13. Descobertas

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> Noriyuki

  É incrível a forma que eu perco todas as pessoas que eu amo. Primeiro foi meu namorado, Chihiro, e agora meu irmão. Depois que o Chihiro morreu, eu me fechei para as pessoas. Ficava sozinho a maior parte do tempo, estudando, foi aí que comecei a sofrer bullying na escola. Eles me zoavam, me batiam, e eu chorava, com o tempo aprendi a ignorar o resto das pessoas.

  Fui para casa logo depois da aula, meus pais estavam no trabalho então eu ficaria sozinho novamente. Entro no meu quarto e fico deitado na cama olhando pro teto. Começo a pensar na minha vida e as lágrimas começam a se derramar. Meu irmão era o único que ainda se importava comigo, mas agora ele se foi.

  Me levanto, abro a gaveta do criado mudo ao lado da cama e pego um canivete. Essa era a única forma que eu conhecia de aliviar minha dor. Arregaço as mangas do terno da escola, expondo meus braços. Não havia mais locais limpos para que eu fizesse, então tiro o terno e a camisa. Começo a passar o canivete pela barriga, em seguida o sangue começa a escorrer junto com minhas lágrimas.

- Isso parece doloroso - alguém diz, me assustando e fazendo com que eu derrube o canivete no chão. - Desculpa, eu não queria te assustar.

Eu simplesmente paraliso. Tinha alguém no meu quarto, não era uma pessoa. Era um ser alto, forte e possuía duas asas negras nas costas, além de dois pequenos chifres na cabeça.

- Q-quem é você? - pergunto, quase sussurrando.

- Não lembra de mim? Já nos conhecemos, Yuki.

- Você é um monstro? Você deve ser coisa da minha cabeça...

- Infelizmente não - ele diz, rindo. - Nós somos amigos há muito tempo, você deveria se lembrar.

- Sua voz me parece familiar... eu acho que já ouvi ela, várias vezes, mas pensei que estivesse ficando louco.

- Ah não, de fato você ouviu. Nós conversávamos muito, desde que você era pequeno. Se lembra?

- Acho que sim, uma vez você disse que se chama... - me esforço para tentar lembrar. - Takeshi?

- Isso! Nós sempre fomos bem íntimos, você me chamava de Take.

- Eu me lembro, mas o que você é?

- Eu sou um demônio.

Eu coloco a mão na barriga para parar o sangramento e me levanto, me aproximando do ser que estava à minha frente.

- Um demônio... eu pensei que essas coisas não existiam.

- Pois eu existo.

- E o que você quer comigo? Vai me possuir ou algo assim?

- Não, isso é chato. Eu vim te ajudar.

- Ajudar no quê?

- Ajudar a encontrar a pessoa que matou seu irmão, nós vamos matá-la.

- Você faria isso? - pergunto, me aproximando ainda mais dele.

- Farei isso por você.

Ele segura meu braço e me beija. Isso faz com que eu me lembre que foi graças à voz que eu conversava através das paredes quando mais jovem que eu me descobri gay. Eu sempre tive medo de ser quem eu sou, mas ele me ajudou, e vai me ajudar de novo.

  > Daisuke

  "Haru, tá aí?"

  "Opa, e aí?"

"Acho que preciso de alguém pra conversar, sei lá. Eu tô meio confuso sobre algumas coisas e tal"

"Se quiser vem aqui em casa, vou te passar o endereço"

  Eu estava em pânico e Haru era a única pessoa que eu tinha pra conversar. Assim que mando mensagem pra ele, coloco meu celular no bolso e saio de casa. Minha cabeça estava rodando e eu estava mais confuso do que nunca.

  Após alguns minutos de caminhada, chego na casa dele. Era pequena e possuía um jardim imenso na frente. Assim que me aproximo do portão, um cachorro branco pequeno começa a latir, então Haru aparece na porta e me chama para entrar.

- E aí, o que houve? - ele pergunta, me dando uma lata de Coca-Cola e se sentando ao meu lado no sofá da sala.

- Você mora com quem? - tento adiar um pouco a conversa até pensar em exatamente o que eu iria dizer.

- Com meu pai.

- E a sua mãe? - pergunto, abrindo a lata e tomando um gole do refrigerante.

- Ela morreu de câncer há 4 anos.

- Ah... sinto muito - isso havia me pegado de surpresa, principalmente pelo fato de que eu não sei lidar muito bem com esse tipo de coisa.

- Valeu, mas então, você vai me contar ou não o que aconteceu?

- Cara, você vai me achar muito esquisito depois que eu contar então...

- Prometo que independente do que você disser, eu não vou te julgar - ele diz levantando a mão direita, em sinal de juramento.

- Tá legal, é... lembra que eu disse que tô tento que cumprir meio que um castigo?

- Por causa da briga, não é?

- Sim, então, - falo meio devagar na tentativa de enrolar - sabe o cara que tá fazendo junto comigo?

- Sim, eu sei, fala logo.

- Ele me beijou hoje.

- O quê? Não, espera. Você não me disse que é gay.

- Esse é o problema, eu não sou gay, eu acho.

- Você acha?

- Eu não sei, cara - deixo a lata de refrigerante em cima da mesinha e coloco as mãos sobre o rosto. - Tá tudo tão confuso, sei lá.

- Tá mas tipo, você gostou do beijo? - eu o olhei e comecei a pensar, não sabia o que dizer.

- Eu acho que sim.

- E dele, você gosta?

- Ele é bem legal e tal, mas nos conhecemos a pouco tempo.

- Então você tá achando que é gay mas não tem certeza?

- Sim, tipo, eu já gostei de garotas antes, isso que me deixa mais confuso.

- Talvez você seja bi.

- Bissexual? Eu não sei... - começo a pensar um pouco e lembro da minha infância. - Eu tinha um amigo no 6º ano, eu gostava dele pra caralho.

- Então pow. Faz o seguinte, deixa rolar. Com o tempo você descobre.

- É, tem razão. Aliás, como você sabe tanto sobre esse tipo de assunto?

- Bom, eu sou trans, então...

- Peraí, como assim? - eu o olho surpreso e ele não diz nada. - Ah, meu Deus, agora eu entendi. Faz muito sentido.

- O quê?

- Não, nada. Aí, valeu por me ajudar, cara - eu me levanto, ele faz o mesmo.

- Tamo junto, qualquer coisa tô aí.

- Falou.

Saio da casa dele e vou para a minha, já estava anoitecendo. Minha mãe iria chegar tarde do trabalho então eu teria que preparar o jantar. O que mais ocupava minha mente nesse momento era pensar como eu iria olhar para Katsuo amanhã, ou como iria conversar com ele depois do que aconteceu. Minha maior vontade era me jogar de um penhasco.

Lágrimas de um AnjoOnde histórias criam vida. Descubra agora