles foram separados e aconteceu alguma tragédia. E acho que daí que vem os meus sonhos. Não são sonhos, são lembranças, Sara. – Chego a essa conclusão definitiva.

Tudo parecia muito irreal, mas quanto mais irreal parecia, mais sentido fazia. Não podia mais negar isso.

— Precisamos descobrir o que houve com a Adanna, e em retrocesso, descobriremos da sua família.

— Minha família só pode vir desse quilombo de mulheres fortes, guerreiras... – Meu coração da um pulo. — Talvez temos que fazer duas pesquisas. Duas que no final acabam sendo uma.

Minha irmã balança a cabeça concordando.

— Enquanto você procura e investiga sobre a Adanna naquela família, eu vou fazer o mesmo sobre os quilombos. Mesmo que o da sua família não exista mais, alguma coisa deve existir na internet. E outra, cidade pequena né, com certeza tem fofoca.

— Fofoca tão antiga assim?

— Com certeza!

Passamos o resto do dia pensando nos nossos próximos passos enquanto eu tentava me acalmar internamente sobre amanhã.

Não sabia o que era, mas eu tinha essa sensação, quase uma premonição de que algo estava por vir.

Algo ainda maior.

**

Acordei no dia seguinte com as mãos suadas e o coração acelerado.

Ontem estava tão ansiosa que acabei tomando um calmante e dormi sem ler um pouco mais do diário, mas quando apaguei, acabei sonhando.

O mesmo sonho, e dessa vez mais vivido.

Era como se meus pés ainda formigassem dos galhos que eu pisei na mata, como se meu coração ainda batesse no ritmo assustado de medo e apreensão por estar sendo perseguida.

Era como se eu soubesse no fundo que não haveria escapatória.

O que aconteceu com você, Adanna?

O que aconteceu com essa menina que parecia tão certa de si no começo do diário e depois acabava amedrontada no meu?

Eu lia o diário devagar porque tinha medo do que ele me revelaria cada vez mais. Era como se eu soubesse que nada disso tinha acabado bem.

Será que minha família era do povo quilombola da Adanna? Será que ela realmente era uma parente minha? E se ela era...

Não.

Não era hora de pensar nessas coisas.

Me levanto e vou em direção ao banheiro já com a roupa escolhida. Fiz minhas necessidades e tomei meu banho tentando relaxar e lavar qualquer preocupação que eu tivesse.

Vai dar tudo certo.

Já deu tudo certo.

Termino de me arrumar e me encaro no espelho antes de descer.

— É por mim, por você, por nós, Adanna.

Respiro fundo e desço.

Minha irmã já estava lá embaixo comendo e rindo com a dona Agatha.

Aproveitei pra comer e me distrair de todas essas coisas.

Quando deu meu horário, minha irmã me levou até o casarão e me abraçou apertado.

— Já deu tudo certo!

— Já deu tudo certo!

Era uma frase que nossa mãe sempre usava quando queria nos passar a confiança nos próximos passos.

Respirei fundo e andei novamente me sentindo mais agitada, como se fosse um fio desencapado e a energia corresse solta.

O que era isso? Era como se...

Minhas palavras somem quando a porta da frente abre de supetão e um homem sai pela porta.

Ele para quando me vê ali, perto de entrar.

Era ele.

Ele.

Alto, nariz romano anguloso, rosto quadrado, lábios carnudos, sobrancelhas cheias, olhos claros que pareciam tempestuosos...

Ele.

Dante.

Meu Dante.

_______________________________________

VOTEM! COMENTEM!

O momento chegou 🤪🤌🏾
Teorias?

ENFIM, LIBERTAOnde histórias criam vida. Descubra agora