[Submundo]
O tédio dominava o local, em todos os lados havia alguém bocejando. O chão era feito de pedras, fazendo qualquer um tropeçar ao caminhar desatento. Não havia dia, apenas trevas e escuridão. Quando o vento soprava, era possível apenas sentir o cheiro de muita dor e sofrimento.
- Ryotaro - Lúcifer o chama, sentado em seu trono. Ele esboçava uma cara de tédio e nem se quer fazia esforço para falar. O demônio se aproxima rapidamente, ficando em pé a sua frente. - O que foi que eu mandei você fazer?
- Fomos para a terra, senhor. Causamos brigas, confusão, jovens perderam sua inocência e...
- Não foi isso que eu pedi - Lúcifer o interrompe. - Você é um príncipe, deveria saber causar um pequeno estrago entre as crianças. Eu quero morte, sangue e muita destruição.
- Sim, senhor.
Ryotaro sai da sala do trono e começa a andar pelas ruas do inferno, pensando em maneiras de fazer o solicitado por Lúcifer. Havia se esforçado por muito tempo para conseguir se tornar um dos príncipes do inferno, não podia perder a única coisa que tinha.
Olhando para o céu completamente negro e perdido em seus pensamentos, algo esbarra em si, quase o derrubando.
- Mas que porra, olha por onde anda caralho! - o príncipe exclama, irritado.
- Ryotaro, eu tava mesmo te procurando - um demônio com cabelos ruivos e chifres pequenos diz.
- Takeshi, o que quer?
- Sabe, eu tô planejando algo grande, tipo muito grande mesmo. Pra isso eu tô usando um garoto, vai ser fácil, porém demorado.
- Vá direto ao ponto.
- Queria que se afastasse do meu ponto - Takeshi diz, cruzando os braços. Ele era menor que Ryotaro, até mesmo bem mais jovem, mas não tinha medo.
- O quê?
- Olha, se tiver mais demônios onde eu tô trabalhando vai chamar muita atenção. E só pra você saber, tô naquela região há mais de 10 anos, então não estraga.
- Em primeiro lugar, você só ainda tá lá porque eu permiti, e em segundo, quem você pensa que é pra falar comigo assim? Eu sou superior a você, devia me respeitar, sabia? - Ryotaro se altera, chegando cada vez mais perto de Takeshi.
- Superior? Você ser príncipe não muda nada pra mim, afinal você só pegou esse cargo porque enterrou o último príncipe a 7 mil metros debaixo da terra - o demônio começa a rir. - Se liga, porque em pouco tempo eu vou tá no teu lugar, ou até mesmo a cima de você.
- Você acha mesmo que pode me superar? Você não passa de um garotinho assustado brincando de ser do mal, porque pelo que eu me lembre você só tá aqui porque achou que matando um dos Arcanjos ia se tornar um deles. Nem as bestas são tão burras quanto você!.
Takeshi cerra os punhos, e em um reflexo levanta a mão direita e acerta um soco no maxilar esquerdo de Ryotaro. O príncipe, em um movimento brusco, levanta Takeshi pelo pescoço e crava suas unhas em sua pele, fazendo sangue escorrer pelas suas mãos.
- Assim que eu me virar, vou esquecer que essa sua mão suja tocou em mim, mas agradeça por eu estar sendo tão bondoso.
Ryotaro joga o outro demônio para longe, que bate a cabeça em uma das árvores e começa a tossir sangue com as mãos sobre a boca.
Durante os seus 300 anos sendo Príncipe da Inveja, Ryotaro nunca havia sido desafiado como fora por Takeshi. O garoto, sendo jovem para um demônio, era ambicioso e traiçoeiro, e sabia que afetando Ryotaro talvez conseguisse tomar seu lugar.
Avareza, Gula, Inveja, Ira, Luxúria, Preguiça e Soberba, todos esses príncipes possuíam um papel no inferno, e a inveja era o único que o executava diferente dos outros. Ele olhava para os outros demônios e sempre desejava ser tão forte quanto, usando isso como motivação para fazer o mal.
- Desgraçado - Takeshi resmunga, enquanto se levanta. - Ele não sabe com quem tá se metendo.
