9. O Início do Caos

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> Katsuo

Yokohama. Por que foi que me jogaram aqui? Será que foi por castigo? Eu não sei, mas preciso encontrar uma forma de sair daqui. Caminho nas ruas movimentadas da cidade, logo iria anoitecer e eu precisava de um lugar para passar a noite. A última, dormi no banco de uma praça.

  ..."sendo livrado apenas por um ato grandioso." O que será que isso quer dizer? Minha cabeça está a mil com tantos pensamentos que não consigo raciocinar direito. Será que devo ajudar as pessoas ou profetizar a elas? Talvez seja isso. No momento em que espero o sinal fechar para que eu atravesse a rua, vejo que uma senhora de idade começa a andar fora da calçada, indo diretamente para o meio da rua. Um caminhão em alta velocidade buzina a vários metros de distância, enquanto tenta frear, mas a senhora parece não perceber. Começo a correr em direção à mulher e a empurro para longe, livrando a mesma de uma catástrofe. O caminhão passa por cima de mim, porém saio ileso.

- EU JÁ ENTENDI DEUS, EU ERREI! O QUE MAIS DEVO FAZER PARA ACABAR COM ISSO? - começo a gritar no meio da rua ajoelhado e com as mãos para o céu. Percebo que todos começam a me olhar assustados, assim me viro e saio dali. Mais pessoas chegam e se rodeam em torno da senhora que estava ao chão, sem saber o que tinha acontecido. Pelo menos, ela estava bem.

Eu salvei uma vida, e nada aconteceu. Estou começando a achar que eu não tenho mais salvação. Nunca pensei que um dia eu andaria na terra como um humano. Algumas vezes desejei isso, mas foi por outros motivos. Foi por Daisuke. Se eu estou em Yokohama, ele deve estar por perto. A possibilidade de me encontrar com ele me deixa nervoso. Agora que não sou mais anjo da guarda, ele está sozinho. Talvez eu ainda consiga cuidar dele. Para isso, preciso encontrar uma forma de me aproximar.

Enquanto caminho, passo por um edifício onde dizia ter aluguéis disponíveis. Não sei como se faz isso, não sei como se arruma dinheiro, mas se vou ficar na terra pelo resto da vida, precisaria aprender. Entro e falo com a proprietária, expliquei que não tinha dinheiro nenhum e que precisaria de tempo até encontrar um emprego. Ela disse apenas: "Um rapaz jovem e bonito como você não irá demorar até encontrar um. O apartamento é seu, se não conseguir o dinheiro pode me pagar de outra forma." Foi algo assim, confesso que não entendi muito bem, mas pelo menos já tinha um lugar para morar.

> Daisuke

  7:30 da manhã, tomo um banho rápido e visto o uniforme da escola, o qual era um terno preto, uma camisa social branca e uma gravata vermelha. Eu particularmente acho o feminino muito mais bonito. Termino de me arrumar, pego minhas coisas e saio de casa, sem tomar café. Minha mãe havia saído antes de mim, como sempre.

  Assim que entro na escola, procuro por Makoto. Ele sempre fica na entrada de bobeira no início da aula, mas hoje deve ter faltado. Caminho em direção aos armários, quando ouço alguém me chamar.

- Daisuke! - me viro e vejo Haru vindo até mim. - Bom dia.

- An... Bom dia.

- Vou ter que ir embora mais cedo hoje, rolou uns problemas lá em casa - ele passa a mão no cabelo, de um jeito sem graça. - Não vai dar pra participar da aula de Química, mas eu fiz o relatório. Será que pode entregar ele pra mim?

- Relaxa, eu entrego - ele estende o papel para mim e então o pego.

- Valeu cara, até mais. Acho que temos física juntos hoje então... Até a aula de física - ele ri e eu aceno para ele, que se vira sorrindo espontâneo, indo para o outro corredor.

  Começo a olhar o relatório e passo o olho no nome da dupla. Dizia Daisuke Nakamura e Emi Saito. Fico um pouco confuso, por que ele colocou esse nome no trabalho? Será que esse nome era seu? Uma vez eu vi na televisão um garoto em que os pais haviam o registrado com um nome feminino por engano, talvez seja o mesmo caso de Haru.

Guardo o relatório entre os livros e então o sinal toca, me fazendo ir até a sala de aula. Entro na classe, a falação matinal me cansava logo cedo. Me sento em meu lugar e organizo meus materiais, quando sinto alguém me cutucando atrás de mim.

