5. Desejo

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> Daisuke

  É de manhã, me troco, tomo café e saio para o colégio. A escola fica perto da minha casa então vou todos os dias a pé mesmo. Assim que chego, pego o livro de Biologia no meu armário e caminho em direção à sala. Faltava 2 minutos para o sinal bater.

- Ei, Daisuke - Makoto se aproxima de mim assim que me sento na minha carteira. - É verdade que no fim de semana você deu um fora na Shizuka?

- Quem te contou? - apesar de Makoto ser meu amigo há bastante tempo, eu não costumava falar desse tipo de coisa pra ele.

- Ouvi uns moleques falando no corredor. Mas aí, tu não era a fim dela?

- É cara, mas sei lá, ando meio confuso ultimamente, não sei - não era mentira, os vultos que estava vendo e as vozes que estava ouvindo eram tudo muito estranhos pra mim.

- Para de frescura mano, quer morrer virgem? - ele diz e então ri.

- A gente só tá no segundo ano do médio ainda, não é como se eu fosse um nerd virjola.

- O Ensino Médio é o auge de todo homem. Se segurar isso, nenhuma mulher vai querer um virgem com mais de 20 anos. As mulheres mais velhas geralmente procuram por caras mais experientes, como eu - Makoto diz, confiante. Ele vive me contando sobre suas impressionantes histórias de pegação, depois sempre me humilha por eu ser virgem.

- Beleza senhor experiência, agora vai pro seu lugar porque o professor já tá na sala - digo e aponto com a cabeça para frente, mostrando o professor de Biologia sentado em sua mesa. Ele sempre entra na sala e não cumprimenta ninguém, Shizuka diz que ele é amargurado.

  Olho para a carteira em que a mesma senta e percebo que ela não estava lá. Talvez tenha faltado por minha causa, não nos falamos desde a festa.

- Os fungos do filo Chytridiomycota são encontrados em ambientes marinhos, lagos, solo e até mesmo em fontes hidrotermais. Podem formar colônias com hifas ou viverem... - a voz do professor é a única estabelecida na sala de aula, mas por um momento, sinto que ela fica mais baixa, quase muda, e começo a ouvir ruídos vindos das paredes.

Olho para os lados, possivelmente sou o único a ouvir. Todos os outros prestavam atenção na aula. Ouço batidas na porta, e um vento frio percorre pela sala. Estranho, já que todas as janelas estavam fechadas. Um arrepio percorre pela minha espinha, e então começo a suar.

"Você vai morrer, sua alma pertence a mim. Você não tem escolha a não ser nos servir..."

Uma voz sussurra em meu ouvido, olho assustado pelos lados, despertando alguns olhares confusos. Não tinha ninguém perto o suficiente de mim, e não consegui reconhecer a voz. Ela era um pouco grave, masculina porém ao mesmo tempo feminina. Talvez eu esteja ficando maluco.

  A aula acaba, resolvo não ir para casa agora, já que ficaria lá sozinho. Ando até o mercado que fica perto da escola e compro um salgadinho e um refrigerante para ir comendo. Resolvo ir até a praça para fazer uma caminhada, o dia estava nublado e o ar perfeito. Chego e me sento em um dos bancos, jogando a mochila em meu lado. Um vento novamente passa sobre mim, mas desta vez era um vento bom. Diferente de antes, eu não estava com medo, me sentia seguro. Isso acontece às vezes, quando estou sozinho. Sinto uma sensação boa, leve, e isso é muito bom.

> Katsuo

Desço à Terra e caminho pelas ruas, procurando qualquer tipo de intervenção maligna. Estou de certa forma ligado a Daisuke, então suas emoções mais fortes são trazidas para mim. Posso sentir seu medo, sua raiva e sua felicidade. Vou até ele e me sento ao seu lado. Por algum motivo, ele parecia triste. Odiava vê-lo assim. Quando criança, era um garoto alegre, animado, vivo. Mas, assim que começou a crescer, suas emoções ficaram mais fortes, agora raramente o vejo se divertindo. Ele também se afastou da maioria dos seus amigos.

O percebo suspirar enquanto olha o gramado. Seus olhos permaneciam fixos para o chão. Me aproximo ainda mais dele e toco em suas mãos, o fazendo levantar o olhar. Será que ele pode me sentir? Lentamente, aproximo meu rosto do dele, seu coração batia rapidamente, demonstrando tensão. Eu queria acalmá-lo, dizer que estava tudo bem. Coloco minha mão em seu rosto, podia sentir a temperatura do seu corpo. Me aproximo ainda mais dele e colo meus lábios nos seus. Eu podia sentí-lo, mais do que nunca. Meu coração palpitava, estava sentindo algo que nunca sentira antes. Fecho meus olhos e aproveito aqueles maravilhosos segundos.

  Logo, percebo algo atrás de mim, então me separo de Daisuke e levanto, me deparando com Koji. Ele me olha com seus olhos arregalados e então balança a cabeça negativamente, como um gesto de decepção. Abaixo a cabeça, percebendo a gravidade da situação, permanecemos calados. Quando resolvo olhar para ele, ele abre as asas e começa a voar, e em questão de segundos não o tenho mais em minha visão.

Lágrimas de um AnjoOnde histórias criam vida. Descubra agora