O demônio abre as asas e começa a voar pelo alto rapidamente, chegando em questão de segundos nos portões do inferno. Ao ultrapassá-los, ele chega na terra. Não era tão diferente do inferno, só era bem mais barulhento e severo.
Ao adentrar na casa de Noriyuki, Takeshi passa a mão propositalmente em um copo, o derrubando no chão e despertando a atenção do garoto. Ele se levanta, assustado, e vai até a cozinha. Estar sozinho em casa só contribuía para que o medo fosse maior.
- Oi, amor - Takeshi diz, ao perceber que Noriyuki já conhecia vê-lo.
- Take - Noriyuki demonstra certa animação em reencontrar o demônio. - Você voltou.
- Eu disse que voltaria - o demônio caminha em direção à sala, sendo seguido pelo garoto. - E eu tenho novidades.
- É sobre o assassino do meu irmão?
- Uhum. Descobri onde ele vai estar amanhã, você só precisa escolher como quer acabar com ele.
- Como assim?
- Como quer matar ele, pode esfaquear ele, empurrar de um lugar alto... você decide, bebê - Takeshi passa as mãos levemente pelos lábios de Noriyuki, o fazendo estremecer.
- Mas... sou eu quem vai matar ele?
- É claro, a vingança é sua. E olha só, podemos fazer um estrago maior, tirando todas as pessoas ruins da escola. Tenho certeza que vão te agradecer.
- Acho que não posso fazer isso, é arriscado.
- Qual é, Yuki. Deve ter alguém ruim que você odeie da escola, não tem?
Noriyuki fica em silêncio, apenas recordando os momentos em que fora humilhados pelos meninos de sua sala. Eles xingavam, batiam, oprimiam, e com o tempo foi ficando pior, principalmente quando descobriram sua homossexualidade.
- Então, você vai acabar fazendo um favor para si mesmo. Pensa nisso, ok?
O garoto balança a cabeça positivamente, então o demônio se aproxima e cola seus lábios no dele. Noriyuki sempre fora um menino bom, mas tem guardado rancor por muito tempo e estava na hora de fazer algo por si, mesmo que isso lhe custasse tudo.
Assim que o beijo termina, Takeshi pula a janela da sala, sem se despedir do garoto. O demônio voa para um dos prédios que havia nas proximidades, aterrissando no térreo. O vento gelado devido à altura chicoteava sua pele, que já era extremamente fria, enquanto as nuvens impediam que o sol aparecesse.
- Você demorou - alguém que estava sentado na beira do edifício diz, se levantando.
- Estava resolvendo umas coisas. E as informações que pedi?
- Só tem dois anjos que rondam a escola diariamente, mas são um dupla de idiotas e você não vai ter problemas com eles - seus cabelos negros balançavam em sincronia com o vento, que ficava cada vez mais forte, enquanto as penas de suas asas brancas voavam em sincronia.
- Isso é ótimo, assim o caminho fica livre pra mim.
- Não totalmente livre.
- Quanto aos demônios que ficam por lá, relaxa, eu tô dando um jeito.
- Não tô falando dos demônios. Katsuo, já ouviu falar? É um ex anjo que caiu à pouco tempo, tá infiltrado na escola pra proteger um garoto. Se eu fosse você, ficava de olhos abertos com ele.
- Acha que pode resolver isso pra mim?
- Eu não sei... - ele para e fita o demônio, com os olhos escuros fixados nos seus. - É perigoso pra mim, sabe disso.
- Temos interesses em comum, eu quero me tornar um príncipe e você um arcanjo. Só vamos conseguir se nos ajudarmos.
- Tem razão. Vou tentar, só não prometo nada.
- Obrigado, Koji.
O anjo acena com a cabeça e abre as asas, sumindo de vista em questão de segundos. Takeshi sorri com a possibilidade de seu plano dar certo, se ele e Koji conseguirem podem acabar com as barreiras do céu e do inferno, juntando os dois em um só. Seria devastador para o mundo todo, e para ele, o início de um novo reinado.
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Lágrimas de um Anjo
RomanceKatsuo é um anjo da guarda e possui uma única missão: proteger Daisuke, um adolescente de 17 anos, de qualquer perigo ou tentação abominada por Deus, porém Katsuo acaba se acometendo a um dos pecados julgado um dos piores entre todos. Tendo se apaix...