- Daaaisuukee - Kei me chama, desesperadamente.

- Que foi cara - me viro, já com raiva.

- Ficou sabendo que a Shizuka foi embora?

- Não, quando foi isso?

- Ontem, ela se mudou para Osaka, e tá todo mundo dizendo que foi por sua causa.

- Bom dia turma - o professor entra na sala, então viro para frente novamente. - Como vocês sabem, hoje teremos nossa prova semestral, com o conteúdo do semestre todo para avaliar o aprendizado de vocês - todos entram em pânico, a maioria havia esquecido que a prova estava marcada para hoje, inclusive eu. - Vou passar entregando as provas, quero todos em silêncio.

  Ele passa em todas as fileiras entregando as provas, pude perceber que dava 3 folhas frente e verso, o que me desanimou muito. No outro lado da sala, havia um garoto novo, não sei se entrou hoje mas eu nunca havia o visto antes. Sua estatura era média e seus cabelos extremamente brancos, o que chamava bastante atenção.

- É seu primeiro dia aqui né, desculpe-me por não ter me apresentado antes - o professor diz assim que se aproxima da carteira do aluno novo. - Eu sou o Senhor Yamamoto, professor de história. Creio que tenha aprendido tudo o que cairá na prova hoje na sua antiga escola.

Ele responde algo baixo, porém não consigo ouvir claramente. O professor termina de entregar as provas e então começo a responder. No início da prova tinham questões sobre a Segunda Guerra Mundial, fáceis de responder. Complicou um pouco no final, quando falava sobre a Revolução Francesa. Tenho quase certeza que não prestei atenção na aula em que ele falou sobre isso.

O sinal toca e entregamos as provas. Creio que eu tenha ido bem, pelo menos eu espero. Saio da sala, guardo meu material e vou até o vestiário masculino. Agora a aula seria Educação Física, não sei qual o esporte de hoje mas o professor mandou irmos até o campo. Visto o uniforme vermelho e saio.

- Muito bem meninas, como vocês sabem, os jogos escolares iniciam mês que vem, vamos treinar duro até lá - o professor diz, e então os garotos que estavam ao meu lado começam a rir, maliciando a fala.

- Cresçam - eu solto, como num impulso.

- Que foi que você disse, Nakamura - Sousuke diz, vindo em minha direção.

- Senhor Ito, volta pra sua posição - o professor o repreende, salvando minha pele. Sousuke recua, me encarando. - Vamos começar nos aquecendo. Comecem a dar voltas no campo, só vão parar quando eu permitir. Vão!

O treinador apita e começamos a correr em torno do campo. Para nossa tristeza, o campo era extremamente grande, maior que a quadra de basquete. Após 2 minutos correndo, eu já estava morto e não aguentava mais correr. Sousuke e os amigos dele estavam na minha frente, e o garoto novo logo atrás de mim. Eu acho que ele deve praticar algum esporte, pois ele é bem resistente.

Sousuke reduz a velocidade em que corria, ficando propositalmente igualado a mim.

- Você corre bem devagar né - ele diz, percebendo minha exaustão. - Não me admiro, pra um viadinho como você... - Eu encaro ele com os olhos, sem dizer nada. - Ah não, eu descobri o seu segredinho. É por isso que você não quis ficar com a Shizuka não é? É uma bichinha de merda..

Sousuke cai no chão, de repente. O garoto novo, que agora estava na frente, olha para trás, rindo. Um dos que estavam ali ajudam ele a se levantar, então ele olha o novato, com ódio. Sousuke começa a correr em direção a ele e o derruba no chão, subindo em cima dele e socando seu rosto. O garoto novo segura sua mão, nessa hora eu agarro a camisa de Sousuke e o tiro de cima dele. Ele vem pra cima de mim e da um soco, tento desviar, mas o soco pega em meu olho.

O novato puxa Sousuke por trás e da um soco em seu estômago, o fazendo se abaixar e colocar a mão na barriga, inevitavelmente. Ele aproveita o momento de fraqueza de Sousuke e dispersa três socos em seu rosto, no final, o derruba com um chute, novamente no estômago. O treinador chega e entra no meio dos dois, na intenção de separar a briga que já havia acabado.

- Você, leva o Ito pra enfermaria - o professor diz, apontando pro garoto ao lado de Sousuke, que estava no chão e com o nariz sangrando. - Vocês dois, Nakamura e Kobayashi, direto pra direção!

Lágrimas de um AnjoOnde histórias criam vida. Descubra agora