- Por que fez aquilo? - pergunto ao novato que estava sentado ao meu lado na sala do diretor. Estávamos esperando ele chegar.
- Aquilo o quê? - ele diz, se virando para mim.
- Foi você que derrubou ele, né? Por que bateu nele se não o conhece?
- Ele é um idiota, alguém já deveria ter feito isso antes.
- Bom, obrigado - não pude reparar antes mas seus olhos eram extremamente claros, castanhos quase cor de âmbar. - Como se chama?
- Kobayashi Katsuo. Você é o Daisuke, não é?
- Como sabe o meu nome? - pergunto, com um pouco de receio.
- Ah, ué, estamos na mesma sala na maioria das matérias então... - ele responde, não conseguindo esconder seu nervosismo.
Esperamos por alguns minutos então a porta se abre e o diretor entra, fechando a porta novamente. Ele se senta em sua cadeira em nossa frente e fixa os olhos no Kobayashi.
- Você lembra que esse é o seu primeiro dia de aula, certo? - o diretor pergunta a ele, com uma cara super séria.
- Sim, senhor - ele responde, e não parecia ter medo do diretor. Já eu, por dentro, estava em desespero. Não queria ser expulso da escola, ainda mais por causa do Sousuke.
- Eu olhei seu histórico, Senhor Kobayashi. É excelente, e você possui notas boas em quase todas as matérias. Não quero que estrague seu futuro por esse tipo de gente - o diretor diz, com uma voz bruta. O novato apenas abaixa a cabeça sem dizer nada. - Senhor Nakamura, - ele continua, desta vez olhando para mim - você já está na minha lista pelos problemas que teve com aqueles merdinhas do 3º ano. Mais uma gracinha e terei que chamar sua mãe.
Permaneço em silêncio enquanto o diretor termina seu sermão. Ele não havia exagerado, e eu me arrependi de ter andado com os garotos do 3º ano. Eles só queriam saber de álcool e drogas, foi por isso que me afastei.
- Vou deixar passar essa, mas em compensação tenho um trabalhinho para os dois. A antiga sala de artesanato está apenas guardando entulhos, pensamos em liberar espaço e colocar cursos de gastronomia. Pelas próximas semanas, depois da aula, vocês ficarão e irão limpar a sala toda, começando hoje. Além disso, nenhum dos dois poderão participar dos jogos escolares. Podem sair.
Saímos da sala do diretor e fomos para a classe. A aula estava extremamente chata, o professor havia passado 5 páginas do livro para copiarmos, ao menos eu tinha Haru para conversar. Ficamos a maior parte do tempo falando sobre coisas aleatórias, e descobri que ele é um cara bem legal. Assim que o sinal bateu, ele foi embora e eu fui para o intervalo.
A manhã se passou devagar e estava na hora de ir embora. Eu até ficaria feliz, porém antes disso lembrei que tinha que limpar a bendita sala. Peguei minhas coisas e fui em direção à ela, Katsuo já estava lá me esperando.
- E então, vamos começar? - pergunto enquanto entro na sala e jogo minha mochila no chão.
- Vamos, temos bastante trabalho.
- Infelizmente.
Um homem baixo e com um bigodinho entra com um carrinho de limpeza amarelo. Ele usava um macacão azul, provavelmente é o tio da limpeza do período da tarde.
- Aqui estão suas armas - ele coloca uma vassoura na minha mão e um rodo na mão de Katsuo. - Boa sorte.
O tiozinho sai da sala nos deixando sozinhos, em seguida rimos pela fala dele. Eu começo a limpar as carteiras com um pano, enquanto Katsuo joga o desnecessário em um saco de lixo preto.
- De que escola você veio? - pergunto, na intenção de quebrar o silêncio.
- De uma de Osaka - ele responde, após pensar um pouco.
- Tá mas qual o nome? - o deixo pensativo com a pergunta, me parecia que ele não sabia responder.
- Eu não lembro, fiquei uns meses estudando a distância sabe..
- Entendi, então você morava em Osaka?
- Sim, me mudei para cá há pouco tempo.
