"Jovem é assassinado dentro de escola na manhã da última sexta-feira
Akinori Sato, estudante de 18 anos, é baleado na cabeça no corredor de sua escola na cidade de Yokohama. Segundo relatos, a área de ensino foi invadida por um terrorista que assassinou o aluno sem motivos evidentes. Após o homicídio, o agressor saiu correndo pela porta da frente, deixando para trás muito medo e desespero dos demais estudantes."
É como dizem, lugar errado na hora errada. A ideia de que jovens inocentes tenham que sofrer por pura crueldade não entra na minha cabeça. O meu ódio por demônios parece que se torna cada vez maior, e isso é ruim. Desde que fui criado, fui ensinado a não possuir rancor de nenhum ser.
Jogo o jornal que havia acabado de ler em cima do sofá e ligo a televisão. Uso o controle para mudar os canais, mas em quase todas as emissoras falavam sobre o incidente de ontem.
Ouço batidas na porta e então me levanto. Fico um pouco receoso, já que não conheço praticamente ninguém. Algo em mim diz que poderia ser algo ruim, considerando que eu sou uma ameaça aos demônios. Resolvo encarar isso e abrir a porta, afinal não tenho muitas escolhas.
- Oi - assim que abro a porta, me deparo com Sato do lado de fora, o que me impressiona. - Desculpa por ter aparecido assim, é que eu...
Ele para de falar e então suspira, parecia muito mais calmo do que ontem.
- Foi mal, eu não sei o que eu tô fazendo - ele se vira para ir embora, então seguro o seu braço.
- Espera aí! Você tá bem? - eu digo, não recebendo resposta. - Desculpa, você acabou de perder seu irmão, foi uma pergunta idiota.
- Eu vim aqui pra te pedir desculpas - eu solto seu braço. - Eu não costumo falar daquele jeito, eu não sou assim, e também eu tava meio bêbado, coisa que eu também não costumo fazer.
- Tá tudo bem. Quer entrar? Se quiser podemos conversar.
- Não, eu só vim aqui pra me desculpar.
- Como achou minha casa?
- Perguntei pra uns funcionários da escola.
- Entendi. Bom, se precisar de alguma coisa eu tô aqui. Aliás, qual seu nome?
- Noriyuki.
- Legal.
Ele acena com a cabeça e se vira, indo embora. Esse garoto tem um olhar triste, percebi desde a primeira vez que o vi. Espero que ele consiga superar tudo isso.
• • • • •
O fim de semana se passa e as coisas permanecem tranquilas por um tempo. Eram 7:35 da manhã e eu estava andando a caminho da escola, como de costume. Me pergunto se Daisuke estava bem e se eu o veria hoje, então apresso os passos para descobrir o mais rápido possível.
Entro na sala e em seguida o sinal toca. Não demora muito até que vejo o garoto entrando e se sentando em seu lugar, o que me deixa feliz. Logo o professor de História entra também, dando início à aula.
- Abram seus livros na página 127 - o professor diz, então o fazemos. - Hoje falaremos sobre a Guerra da Coréia. Alguém pode me dizer os países envolvidos?
- Coréia do Sul e Coréia do Norte, senhor - um aluno que sentava na primeira fileira responde.
- Isso. Então a Guerra da Coréia foi um conflito que iniciou em 1950 e acabou em 1952, quando as tropas...
- 1953 - acabei dizendo por um impulso, fazendo todos se virarem para mim após o professor interromper a explicação.
- O que disse, Senhor Kobayashi?
- Terminou em 1953.
- Não, a guerra teve duração de 2 anos e meio - o professor tentou me corrigir, porém eu acabei vivenciando a maioria das guerras e desastres então eu sei bem.
- A Guerra da Coréia iniciou 25 de junho de 1950 e terminou 27 de julho de 1953.
- Alguém pesquisa pra mim, por favor.
Um aluno pega o celular e faz a pesquisa, enquanto o professor me encara.
- Guerra de Libertação da Pátria: 25 de junho de 1950 a 27 de julho de 1953. Ele está certo - o aluno diz mostrando a pesquisa para o professor, fazendo todos demonstrarem surpresa.
- Continuando - o professor anota as datas no quadro e ignora os comentários feitos pelos demais alunos, então prossegue a aula.
No intervalo, vejo que Daisuke se senta com um garoto. O rosto me parecia familiar, até que esforço a memória e lembro que essa é a protegida de Minoru, um dos anjos da guarda da minha antiga ordem. Agora eu entendo porque ele dizia que a alma dela já estava destinada ao submundo, infelizmente não posso interferir.
A manhã acaba e eu pego minhas coisas prestes a ir embora, quando lembro que tenho detenção a cumprir. Coloco a mochila nas costas e vou até o quarto que estávamos limpando semana passada, Daisuke chega logo em seguida. Os itens de limpeza já estavam lá então começamos a limpar para que fosse mais rápido.
- Não sabia que era tão inteligente - ele diz, enquanto joga uns fracos de tinta vazios no lixo.
- Mas eu não sou.
- Certeza? - ele pergunta ironicamente, sorrindo.
- Bom, eu leio bastante só isso - digo rindo para descontrair.
- Acho que eu levei sorte em ter faltado aula sexta.
- Levou mesmo. Aliás, o que aconteceu? - pergunto, tentando não ser invasivo.
- Meu melhor amigo morreu. Na verdade ele se matou.
- Eu sinto muito.
Lembro quem era o seu melhor amigo, Makoto. Apesar de ter muitos problemas, era um garoto alegre, também era o único amigo de Daisuke. Ele deve estar se sentindo sozinho.
- Sabe, eu também perdi meu melhor amigo - digo enquanto limpo os vidros das janelas, tentando reconfortá-lo. - Ele era o único que me apoiava em quase tudo que eu fazia e sempre esteve comigo, mas agora nunca mais vou poder ver ele de novo.
- Às vezes eu me pergunto por que a vida tem que ser tão injusta.
- A vida não é injusta, ela só é dolorosa. Tenho certeza que um dia as pessoas boas serão recompensadas por tudo o que elas passaram.
- Você deve ter razão. Você é um cara legal, Katsuo - ele me olha sorrindo e eu acabo me aproximando dele para pegar um produto de limpeza que estava em cima da mesa ao seu lado. - Sei que não nos conhecemos direito mas você é uma das únicas pessoas que ainda consegue me fazer sorrir.
- É, eu cheguei aqui a pouco tempo mas eu gostei de você.
Ele solta outro sorriso e fica me olhando fixamente nos olhos. Eu retribuo o olhar, era muito bom poder olhar em seus incríveis olhos azuis. Diferente de antes, agora ele pode me ver. Me aproximo um pouco mais, ele fica parado sem dizer nada.
Como num impulso, eu o beijo. Eu podia sentí-lo, mais do que nunca. Seus lábios macios tocavam os meus e sinto que ele retribui. Ele da passagem para minha língua e segura minha nuca, enquanto o abraço. Eu sabia que isso era errado, mas era bom. Me pergunto apenas como consegui me segurar por tanto tempo.
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Lágrimas de um Anjo
RomanceKatsuo é um anjo da guarda e possui uma única missão: proteger Daisuke, um adolescente de 17 anos, de qualquer perigo ou tentação abominada por Deus, porém Katsuo acaba se acometendo a um dos pecados julgado um dos piores entre todos. Tendo se apaix...