3. Encontro

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  > Katsuo

  Era tarde da noite e eu ainda não havia descido para a terra. Pensei que esse fosse um bom momento, já que para os adolescentes a melhor hora de fazer coisas erradas era a noite. Fui até os portões do céu e registrei minha saída, então abri as asas e voei pelas nuvens claras devido à luz da lua.

  Percebi que Daisuke não estava em casa, e eu não conhecia este lugar. Tinham muitos jovens bebendo, fumando e cometendo diversos tipos de pecados. Era uma festa. Fui até o segundo andar do casarão e entro no quarto que senti que ele estava lá, então me deparo com Daisuke e uma garota se beijando. As coisas estavam avançando e eu notei que sairia do controle, até que resolvo interferir.

- Você não pode fazer isso... - eu sussurro no ouvido dele, e então ele empurra a garota levemente que estava em cima dele e coloca a roupa. Eu cuido dele desde o momento em que nasceu, e ele nunca tinha feito nada parecido. Se o coração dele for tocado, pode se arrepender por tal ato, conseguindo ser perdoado.

- Sinto muito, mas não posso - ele diz e sai do quarto, desce as escadas e pega o carro.

  Daisuke dirige até uma ponte que fica no centro da cidade, estaciona o carro e começa a andar sobre ela. Ele se senta na borda e fica em silêncio olhando para a água. Eu sento ao seu lado e começo a observá-lo. Eu queria que ele pudesse me ver. Coloco minha mão sobre a sua, ele também não consegue me sentir. Ele olha para o céu, a lua estava super cheia e sua claridade refletia em seus olhos azuis. Eram lindos. Seu rosto era bem definido e seus cabelos pretos e lisos. Pra falar a verdade, ele sempre foi um garoto bonito, desde criança.

Passa alguns minutos então ele volta para casa. Ele entra no apartamento devagar, na intenção de fazer silêncio e não acordar sua mãe. Daisuke abre a porta do seu quarto, acende a luz e começa a tirar a roupa. Nesse momento, ouço um estalo vindo da cozinha, então vou lá ver. Um vulto passa super rápido por mim, não dá tempo de ver o que era. Pude sentir que era algo ruim, porém não consegui ir descobrir pois já fiquei tempo demais na Terra. Vou até a janela, abro minhas asas e começo a voar, ultrapassando as nuvens. Chegando nos céus, Seiji me aborda.

- Ei, Katsuo. Estava na Terra?

- Sim, por quê?

- Viu algo diferente enquanto estava lá?

  Me lembrei do que tinha acontecido mais cedo, porém não tinha certeza se realmente era algum tipo de intervenção demoníaca, então resolvi não dizer nada.

- Acho que não. Aconteceu alguma coisa?

- Preciso fazer um relatório oral pela manhã e não sei o que digo.

  Seiji é um querubim. Os querubins são como mensageiros de Deus e considerados símbolos da justiça divina. Ele também é meu único amigo.

- Fala sobre como está se saindo a nova regra dos portões. Eu particularmente odiei.

- Por quê? Eu achei a ideia boa, até agora não aconteceu nada lá em baixo.

- Ir menos para a Terra não vai me ajudar a proteger o garoto.

- Eu acho que você só está com raiva porque não pode ir vê-lo toda hora. Você é um anjo da guarda bem preocupado né.

- Mas é óbvio. Nunca se sabe quando vai acontecer algo.

- Sei...

- Certo, preciso ir agora, tô bastante cansado. Até mais.

- Se cuida.

  Vou até a minha ordem, a parte do céu onde ficam os anjos da guarda. Cada ordem angelical possuía uma espécie de alojamento onde ficavam abrigados durante o seu período de descanso, e na outra parte faziam suas tarefas diárias. Me deito e não demora muito até que eu durma, acordando somente pela manhã.

  Eu confesso que não havia muito o que fazer no céu, principalmente se minha única responsabilidade ficava na Terra. Lembro do que ocorreu ontem e resolvo descer mais cedo hoje, será mais seguro.

  Daisuke ainda estava dormindo, o que não me admira já que ele deve ter bebido bastante ontem. Não demora muito até que ele acorde, seu cabelo estava todo bagunçado, de um jeito fofo. Ele se levanta, estava só de cueca exibindo um abdômen bem definido, para um garoto de 17 anos. Começa a vir certos pensamentos em minhas mente, então balanço a cabeça na intenção de afastá-los. Isso não poderia mais acontecer.

  Enquanto ele tomava café da manhã, começo a ouvir alguns cochichos. Sua mãe não estava em casa, tornando isso super estranho. Vou em direção aos sussurros e me deparo com uma criatura em forma humana, pele pálida, asas negras e tinha dois chifres em sua cabeça. Era um demônio.

- Hmm... então ele tem anjinho - ele diz, com uma voz baixa e ao mesmo tempo rouca e grossa.

- Quem é você?

- Me chamo Ryotaro. Estou aqui para me divertir um pouco.

- Você é um demônio.

- Olha, ele é esperto - ele diz e então começa a rir. - Vim a pedido de... como vocês o chamam mesmo? Diabo?

- Eu sei o que quer aqui. Vá embora, ou então teremos problemas.

- Calma aí, herói. Não vou machucar sua criança. Ele mesmo vai fazer isso - dizendo isso, ele desaparece num piscar de olhos. Sempre me disseram que os demônios eram seres traiçoeiros, mas eu nunca tinha visto um de perto. Masaichi precisa saber disso.

Lágrimas de um AnjoOnde histórias criam vida. Descubra agora