- Legal - eu não costumava ficar fazendo perguntas e nem puxando assunto, mas como ele é meio quieto resolvi conversar para passar o tempo, afinal teremos que ficar um com o outro pelas próximas semanas.
- E você mora aqui há quanto tempo? - ele pergunta, enquanto pega outro saco de lixo.
- Eu nasci aqui, moro com a minha mãe a algumas quadras da escola - não sei porque estava dando informação a um estranho, mas por algum motivo eu me senti seguro com ele, e de repente tive vontade de conhecê-lo melhor. - Você fazia alguma coisa na sua antiga cidade? Sei lá tipo, karatê? Por que pra conseguir bater no Sousuke daquele jeito, cara você é bem forte.
- Eu praticava boxe quando criança, mas já faz muito tempo - ele diz após rir do meu comentário.
- Da hora.
Ficamos conversando enquanto limpamos e quando percebemos já havia se passado 2 horas, e achamos que era melhor continuarmos amanhã. Eu fecho a sala e ele leva o carrinho até a sala de limpeza, enquanto seguro minha mochila e a dele. Eu devolvo sua mochila e ele agradece. Caminhamos juntos até a porta da escola, quando chegamos, paramos na entrada.
- É isso, então até amanhã - ele diz, enquanto sorri. Seu sorriso era gentil e convidativo e seus dentes perfeitos e extremamente brancos destacavam o sorriso ainda mais.
- Valeu aí - eu digo, me virando e começando a andar. - Gostei do cabelo - solto meio sem pensar e tenho o privilégio de ver seu sorriso mais uma vez.
Como de costume, volto para casa andando e chego em alguns minutos. Estava morrendo de fome mas deve ter algo pronto na geladeira. Tiro as chaves da mochila e abro a porta, a fechando após entrar. Jogo minhas coisas no sofá da sala e ligo a televisão, em seguida vou até a cozinha. Abro a geladeira, não tinha nada fácil então resolvo cozinhar um macarrão instantâneo. Abro a embalagem e coloco o conteúdo na panela, em menos de 5 minutos está pronto. Me sento no sofá com a tigela na mão e resolvo por no canal de notícias.
"Na tarde da última quarta-feira, um adolescente é encontrado morto em frente ao prédio onde morava, no centro de Yokohama. Segundo a perícia, o jovem havia ficado bêbado e acabou caindo do 9º andar do seu edifício. Não se sabe ao certo se a queda foi acidental ou proposital, resultando em um suicídio. Yoshida Makoto, de 17 anos, havia acabado de sair da escola quando o evento aconteceu, professores relatam..."
A tigela que estava em minha mão, cai no chão, acidentalmente. Eu fiquei em choque, não sabia o que fazer. Enquanto me questionava se realmente era meu melhor amigo que havia morrido, suas fotos passavam na TV. Era ele, Makoto. Estive com ele ontem, jogando basquete e se divertindo, ele estava lá, vivo. Ele sempre fora um cara sorridente e divertido, nunca pensei que o mesmo fosse capaz de fazer isso.
Pego o meu celular e clico no contato dele, em seguida em "ligar". Não podia ser, ele não faria isso.
Tu...tu...tu...
Direto para a caixa postal. Isso não podia ser verdade. Sinto meu corpo amolecer e o meu coração falhar, logo começo a chorar desesperadamente. Makoto tem sido meu único amigo, ele foi o único que permaneceu ao meu lado, mesmo apesar de tudo.
Tudo isso ainda não parecia real, eu precisava confirmar. Desligo a TV e saio em direção à casa de Makoto. Ela ficava à algumas quadras da minha, então vou correndo e não demoro a chegar. Na entrada do prédio tinham vários policiais, e a lateral do edifício estava cercada com fita da polícia. No chão tinha muito sangue, e ao redor muitos repórteres. Não consegui ficar mais tempo ali, sai correndo e voltei para casa. Parecia que minha vida estava prestes a piorar.
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Lágrimas de um Anjo
RomanceKatsuo é um anjo da guarda e possui uma única missão: proteger Daisuke, um adolescente de 17 anos, de qualquer perigo ou tentação abominada por Deus, porém Katsuo acaba se acometendo a um dos pecados julgado um dos piores entre todos. Tendo se apaix...