CAPÍTULO 21

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ADANNA, 1915

"Aconteceu mais rápido que eu imaginava.

O homem de cor que tanto maltratou minhas iguais, agora era o homem que eu amava.

O sentimento de culpa aparecia muitas vezes enquanto pensava que nosso destino seria trágico. Não havia futuro para nós dois. Quem aceitaria a neguinha com o rapaz branco bem apessoado?

Que sociedade aceitaria?

Que quilombo aceitaria uma de suas filhas guerreiras relacionada a um opressor?

Nenhum quilombo aceitaria.

Vivi pouco da escravidão pra ter certeza que esse era o pior futuro que havia de ter. Vi as marcas na minha mãe e nas outras mulheres. Vi os olhos cansados, os ombros caídos e as vezes a mente ia longe, lembrando os males que haviam passado. Hoje elas tinham paz.

Quem era eu pra tirar isso delas? Então não podia voltar.

Dante tinha uma mente mais esperançosa do que a minha. Talvez porque não tenha visto o que vi.

— Vai dar tudo certo. Eu não esperava isso, não contava em descobrir você em uma das minhas caminhadas exploratórias, mas o que nós sentimentos um pelo o outro... isso vale a pena, Adanna.

Ele me disse isso em uma das noites que passamos deitados perto do riacho. Foi uma entre tantas noites que havíamos feito amor. Por mais preocupada que eu estivesse, as vezes era contaminada por sua fé inabalável que tudo daria certo se acreditássemos.

Dante havia me apresentado a seu grupo, disse que eu era dele, mas não escrava, era sua.

— Essa é minha Adanna, e eu, eu sou dela.

Era simples.

Ele me disse que eram todos ex-escravos que permaneceram trabalhando para a família dele agora em troco de um pedaço pequeno de terra para cultivar e quando o negócio finalmente desse lucro, eles teriam um pouquinho também.

— Meus pais são boas pessoas. Viemos até aqui com pouco, mas aprendemos que não se vence sozinho.

Dante me contava e me fazia imaginar que talvez pessoas brancas não fossem tão ruins. Os homens que trabalhavam com ele, todos me respeitavam e vivíamos conversando, enquanto eu morava em um casebre perto de onde eles viviam escavando.

Para encontrar pedras preciosas.

O sonho de Dante era fazer joias. Ele era de uma família de ferreiros, e sabia manejar o maquinário certo para a criação de belíssimas joias. Logo eu, que nunca tive vaidade alguma em relação a isso, fui presenteada uma vez com um colar que abria no meio.

— Ainda está em processo de transformação. Mas aí dentro seria para guardar um retrato minúsculo nosso. Para ficar perto do coração.

— Então o que você botou? – Perguntei curiosa.

Ele abre e me mostra os riscos de nossas inicias.

— Não importa o que aconteça, eu sempre vou voltar para você, Adanna. Nosso encontro no rio não foi por acaso. Vou desfazer o que preciso desfazer e voltar para você. Porque somos inevitáveis. Você é o meu destino.

— Você é o meu destino, Dante. – Falava emocionada.

Vivíamos em um mundinho só nosso.

E era lindo.

Até o dia em que me vi grávida.

Dante precisava voltar para resolver algumas pendências e me disse que logo voltava. E eu acreditava porque também gostava desses meus tempos sozinha, onde voltava a subir nas árvores, olhar os arredores, colher minhas frutas e tomar banho de riacho.

Mas quando senti que havia uma vida dentro de mim, era como se tudo houvesse mudado. Havia me tornado mais protetora, e talvez, mais desconfiada.

Vivia ouvindo barulho na mata que pouco pareciam ser de bichos. Mas tudo bem, eu sabia me defender.

E foi assim que minha mãe e minha irmã pequena me acharam um dia.

Minha mãe e eu brigamos muito esse dia. Ela me disse que Dante era um homem branco como todos os outros e eu estava condenada. Me pediu chorando para que eu voltasse para a nossa terra. Teria o bebê lá e poderíamos consertar tudo.

Não quis.

Meu futuro é com o Dante. Nós e nosso pequeno bebê."

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Estou resumindo o diário da Adanna porque agora vamos entrar na parte mais triste da história dela e novas coisas vem aí.

Essa semana tem capítulo do Dante 🥹

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