CAPÍTULO 23

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ADANNA, 1915

Sentir alguém se mexendo dentro de mim era algo diferente.

Me senti como qualquer bicho fêmea na natureza. Protetora com a cria. Selvagem mediante as ameaças.

E sozinha. Enquanto cuidava de tudo.

Dante havia saído por mais tempo do que imaginava, então um dia, num rompante, decidi ir atrás dele.

Já havia andado pelas matas por tempo demais pra saber o caminho que ele havia escolhido.

Caminhei por muito tempo. Fazia paradas para beber água dos rios ou comer alguma fruta, sempre acariciando minha barriga sem pensar.

Até que finalmente cheguei no que pensei ser o destino de Dante. Um casarão imenso, lindo, cheio de flores por todos os cantos e arrumado.

Me escondi quando vi uma movimentação do lado.
Era o Dante! E uma mulher mais velha que ele. Ela lembrava um pouco ele...

— Dante! Você está de compromisso marcado. Não pode quebrar isso.

— Não fui eu que assinei, nem tinha sido eu que concordei.

A senhora leva as mãos para o céu com o rosto contorcido de raiva.

— Mas é o filho mais velho. Tem obrigações, tem que cumprir seu papel.

Nessa hora que Dante se revolta e meu coração se parte.

— Não tenho que cumprir nada! Não pedi por esse casamento arranjado!

Casamento.

Dante estava para se casar...

E com certeza não era comigo.

— Se você não se casar com a menina dos Avilar, o que você acha que vai ser do nome da nossa família? Dante! Tem noção do que a união das duas famílias vai significar? O crescimento da sua loja! Do seu sonho!

Do sonho dele...

E eu achava que o sonho dele era eu...

E que podia ser o nosso bebê.

"Eles nunca vão aceitar você, Adanna. Para de sonhar e acorde. Lembre das histórias que já te contei. O mundo que você sonha não é o mundo que você vive!"

As palavras da minha mãe agora gritam na minha cabeça tão forte que me inclino para trás, fazendo um galho quebrar.

Abro os olhos chocada quando observo os rostos que conversavam acaloradamente agora me observar.

E observar onde minha mão estava pousada.

Na minha barriga inchada.

DANTE, 1915 (Os pensamentos de Dante para vocês)

Meu coração batia tão rápido que parecia que sairia do meu peito.

Minha Adanna, ali.

Minha Adanna, grávida.

Minha, minha, minha.

— Quem era aquela mulher? É por causa dela, não é? É por causa dela que você não vai se comprometer.

Não adiantava negar as acusações da minha mãe porque elas eram verdade.

Era porque eu conheci o amor no lugar mais improvável e da forma mais bonita e pura.

Não era cego as convenções da época. Sabia muito bem que nosso amor era condenado de muitas formas, mas não me impediu de viajar, de sonhar, de acreditar.

Porque não tinha como eu viver em um mundo sem ela.

E agora, não tinha como eu viver em um mundo sem ela e o nosso bebê.

Nosso bebê.

Não pude conter o sorriso bobo que se espalhou pelo meu rosto.

— É por ela sim, mãe. Mas também por mim. Eu nunca pedi nada disso. Só queria viver meu sonho, e ela é parte disso.

Minha mãe me olha consternada, arrasada até.

— Sonhos não se alimentam sozinhos, Dante. O que você espera viver... é ilusão, meu filho. Dessa história não vai sair nada de bom, nada de positivo.

Aquilo caiu como uma premonição dentro de mim. Sabia que as chances eram mais contra a nós do que a nosso favor, mas precisava acreditar que tínhamos alguma.

Precisávamos ter.

— Temos que tentar.

Minha mãe fecha os olhos como se estivesse com dor, antes de abri-los e mirar em mim.

— Você vai sofrer, meu filho. A vida não vem sem obrigações, sem deveres. E infelizmente, você vai aprender isso da pior forma.

E ela se afasta para ir acalmar meu pai que provavelmente ainda estava lá dentro gritando impropérios em meu nome.

Ele veio me cobrar, avisar dos meus deveres para com a família, e quando eu disse não, foi como se o inferno estourasse em minha família. Então sai de lá com minha mãe ao meu encalço e agora ela tinha visto Adanna.

Um medo descomunal me atropela.

Mas minha mãe não faria nada com Adanna, faria?

Ela também viu a barriga...

Eu precisava ir até a Adanna. Ela deve ter ouvido coisas, entendido errado.

Era hora de estar onde eu precisava.

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Faltam mais dois pedaços da história da nossa Adanna original, e colocarei outras partes pra vocês verem o quadro como um todo...

E vai ser triste. E vocês vão ficar indignadas...

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ENFIM, LIBERTAOnde histórias criam vida. Descubra agora